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"Tenho biografia a zelar", diz Rondeau após reunião de meia hora com Lula
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
RODRIGO RÖTZSCH
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
O presidente Lula teve ontem de manhã em Assunção
uma reunião a sós, de cerca de
30 minutos, com Silas Rondeau. O ministro deixou o encontro muito abalado, segundo
apurou a Folha.
Anteontem à noite, Lula assistiu, no Paraguai, à reportagem do "Fantástico", da TV
Globo, com as gravações que
mostram uma integrante do
esquema desbaratado pela
Operação Navalha levando
uma mala que conteria R$ 100
mil ao ministério comandado
por Rondeau. O dinheiro seria
propina para que a construtora
Gautama fosse escolhida para
efetuar obras do programa
"Luz Para Todos", abrigado no
Ministério de Minas e Energia.
No palácio do governo paraguaio, Lula se negou a falar sobre o caso de Rondeau, peça-chave da visita -ele assinou
um acordo de incentivo à produção de biococombustíveis no
Paraguai, antes de seguir para a
cerimônia de inauguração de
duas novas turbinas de Itaipu.
A entrevista foi prematuramente interrompida. Só a Folha e dois jornalistas paraguaios puderam questionar Lula. A coletiva foi encerrada antes de uma quarta pergunta,
que seria feita pela TV Record.
Questionado sobre Rondeau,
Lula afirmou: "Essa é uma das
coisas que aprendi com o [ex-]
presidente Chirac: a gente não
discute problemas internos de
um país quando está em outro.
Daqui a três ou quatro horas estarei no lado brasileiro de Itaipu, e quem sabe aí vocês poderiam fazer quantas perguntas
quisessem sobre a Operação
Navalha". Em Foz do Iguaçu,
porém, ele não deu entrevistas.
Rondeau falou com a imprensa nos dois lugares. Em Assunção, afirmou desconhecer
acusações contra ele. "Isso não
existe. Voltarei ao Brasil e tratarei disso lá." Disse ser vítima
vítima de um "prejulgamento",
que qualificou de "coisa horrível". Deixou em aberto a possibilidade de deixar o ministério.
"Acho isso um processo extremamente nocivo. Cabe realmente a todo ritual da Justiça
confirmar e esclarecer, mas
não posso me deixar envolver.
Tenho uma história e uma biografia a zelar, que estão acima
do cargo, de tudo."
Em Foz do Iguaçu, Rondeau
disse que marcou uma audiência com Lula para hoje. "Determinei uma auditoria especial e
estamos abrindo um processo
administrativo disciplinar. Se
houve incúria, os responsáveis
serão punidos."
Responsável pela indicação
do ministro, o senador José
Sarney (PMDB-AP) o defendeu. "Considero as investigações de grande relevância. Mas
creio na inocência do Silas, ele
tem uma vida série e honesta."
Amigos do ministro, porém,
levantam dúvidas sobre o inquérito da PF. Alegam que os
agentes trabalham somente
com suposições e que não há
nenhuma prova contra ele.
O ministro Tarso Genro
(Justiça), responsável pela PF,
afirmou que "não há nenhuma
prova física de entrega e de
comprometimento presencial
do ministro", contestando parte do relatório da polícia.
Disse ainda não haver uma
lista de políticos com relação de
propinas. Segundo ele, a relação encontrada pela PF nos escritórios da Gautama refere-se
a pessoas que receberam brindes da empreiteira.
Durante seminário em Belo
Horizonte, os dois últimos antecessores de Lula defenderam
o afastamento de Rondeau. "O
presidente da República tem
que ser direto. Se tem gente que
é ministro e está sendo questionado, tem que tomar medidas",
afirmou Fernando Henrique
Cardoso. "Caberia ao ministro
sair, se defender fora do governo e, inocente, voltar", disse
Itamar Franco.
Colaboraram PEDRO DIAS LEITE, da Sucursal
de Brasília, JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha,
em Foz do Iguaçu, e PAULO PEIXOTO, da Agência Folha, em Belo Horizonte
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