São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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Quadrilha também agia na Fazenda, diz PF

Inquérito relata que esquema fazia lobby no Tesouro com o objetivo de liberar recursos para obras de interesse da Gautama

Ministério da Fazenda diz que apenas repassa dinheiro e não responde pelo destino que as outras pastas dão aos recursos usados nas obras


RANIER BRAGON
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A quadrilha investigada pela Polícia Federal na Operação Navalha fazia lobby também no Ministério da Fazenda, mais especificamente na Secretaria do Tesouro Nacional, indicam trechos do inquérito sigiloso aos quais a Folha teve acesso.
O relatório, de 8 de maio, afirma que, além da existência da já divulgada influência no Ministério do Planejamento, o esquema agia na Secretaria de Tesouro como forma de obter recursos públicos para as obras de interesse da Gautama, a construtora apontada como a coordenadora da fraude.
"[Os representantes da Gautama] agem junto ao Ministério do Planejamento (Ernani Soares) para obter previsão orçamentária e também junto ao Ministério da Fazenda, em especial, à Secretaria do Tesouro Nacional (Roberto Figueiredo), para a liberação imediata do recurso", diz o relatório.
As duas pessoas citadas são 1) Ernani Soares Gomes Filho, funcionário do Planejamento cedido à Câmara dos Deputados e 2) Roberto Figueiredo Guimarães, secretário do Tesouro no governo Fernando Collor de Mello (1990-1992) e até a semana passada presidente do BRB (Banco Regional de Brasília). Eles foram presos na Operação Navalha.
O relatório da PF não detalha como funcionaria o lobby, sinalizando apenas que Guimarães, por ter sido secretário do Tesouro na década de 90, continuaria a influenciar o órgão.
"Na maioria das vezes, [os representantes da Gautama] elaboram os próprios planos de trabalho, apresentando-os ao ministério respectivo", diz o relatório. De acordo com as investigações, a rede de influências da Gautama atingia, além de Planejamento e Fazenda, Minas e Energia, Cidades e Integração Nacional.

Outro lado
A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda informou que a "Secretaria do Tesouro Nacional somente libera recursos para os ministérios setoriais. Cabe, exclusivamente, aos ministérios setoriais e seus gestores a destinação dos recursos transferidos".
O Ministério do Planejamento diz desconhecer a atuação de Ernani Soares -cedido à Câmara há vários anos- em suas dependências e afirma que cabe a cada ministério a condução e fiscalização das obras.
O advogado José Eduardo Alckmin, um dos que defendem Roberto Guimarães, afirmou ontem que as suspeitas relativas ao caso estão tomando um contorno histérico.
"É só dizer que é Gautama que é ilícito? É entranhável uma acusação ser feita dessa forma, sem se apontar o funcionário público que liberou o recurso, se ele está sendo acusado de irregularidade", disse o advogado. "Acompanhar liberação de recurso em órgão público é algo perfeitamente lícito", concluiu ele.


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