São Paulo, domingo, 22 de março de 1998

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JANIO DE FREITAS
O prejuízo liberado

Os problemas, muitos graves e muitos definitivos, causados em uma infinidade de automóveis pelas misturas clandestinas no combustível são de responsabilidade pessoal e administrativa bem definida. E, portanto, passível de condenação ao ressarcimento dos prejuízos de donos de automóveis.
Sem que algum problema real recomendasse modificação no fornecimento de combustível aos postos de abastecimento, o ministro das Minas e Energia, Raimundo Brito, e o presidente da República os dispensaram de comprar gasolina da marca, chamada bandeira, ostentada em seus letreiros -Petrobrás, Esso, Shell e outras. Os postos foram declarados livres para comprar em quem lhes vendesse pelo menor preço, e não mais pela qualidade.
Dispensados de comprar em fornecedor identificável pelo consumidor, os postos deixaram proliferar, em troca de bom preço, os adulteradores de combustível. Eles compram a gasolina que antes era servida aos consumidores, nos postos obrigatoriamente "de bandeira", e adicionam-lhe solvente de tinta, detergente ou outro aditivo barato. Assim a quantidade de suposto combustível aumenta muito, para venda aos postos, que, por sua vez, pagam menos e têm mais lucro.
E os donos de carro pagam três vezes: ao dono do posto, ao dono da oficina aonde o carro acabará indo e aos governantes que lhe causam o prejuízo com medidas de liberação consideradas, desde sua origem mal explicada, muito suspeitas.
Para quem tanto paga, nada mais razoável do que a devida indenização.
Sem saúde
Já a primeira hipótese era inquietante: os vastíssimos problemas da Saúde, difíceis mesmo para um médico, entregues a um engenheiro com a vocação tecnocrática aprimorada por estudos em economia. A "solução" foi propalada com insistência diária, como requeriam a rasteira palaciana no ministro Carlos Albuquerque e o lobby de José Serra na imprensa, mas se manteve incompleta.
Nos exames daquela hipótese no governo, com a participação de alguns parlamentares, é mencionado um complemento hipotético ainda mais aterrador: a fusão dos ministérios da Saúde e da Previdência. Nesta segunda hipótese está a causa, ou parte substancial dela, do desagrado pefelista com a rasteira em Carlos Albuquerque. Se José Serra, por si só, já arrepia o PFL, com os dois ministérios fundidos teria um poder político que excede muito a tolerância dos líderes pefelistas.
Fernando Henrique Cardoso não permitiu que Adib Jatene pudesse se dedicar ao conjunto de idéias que levou para o Ministério da Saúde. Substituiu-o por uma indicação de Paulo Renato Souza, da Educação, que resultou igualzinho ao indicador. Quase a meio do último ano de mandato, diz querer soluções concretas para a Saúde -aquelas que Jatene buscou e lhe foram negadas.
Explica-se que nem um só dos problemas -endemias, epidemias, recursos para os hospitais, número necessário de médicos, disponibilidade de remédios e equipamentos na rede pública- apresente algum resultado positivo. Todos exibem números, dramas e tragédias agravados pelo atual governo.
Useiro
Divulgado o próximo leilão de sua casa em Brasília, cujo resultado será entregue à Caixa Econômica Federal, o deputado luso-baiano José Lourenço passou a explicar-se com inflamados comícios contra os juros, que teriam inviabilizado o pagamento de sua dívida.
A dívida tem mais de dez anos. O devedor em questão apóia, na Câmara, tudo o que é governista, inclusive a política que precisa de juros extorsivos. E, para encerrar por ora, tomar empréstimos e ficar devendo a instituições financeiras governamentais é um hábito antigo de José Lourenço. Como se pode constatar, por exemplo, de suas velhas relações com o banco estatal da Bahia.



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