São Paulo, domingo, 22 de março de 1998

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"Fernando Henrique traiu o Real", diz candidato do PPS

da Reportagem Local

Ciro Gomes, pré-candidato do PPS à Presidência, fala, a seguir, sobre as principais diretrizes de seu programa econômico de governo.

Qual é o Real de Ciro Gomes?
Ciro Gomes -
A prioridade da minha política econômica é que a lógica produtivista substitui a atual lógica financista. O presidente Fernando Henrique traiu o Plano Real, causando o colapso da produção e o drama social.
Folha - Como sua política econômica se traduz na prática?
Ciro -
Primeiro, na negociação, sem ruptura de contratos, do atual perfil do endividamento do setor público. Isso porque o juro da dívida é a principal despesa fiscal do país. Tudo isso vai ser oferecido como uma solução complexa.
Por quê?
Ciro -
Porque o Fernando Henrique arruinou o Brasil. Quando introduzimos o Real, a idéia era usar a privatização para abater a dívida pública. Mas o presidente não fez isso. Se tivesse feito, teria abatido 78% da dívida. Ele expandiu loucamente a dívida, que saltou de R$ 61 bilhões , em 94, para R$ 257 bilhões, em janeiro de 98, e está crescendo aceleradamente.
Folha - E na área da receita?
Ciro -
Proponho elevar a receita pública para 33% do PIB, desonerando, porém, a produção.
Folha - Como?
Ciro -
Por meio de um modelo tributário de cinco impostos, incidentes sobre o consumo e a apropriação especulativa de propriedade e capital.
Folha - Quais?
Ciro -
O IVA , que é o Imposto sobre o Valor Agregado, cobrado centralmente, no destino, com alíquota alta, de 25%, excluindo-se a cesta básica e os aluguéis.
Um imposto seletivo sobre o consumo de bens e serviços específicos, tais como armas e munições, bebidas, cosméticos, cigarros, carros de passeio e serviços privatizados de distribuição de energia e telecomunicações. Um imposto direto progressivo sobre o consumo nas faixas de consumo mais alta.
Um imposto sobre heranças e doações, cujo produto de arrecadação lastrearia um programa de renda mínima.
E, finalmente, um imposto de incidência local, não-declaratório, sobre a propriedade territorial urbana e rural.
Folha - E como o sr. pretende enfrentar a questão dos juros altos?
Ciro -
Os juros cairão à medida que diminuir o déficit público. Fora disso não há chance
Folha - E o câmbio?
Ciro -
O paradigma é que o Brasil precisa acelerar minidesvalorizações. Nada espetacular, nada que assuste e nada de maxidesvalorizações. A máxi não pode acontecer porque isso significa a volta da inflação e um brutal arrocho salarial.
Folha - Qual sua proposta para o crescimento econômico?
Ciro -
O crescimento é consequência desse silogismo: só haverá crescimento se houver investimento e poupança interna. Capital se faz em casa, é um truísmo que vou repetir na campanha.
Folha - Como o sr. pretende criar empregos no país?
Ciro -
Pretendo atacar a questão em duas frentes. Uma é a estratégica. Vou propor um modelo de Estado e de desenvolvimento para o Brasil, que vai demandar algum tempo para maturação.
A curto prazo, três providências: a promoção do turismo, a destinação de recursos da verba governamental, chamada transferências voluntárias, de quase R$ 4,5 bilhões, para aplicações em habitação popular e saneamento básico -isso mata três coelhos com uma só cajadada: abre caminho para 6 milhões de moradias para famílias sem teto, melhora a condição sanitária e emprega mão-de-obra não-qualificada. E a terceira seria o aceleramento da reforma agrária, pensando, primeiro, no emprego de subsistência.
Folha - E a Previdência Social?
Ciro -
Estou propondo um novo modelo para o financiamento da Previdência Social. Um modelo que substitua o atual sistema de repartição, que é deficiente. Tem de ser uma poupança pública compulsória, mas posta sob gestão pública, e não estatal.
A incidência tributária previdenciária no meu projeto deixa de ser sobre a folha de pagamento do pessoal e passa a ser sobre o faturamento líquido das empresas.
Folha - O programa de privatizações seria mantido?
Ciro -
A privatização, para mim, só faz sentido, se fizer parte de um projeto nacional de desenvolvimento. Nisso não cabe preconceito.
Não há contradição alguma em privatizar aqui e fazer estatal acolá. Esse é o caso do setor siderúrgico. Privatizado no Sudeste, pode ser estatal no Nordeste. O setor de telecomunicações tem de ser privado porque o volume de capital e a ciclagem tecnológica são de tal forma volumosas que estão longe das posses do Estado.
A Petrobrás precisa ser exposta à competição, mas não privatizada. Precisa ser obrigada a ganhar produtividade, acabar com os abusos corporativos e, sobretudo, é preciso impedir cartelização interna da Petrobrás.
Folha - Qual é a sua meta para o crescimento econômico?
Ciro -
O Brasil precisa crescer a uma taxa anual de 6% porque é isso que nos permite visualizar a criação de 1,9 milhão de empregos por ano.



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