São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Silas e Dilma

O governo fará todo o possível para caracterizar Silas Rondeau exclusivamente como "homem do Sarney", esforço facilitado pelo fato de que a ligação entre o ministro colhido pela Operação Navalha e o senador é antiga e profunda. O objetivo de martelar essa tecla é manter no oblívio um outro aspecto igualmente verdadeiro: a proximidade de Silas com Dilma Rousseff, que ao trocar a pasta das Minas e Energia pela Casa Civil trabalhou tanto quanto Sarney para que o então presidente da Eletronorte viesse a sucedê-la.
No que depender do governo, memórias como a de que Rondeau "ganhou a confiança de Dilma" e "faz tudo o que a ministra pede", freqüentes no noticiário pré-escândalo, serão deletadas por completo.

Em campo. Dilma Rousseff conversou com muita gente no final de semana para tomar a temperatura do estrago provocado pela Operação Navalha no setor elétrico. Quem ouviu a ministra a descreveu como "apreensiva".

Arauto. Se Silas Rondeau resistir à madrugada, encontrará hoje Tarso Genro, encarregado por Lula de "formar uma convicção" sobre o titular das Minas e Energia. Embora o ministro da Justiça se apresse em dizer que só há "indícios" contra Silas, chama de "exemplar" o trabalho da PF na Operação Navalha.

Longa data. As relações entre a senadora Roseana Sarney e Zuleido Veras, empreiteiro que está no centro do escândalo, remontam a pelo menos 1998, ano de sua primeira eleição ao governo do Maranhão. Ele participou da campanha.

Bala perdida. Delcídio Amaral (MS) é muito amigo de arquiinimigos de Zuleido Veras. Empenhados em varrer do mercado o proprietário da Gautama, eles não esperavam ver o senador petista atingido no tiroteio.

Desenvoltura. O lobista Sérgio Sá, preso por intermediar recursos do programa Luz para Todos para a Gautama, é figurinha fácil no Congresso, onde diz a quem quiser ouvir ser próximo de senadores como José Sarney (PMDB-AP) e Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA).

Bate-papo. Na semana passada, quando foi informado do mandado de busca e apreensão conduzido na sede de sua empresa, Zuleido Veras estava no escritório do deputado Paulo Magalhães (DEM-BA), que, de acordo com a PF, havia recebido do empreiteiro R$ 20 mil.

Sem licitação 1. Segundo o inquérito da PF, o ex-secretário de Infra-Estrutura de Alagoas preso pela PF, Adeilson Bezerra, pediu a Zenildo garotas de programa para um encontro de secretários estaduais em abril deste ano.

Sem licitação 2. O empreiteiro repassou a incumbência ao diretor financeiro da Gautama, Gil Jacó Carvalho Santos, também preso. "Apesar dos esforços" de Gil, afirma a PF, Adeilson reclamou a Zuleido porque as moças "não eram de qualidade".

Em casa. O diretor do centro de convenções de Alagoas, João Ferro Novaes Neto, suposto intermediário entre Zuleido e Teo Vilela (PSDB), mora no 8º andar de um edifício à beira-mar em Maceió. Seu vizinho do andar abaixo é o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Amigo de infância do governador tucano, Neto trabalhou na arrecadação de sua campanha em 2006.

Lei do silêncio. Não se encontra no PSDB um único cardeal disposto a se manifestar publicamente sobre a situação de Teo Vilela.

Roteiro único. Aécio Neves abraça hoje o Cristo Redentor como parte da campanha para tornar o monumento do Rio uma das novas sete maravilhas do mundo. José Serra, o outro presidenciável tucano, faz o mesmo amanhã.

Tiroteio

No Brasil as empreiteiras não respeitam nem as religiões. Após horrorizar budistas ao mostrar as ações da Gautama, só falta a PF descobrir alguma empresa Cristo Rei ou Só Alá é Grande.
Do historiador MARCO ANTONIO VILLA sobre a empresa que está no centro da Operação Navalha por comandar desvios de verbas em obras públicas, cujo nome é inspirado em Sidarta Gautama, o Buda.

Contraponto

Traço distintivo

Em 1988, o hoje deputado estadual Pedro Tobias (PSDB) se elegeu vereador em Bauru (SP). Logo depois da posse, seu irmão Moussa Tobias foi abordado na rua.
-Quem bom que o senhor ganhou!-, festejou o eleitor.
-Desculpe, mas sou apenas irmão do Pedro.
-Ah, não diga isso. Sei que o senhor é mão fechada, mas bem que poderia me ajudar com um dinheirinho...
Impaciente, Moussa retirou algumas notas do bolso e entregou ao homem, que comentou:
-É, o senhor não é mesmo o Pedro...
-Ah, é? Como o senhor se convenceu?
-Se fosse o vereador, me daria uma nota só.


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