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GOVERNO
Na Espanha, presidente tenta evitar pressão aliada para abocanhar ministério deixado pelo amigo morto
FHC rejeita negociação sobre vaga de Motta
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Madri
Mal desceu em Madri do Boeing
presidencial KC-137, o presidente
Fernando Henrique Cardoso fez
questão de mandar um recado para a sua base de sustentação política:
"Quero deixar bem claro o seguinte: o ministro das Comunicações é escolha pessoal minha. Tem
a ver com um processo importante, técnico, de ordem econômica, e
não está submetida a nenhuma
negociação de nenhum tipo."
O recado tem o claro objetivo de
cortar especulações, já presentes
nos jornais de ontem, a respeito
do apetite do PFL pelo cargo deixado vago com a morte de seu titular, Sérgio Motta.
O PFL, por meio do hoje senador
Antonio Carlos Magalhães (BA),
comandou a pasta das Comunicações durante todo o governo José
Sarney e, indiretamente, no governo Fernando Collor.
Mas a mensagem do presidente
parece destinar-se, igualmente, a
evitar o confronto que se produziu
na sua base política assim que o
senador José Serra (PSDB-SP) foi
designado ministro da Saúde.
Os demais partidos governistas
assanharam-se para abocanhar
cotas de poder, no pressuposto de
que o PSDB ficara fortalecido.
Hoje, o governo já avalia, pelo
menos na intimidade, que o resultado da reforma foi um desastre
para a sua imagem, ao explicitar a
voracidade dos aliados do presidente e a barganha decorrente.
Por isso, FHC quer evitar que a
substituição de Motta dê origem a
outra batalha interna desgastante.
O condomínio
De todo modo, a substituição de
Motta, do ponto de vista administrativo, está razoavelmente definida: haverá uma espécie de condomínio entre o presidente do
BNDES, Luiz Carlos Mendonça de
Barros, e o ministro interino Juarez Quadros.
O próprio presidente indicou,
no desembarque em Madri, essa
solução: "Desde antes da morte
do Sérgio, quem estava supervisionando (o processo de privatização das telecomunicações) era o
Mendonça de Barros, e o ministro
interino que lá está e vai continuar
é uma pessoa com muita afinidade
com o programa do governo".
O presidente só não disse se
Quadros fica como ministro interino até a escolha de um substituto
ou se será efetivado no cargo.
"Vou ver na minha volta, mas
não creio que haja necessidade de
pressa nessa matéria", afirmou.
Fez questão de dizer: "A linha
da privatização é minha, é do governo e vai continuar da mesma
maneira".
Se a lacuna administrativa deixada por Motta é tida como preenchida no governo, com Quadros
efetivado ou substituído por alguma escolha de FHC, o mesmo não
acontece em relação ao vazio político deixado pelo mais próximo
amigo do presidente.
Um vazio triplo, aliás: no relacionamento do governo com o
Congresso e os partidos, no PSDB
e no comando da campanha presidencial à reeleição.
José Gregori, secretário de Direitos Humanos do governo e do círculo de amigos do presidente, admite que essa lacuna é difícil de
preencher. Imagina até que ela será coberta via conquista de espaço
por alguma personalidade tucana,
em vez de por indicação.
Entre os nomes mais cotados para ocupar pelo menos parte do espaço de Motta o mais destacado é
o do ex-deputado Pimenta da Veiga, que deixou a presidência do
PSDB por causa de um atrito com
o próprio Motta.
O outro nome mais falado, o do
governador Tasso Jereissati (CE),
tem o inconveniente de que é o
único candidato do PSDB com
chances de vencer a eleição no
Ceará.
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