|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Governo vê em bingos porta para a lavagem de dinheiro
Para órgãos federais, estrutura de fiscalização é insuficiente para coibir crime
Reabertura de casas de jogo está na pauta de votação da Câmara; "projeto de lei prevê medidas de controle", dizem os defensores de liberação
JOHANNA NUBLAT
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O projeto que libera os bingos e as máquinas caça-níqueis
abre um precedente para práticas como lavagem de dinheiro
em razão da falta de estrutura
para fiscalização de jogos de
azar, segundo entendimento de
órgãos do governo.
O texto é listado como uma
das prioridades do semestre na
pauta da Câmara. Apenas
DEM, PSDB e PSOL são contrários à votação. A proposta
permite a abertura de casas exclusivas para bingos, videobingos e videojogo, onde poderiam
jogar maiores de idade não viciados em jogo. As casas terão
de devolver em prêmios entre
70% e 80% das apostas.
Entidades interessadas na
reabertura dos jogos fazem intenso lobby no Congresso. A
Abrabin (Associação Brasileira
dos Bingos) alega que a reabertura das casas irá criar 250 mil
empregos, diretos e indiretos, e
uma arrecadação anual de impostos de R$ 7 bilhões.
A questão é outra, segundo os
que se opõem aos jogos. "Ainda
não existem mecanismos de regulamentação e fiscalização suficientes capazes de evitar a
atuação lucrativa de organizações criminosas que tenham
potencial para atuar nessas atividades", afirmou Romeu Tuma Jr., secretário-executivo da
Enccla (fórum que reúne os
Três Poderes contra a lavagem
de dinheiro). Ele também é secretário nacional de Justiça.
Segundo a Folha apurou, os
ministérios da Justiça e da Fazenda têm restrição ao projeto
por entender que a falta de estrutura não permite fiscalização eficaz. Na última semana, a
Justiça atuou nos bastidores
para frear a votação do texto.
O presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, um dos órgãos
citados no texto para fiscalizar), Antonio Gustavo Rodrigues, afirma que o conselho,
com 40 funcionários, não tem
condições de assumir essa responsabilidade. "Não veria problema em aprovar o bingo, desde que se fizesse uma entidade
com a função de supervisioná-lo. Não é imaginar que a Receita ou o Coaf vão fazer isso."
Deputados levantaram a hipótese de jogar para a Caixa
Econômica Federal a responsabilidade pela fiscalização. A
CEF não respondeu à Folha.
O governo tem mantido distância do assunto, ainda mais
polêmico por ser ano eleitoral.
Além de não haver consenso no
Executivo, o tema está ligado
ao primeiro escândalo de corrupção do governo Lula.
Em 2004, após apoiar a regulamentação dos jogos de azar,
Lula baixou medida provisória
proibindo os bingos como resposta ao caso Waldomiro Diniz
-então assessor da Casa Civil
flagrado ao pedir propina e
doação a empresário do jogo.
Os defensores do texto dizem haver instrumentos previstos no projeto para evitar
crimes. "A Fazenda brasileira
vai se dizer menos competente
que as Fazendas da América
[que têm o jogo legalizado]?",
questionou Olavo Sales da Silveira, presidente da Abrabin.
A Fazenda e a Receita não se
manifestaram sobre o projeto.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Foco: Projeto quer fazer Garanhuns virar a Las Vegas brasileira Índice
|