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PERSONALIDADE
Infartos do miocárdio são mais fatais para pacientes jovens; estresse e fumo complicaram o quadro
Ausência de sintoma pode ter agravado caso
CYNARA MENEZES
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
A ausência de sintomas anteriores e a soma de fatores de risco
-fumo, estresse, hipertensão, colesterol alto e histórico familiar-
podem ter transformado um acidente vascular controlável no in-
farto que matou o deputado Luís
Eduardo Magalhães ontem.
A opinião é partilhada por vários
médicos ouvidos pela Folha.
Quando um paciente tem uma
obstrução parcial da coronária, o
organismo vai formando artérias
colaterais por onde passa o sangue.
Nesse caso, a pessoa é alertada
pela angina, ou dores no peito, o
que não aconteceu com o deputado.
Luís Eduardo começou a se sentir mal por volta do meio-dia, foi
ao serviço médico da Câmara e só
deu entrada no Hospital Santa Lúcia às 14h30.
"Em um indivíduo jovem, o
processo de infarto é muito rápido", disse o cardiologista Iran
Castro, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Normalmente, a lesão cardíaca
evolui lentamente, como geralmente ocorre com pessoas mais
velhas vítimas de doenças cardíacas desse tipo.
"Ele teria que ser submetido
imediatamente a trombolíticos,
medicamentos que dissolvem os
coágulos, ou a uma angioplastia,
como foi tentado", afirmou Castro.
Juventude
Para o cardiologista, na verdade
o fato de ser jovem foi um complicador para Luís Eduardo. "O
indivíduo mais velho desenvolve
vasos colaterais que ajudam a circulação. Além disso, num indivíduo jovem, a placa de aterosclerose é tão pequena que não aparece
em nenhum exame".
Ele acha que houve um "exagero" por parte do deputado nos
exercícios físicos na manhã de ontem -caminhou o dobro que de
costume-, mas não acredita em
uma ligação direta com o infarto.
Daniel Magnoni, cardiologista
do Hospital do Coração, explica
que sempre que há o rompimento
de uma placa ocorre um processo
de cicatrização que leva a uma
oclusão, ou bloqueio, coronariano.
Diante do quadro, os médicos
tentaram uma trombólise mecânica -ou cateterismo- usando um
cateter balão (espécie de sonda
com um balão na ponta) para desobstruir a coronária.
O deputado pode ter morrido
porque o procedimento não teve
sucesso e o infarto evoluiu. Pode
também ter morrido em conseqûência de uma arritmia de reperfusão, como os médicos chamam
uma fibrilação ventricular, quando há contrações excessivamente
rápidas.
Décio Mion, chefe da Liga de Hipertensão do Hospital das Clínicas, disse que a soma dos fatores
de risco é certamente a causa de
infartos desse tipo. Segundo ele,
estudos mostram que uma hipertensão não tratada envelhece uma
artéria em pelo menos 20 anos.
Estresse
Mion diz que o fato de caminhar
todos os dias era um fator positivo
para o deputado. Mas o fumo em
excesso, a vida estressada, os níveis altos de colesterol e triglicérides, além da hipertensão, o colocavam em posição de grande risco. Segundo amigos, Luís Eduardo chegava a fumar dois maços de
cigarros por dia.
Esse quadro -seguando os médicos- pode levar a uma aterosclerose, ou placa de gordura aderida à parede das artérias.
A cardiologista baiana Lucélia
Cunha Magalhães, que foi colega
de Luis Eduardo no segundo grau
em Salvador, acha que o deputado
"estava sendo submetido a um
estresse psíquico muito grande" e
que a caminhada puxada pela manhã foi "uma sobrecarga física"
que pode ter acelerado o processo
de infarto.
Segundo ela, "não é raro que
infartos aconteçam durante exercícios pesados". O normal é andar
de 40 a 50 minutos diários, nunca
se deve ultrapassar este limite",
disse.
"Ele deveria ter feito exercícios com acompanhamento médico", afirmou a médica.
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