São Paulo, quinta-feira, 22 de março de 2007

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Novo arcebispo quer melhorar ação na periferia e dar prioridade à PUC

D. Odilo diz que é preciso "arrumar" situação católica nas cidade e que universidade "receberá todas as atenções"

Religioso, que assume comando da arquidiocese paulistana em 29 de abril, afirma que faltam igrejas, comunidades e lideranças


FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

A primeira entrevista de d. Odilo Scherer, 57, como arcebispo eleito de São Paulo mostra que ele não pretende somente continuar o trabalho de seus antecessores d. Cláudio Hummes e d. Paulo Evaristo Arns na periferia da capital. Ele também quer expandir a influência do catolicismo nos setores que hoje são arredios à religião, como as universidades.
A posse do novo arcebispo acontecerá no próximo dia 29 de abril, às 15h, na Catedral da Sé. A Folha antecipou ontem, com exclusividade, a escolha do novo arcebispo da cidade.
"Os desafios sociais, a pobreza, a miséria, a violência não são unicamente missão da igreja. É o governo o principal responsável. A igreja não tem competência decisória, mas é parceira das ações de melhorias", disse d. Odilo, que acrescentou que a igreja precisa melhor "organizar sua presença nas periferias urbanas".
Sobre o diálogo com as universidades, ele destaca o papel da PUC-SP, que "precisa receber todas as atenções, pois é a presença da igreja no mundo universitário".
D. Odilo pretende ainda mobilizar cristãos leigos para que defendam o catolicismo no trabalho, nas escolas e no que chama de mundo da cultura. Ao explicar sobre o porquê dessa preocupação, afirmou: "Não conseguimos arrumar nossa situação dentro da complexidade das grandes cidades. Faltam igrejas, faltam comunidades e lideranças religiosas".
O novo arcebispo evitou falar sobre assuntos polêmicos para a igreja, como a camisinha. Preferiu defender valores. "A igreja mostra seus princípios, de acordo com o Evangelho de Jesus. Quem encontra o caminho de Deus consegue compreender o que se pode e o que não se pode. É uma decorrência desse caminho."
Afirmou, porém, que compreende as críticas feitas à igreja. "Entendo as dificuldades de se compreender a figura do papa em um mundo controvertido como o atual. Mas o papa interpreta o que diz o Evangelho. Não está na sua competência mudá-lo, mas adequá-lo de acordo com o tempo", disse. "Sabemos que contamos com incompreensão, mas temos que ser fiéis a Deus."

Cardeal e secretário
Após, no máximo, dois anos, d. Odilo será nomeado cardeal e terá direito tanto a escolher futuros papas como também poderá, ele mesmo, ser escolhido como sumo pontífice. Isso porque São Paulo é uma "sede cardinalícia": a igreja reconhece a importância de uma cidade e confere a seu arcebispo o título e os direitos de um cardeal.
Quando assumir SP, acumulará por alguns dias a função de arcebispo com a de secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que desempenha hoje. Ficará na entidade até maio, quando haverá eleição.
Na sua primeira entrevista como arcebispo, ontem, na sede da CNBB, em Brasília, elogiou Bento 16 pela sabedoria e ressaltou que o papa foi mal interpretado quanto às recentes críticas ao segundo casamento. "O santo padre não quis dizer que era uma praga. Foi um problema de tradução." D. Odilo também elogiou o antecessor em SP. Afirmou que "d. Cláudio fez um trabalho muito importante, levado adiante com muita perseverança e sofrimento".


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