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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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PT X PT

"Não esperávamos uma reação tão violenta", diz Luciana Genro; radicais agora lamentam repercussão do episódio

Para Helena, exibição de fita a prejudicou

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Sob ameaça de expulsão do PT, a senadora Heloísa Helena (AL) disse ontem que a divulgação de críticas feitas em 1987 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a aspectos do projeto de reforma da Previdência do atual governo pretendia contribuir para sua absolvição, mas acabou atrapalhando.
"Foi um gesto para ajudar, do mesmo jeito que a coleta das assinaturas no Senado na semana passada. Mas acabou produzindo o efeito contrário", declarou. "O clima, a turbulência está tanta que os gestos diversos para ajudar acabam criando mais tumulto."
O material, que reproduz um discurso feito por Lula em Aracaju, foi distribuído pelo deputado João Fontes (PT-SE), hoje um dos maiores críticos do governo.
Ao lado de Fontes no momento da divulgação da fala de Lula estava a deputada federal Luciana Genro (RS), que, assim como o deputado João Batista Oliveira de Araújo, o Babá (PA), e a senadora Heloísa Helena, está sendo submetida a processo disciplinar na Comissão de Ética petista.
A primeira audiência sobre o caso acontece no próximo domingo, em São Paulo.
Na fita de vídeo, no livro e no áudio divulgados por Fontes, Lula, que defendia os projetos do PT para a reforma da Constituição, critica o limite mínimo de idade então sugerido para a aposentadoria -48 anos para mulheres e 53 anos para homens.
A proposta enviada pelo governo ao Congresso Nacional, entretanto, é ainda mais rigorosa, prevendo limites mínimos de idade de 60 anos para os homens e de 55 anos para as mulheres.
Na ocasião, Lula ainda atacou a TV Globo e o atual presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney (PMDB-AP), então presidente da República e hoje um de seus maiores aliados.

Desamparo
Luciana Genro disse ontem que a iniciativa da divulgação do material foi de Fontes. "Soube que ele faria isso, apoiei, mas presenciei a divulgação por acaso."
Apesar disso, a deputada reiterou seu apoio ao colega, dizendo que não pretendia fazer com que ele se sentisse "desamparado".
De acordo com Luciana, com o discurso, pretendia-se apenas neutralizar as críticas da cúpula petista contra o fato de Heloísa Helena ter se recusado a votar em Sarney para a presidência do Congresso Nacional.
"Sabíamos que eles [da direção] não iam gostar, mas não esperávamos uma reação tão violenta, que isso fosse ser considerado uma ofensa ao presidente. Não vejo ofensa nenhuma. O objetivo era dizer que não votar em Sarney é plenamente justificável."
A deputada preferiu não se manifestar sobre o impacto da iniciativa na evolução de seu caso na Comissão de Ética. "Ainda não sei. Preciso avaliar."
Já o deputado Lindberg Farias (RJ), excluído do processo disciplinar apesar de suas críticas frequentes ao governo, considerou a medida um "erro político".
"Estamos na linha de acalmar os ânimos e não de acirrá-los. Deu uma atrapalhada", disse ele. "Porque qualquer movimento para acirrar a crise atrapalha. É preciso ter maturidade", completou.
Na avaliação de Lindberg, que declarou pretender deixar o PT caso Heloísa Helena seja realmente expulsa da legenda, a figura de Lula deveria ser considerada um "patrimônio intocável" no conflitos entre os radicais e o PT.
"Condeno a atitude porque quero uma saída negociada. Disse isso ao João Fontes, mas sou contra os ataques a ele."


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