São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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"Tenho biografia a zelar", diz Rondeau após reunião de meia hora com Lula

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RODRIGO RÖTZSCH
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO

O presidente Lula teve ontem de manhã em Assunção uma reunião a sós, de cerca de 30 minutos, com Silas Rondeau. O ministro deixou o encontro muito abalado, segundo apurou a Folha. Anteontem à noite, Lula assistiu, no Paraguai, à reportagem do "Fantástico", da TV Globo, com as gravações que mostram uma integrante do esquema desbaratado pela Operação Navalha levando uma mala que conteria R$ 100 mil ao ministério comandado por Rondeau. O dinheiro seria propina para que a construtora Gautama fosse escolhida para efetuar obras do programa "Luz Para Todos", abrigado no Ministério de Minas e Energia.
No palácio do governo paraguaio, Lula se negou a falar sobre o caso de Rondeau, peça-chave da visita -ele assinou um acordo de incentivo à produção de biococombustíveis no Paraguai, antes de seguir para a cerimônia de inauguração de duas novas turbinas de Itaipu.
A entrevista foi prematuramente interrompida. Só a Folha e dois jornalistas paraguaios puderam questionar Lula. A coletiva foi encerrada antes de uma quarta pergunta, que seria feita pela TV Record. Questionado sobre Rondeau, Lula afirmou: "Essa é uma das coisas que aprendi com o [ex-] presidente Chirac: a gente não discute problemas internos de um país quando está em outro.
Daqui a três ou quatro horas estarei no lado brasileiro de Itaipu, e quem sabe aí vocês poderiam fazer quantas perguntas quisessem sobre a Operação Navalha". Em Foz do Iguaçu, porém, ele não deu entrevistas.
Rondeau falou com a imprensa nos dois lugares. Em Assunção, afirmou desconhecer acusações contra ele. "Isso não existe. Voltarei ao Brasil e tratarei disso lá." Disse ser vítima vítima de um "prejulgamento", que qualificou de "coisa horrível". Deixou em aberto a possibilidade de deixar o ministério. "Acho isso um processo extremamente nocivo. Cabe realmente a todo ritual da Justiça confirmar e esclarecer, mas não posso me deixar envolver.
Tenho uma história e uma biografia a zelar, que estão acima do cargo, de tudo."
Em Foz do Iguaçu, Rondeau disse que marcou uma audiência com Lula para hoje. "Determinei uma auditoria especial e estamos abrindo um processo administrativo disciplinar. Se houve incúria, os responsáveis serão punidos."
Responsável pela indicação do ministro, o senador José Sarney (PMDB-AP) o defendeu. "Considero as investigações de grande relevância. Mas creio na inocência do Silas, ele tem uma vida série e honesta."
Amigos do ministro, porém, levantam dúvidas sobre o inquérito da PF. Alegam que os agentes trabalham somente com suposições e que não há nenhuma prova contra ele.
O ministro Tarso Genro (Justiça), responsável pela PF, afirmou que "não há nenhuma prova física de entrega e de comprometimento presencial do ministro", contestando parte do relatório da polícia.
Disse ainda não haver uma lista de políticos com relação de propinas. Segundo ele, a relação encontrada pela PF nos escritórios da Gautama refere-se a pessoas que receberam brindes da empreiteira.
Durante seminário em Belo Horizonte, os dois últimos antecessores de Lula defenderam o afastamento de Rondeau. "O presidente da República tem que ser direto. Se tem gente que é ministro e está sendo questionado, tem que tomar medidas", afirmou Fernando Henrique Cardoso. "Caberia ao ministro sair, se defender fora do governo e, inocente, voltar", disse Itamar Franco.


Colaboraram PEDRO DIAS LEITE, da Sucursal de Brasília, JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha, em Foz do Iguaçu, e PAULO PEIXOTO, da Agência Folha, em Belo Horizonte

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