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ELIO GASPARI
Boa notícia: o vestibular pode mudar
As notas do Enem poderão substituir o massacre
do decoreba e das pegadinhas da primeira fase
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NOSSO GUIA poderá livrar os jovens
da praga do vestibular. O ministro da Educação, Fernando Haddad, está concluindo uma negociação
com os reitores das universidades federais e é possível que já em 2010 a primeira fase seletiva seja substituída pela nota
do Exame Nacional do Ensino Médio, o
Enem. Apesar de haver ideias adicionais,
a mudança tende a começar pelo mais
simples. A cada ano, as 55 federais recebem em torno de 1,2 milhão de candidatos para 150 mil vagas. Numa primeira
fase, 70% deles são massacrados numa
prova mais preocupada em eliminar do
que em julgar. Adotando-se as notas do
Enem para a demarcação das linhas de
corte, leva-se para dentro das escolas a
responsabilidade pelo desempenho dos
alunos. Atualmente, a irracionalidade do
decoreba e das pegadinhas serve de álibi
para quem ensina mal. A segunda fase,
que cobraria taxas de inscrição, continuaria no âmbito das universidades.
Devem existir argumentos razoáveis
contrários à mudança, mas desde já seria
bom separá-los da defesa de interesses
estabelecidos. Algumas escolas não gostam do Enem porque ele expõe a má
qualidade do ensino que entregam. As
burocracias da organização dos vestibulares não gostam de mudanças porque
elas secariam uma fonte de arrecadação
e de distribuição de gratificações. Afinal,
quem paga o Enem é a Viúva.
UMA OBRA DO TAMANHO DO DR. ALCEU
Talvez seja um sinal de que
Deus existe. Numa época em
que os católicos brasileiros
se veem atirados em discussões sobre a utilidade das camisinhas, os poderes excomungantes de d. José Gomes
Sobrinho e o revisionismo
histórico do bispo inglês Richard Williamson (sagrado
por d. Antonio de Castro Mayer, prelado cismático da diocese de Campos), o professor
Candido Mendes publica seu
livro "Dr. Alceu da "persona" à
pessoa".
Candido Mendes escreveu
30 livros, mas "Dr. Alceu" é a
obra de sua vida. Trata da monumental figura de Alceu
Amoroso Lima (1893-1983),
seu amigo e mestre. Ele foi a
"trombeta bíblica" do laicato
brasileiro e atravessou a história da igreja do início do século 20, elitista, até reacionária, que se transformaria num
clero militante, defensor do
andar de baixo e, a partir de
1970, adversário assumido da
ditadura. O regime militar
ainda não completara cem
dias quando Dr. Alceu escreveu um artigo intitulado "Terrorismo Cultural". Dez anos
depois, ele brigava contra o
terrorismo da tortura e do extermínio de militantes da luta
armada e assinou "Os Esperantes". Referia-se ao sofrimento das famílias de cidadãos desaparecidos.
O livro de Candido Mendes
fixa-se no campo das ideias. É
daquelas obras torrenciais
que pede reflexão sem conceder o refrigério do cotidiano,
com seu tempero anedótico.
Projeto difícil, realiza-se porque mostra como "Dr. Alceu"
foi maior que a política em
que viveu. Foi um militante
por imposição do pensamento e da fé, seu interesse pela
ação era subsidiário.
Dr. Alceu teve algozes
e Nelson Rodrigues foi o
mais famoso deles. O outro foi
Gustavo Corção. A ele, sem
contar tudo o que sabe, o
professor dedica umas vassouradas, num capítulo intitulado "Da ordem ao dever da
delação".
Aos interessados, um aviso:
o livro exige atenção, algum
conhecimento da história da
época e uns dicionários. Alguns exemplos: o Jackson da
página 15 não é o do Pandeiro,
mas o líder católico Jackson
de Figueiredo; o cientificismo
lamarckiano da 39 nada tem a
ver com a VPR do capitão Carlos Lamarca, pois se refere ao
naturalista francês Lamarck.
"Patrística", que está logo
adiante, é o conjunto dos trabalhos filosóficos dos primeiros pensadores da igreja.
MP 449
O deputado Tadeu Felipelli
(PMDB-DF), que chegou a um
novo texto para a medida provisória 449 e concedeu um refresco amplo, geral e irrestrito
para sonegadores, poderia receber uma Emenda Obama.
Como há grandes, prósperas
e conhecidas empresas espetadas num contencioso de IPI
que não foi pago à Viúva, ficariam taxados em 90% os bônus
dos diretores daquelas que aderirem ao Trem da Alegria.
É o velho negócio: o andar de
cima brasileiro está cheio de
gente que é Obama por lá e
Bush por cá.
NATASHA E MANTEGA
Madame Natasha tem horror
a economia mas descobriu um
aliado recente no professor
Ilan Golfajn, ex-diretor do Banco Central. Ele ouviu o ministro Guido Mantega dizer que,
apesar da contração de 3,6% do
PIB no último trimestre de
2008, o cenário para este ano é
razoável, pois "ficaremos distantes de um déficit técnico".
Nas palavras do professor:
"Que diabos é um "déficit técnico'? Meu leitor, o termo "déficit
técnico" não existe. O que existe
é o termo recessão, que ocorre
tecnicamente quando há dois
trimestres seguidos de crescimento negativo".
Natasha acredita que o doutor Mantega está com déficit
técnico. De que, ainda não sabe.
Seu colega Eremildo, de
quem ela não gosta porque é
um idiota, suspeita que o Banco
Central passou a remarcar as
previsões de crescimento do
PIB pela técnica das liquidações do varejão. Baixou uma
previsão feita por seus sábios
de 1,2% para 0,59%. O cretino
acredita que daqui a pouco o
BC anunciará um PIB de 5,99%
em oito prestações anuais.
ENTRA E SAI
Pode-se entender melhor a
qualidade da base de apoio do
governo quando se vê que em
menos de um mês aconteceram
duas coisas:
1) O deputado Eduardo Cunha, um parlamentar de real
grandeza, defendeu a saída do
senador Jarbas Vasconcelos do
PMDB porque ele disse que
uma banda do partido gosta do
alheio.
2) Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, o Lord Keynes do
mensalão, foi a Brasília para cabalar o seu retorno ao partido,
do qual foi expulso.
O melhor seria chamar Jarbas para o PT, mandando Delúbio para o PMDB. Pode até dar
na mesma, mas anima o bailado.
O PREÇO DA QUEIXA
Coisas que acontecem quando uma pessoa entra no mundo
dos hospitais, passa pela banca
e termina no Judiciário. Em
1995, um professor aposentado
do Colégio Pedro 2º, de 90
anos, levou sua mulher, com
mais de 80, para uma consulta
na Clínica São Vicente. Durante o exame ela teve um desmaio
e acabou na UTI. Passadas 72
horas, sua família transferiu-a.
Sobrou uma conta de R$ 19 mil.
Inconformado com o custo, o
professor fez um depósito judicial no Banerj de R$ 20 mil e
passou a discutir o pagamento.
A senhora, o professor e o Banerj já morreram, e a conta de
R$ 19 mil virou uma cobrança
de R$ 60 mil contra o espólio.
Como a execução judicial esqueceu-se dos herdeiros do depósito de R$ 20 mil, ir à Justiça
resultou numa multa de 100%.
EL DEPORTADOR
Negociando com os arrozeiros de Roraima, o comissário
Tarso Genro deve perguntar
quantos deles gostariam de ir
para Cuba.
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