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Quadrilha também agia na Fazenda, diz PF
Inquérito relata que esquema fazia lobby no Tesouro com o objetivo de liberar recursos para obras de interesse da Gautama
Ministério da Fazenda diz que apenas repassa dinheiro e não responde pelo destino que as outras pastas dão aos recursos usados nas obras
RANIER BRAGON
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A quadrilha investigada pela
Polícia Federal na Operação
Navalha fazia lobby também no
Ministério da Fazenda, mais
especificamente na Secretaria
do Tesouro Nacional, indicam
trechos do inquérito sigiloso
aos quais a Folha teve acesso.
O relatório, de 8 de maio,
afirma que, além da existência
da já divulgada influência no
Ministério do Planejamento, o
esquema agia na Secretaria de
Tesouro como forma de obter
recursos públicos para as obras
de interesse da Gautama, a
construtora apontada como a
coordenadora da fraude.
"[Os representantes da Gautama] agem junto ao Ministério do Planejamento (Ernani
Soares) para obter previsão orçamentária e também junto ao
Ministério da Fazenda, em especial, à Secretaria do Tesouro
Nacional (Roberto Figueiredo), para a liberação imediata
do recurso", diz o relatório.
As duas pessoas citadas são
1) Ernani Soares Gomes Filho,
funcionário do Planejamento
cedido à Câmara dos Deputados e 2) Roberto Figueiredo
Guimarães, secretário do Tesouro no governo Fernando
Collor de Mello (1990-1992) e
até a semana passada presidente do BRB (Banco Regional de
Brasília). Eles foram presos na
Operação Navalha.
O relatório da PF não detalha
como funcionaria o lobby, sinalizando apenas que Guimarães,
por ter sido secretário do Tesouro na década de 90, continuaria a influenciar o órgão.
"Na maioria das vezes, [os representantes da Gautama] elaboram os próprios planos de
trabalho, apresentando-os ao
ministério respectivo", diz o
relatório. De acordo com as investigações, a rede de influências da Gautama atingia, além
de Planejamento e Fazenda,
Minas e Energia, Cidades e Integração Nacional.
Outro lado
A assessoria de imprensa do
Ministério da Fazenda informou que a "Secretaria do Tesouro Nacional somente libera
recursos para os ministérios
setoriais. Cabe, exclusivamente, aos ministérios setoriais e
seus gestores a destinação dos
recursos transferidos".
O Ministério do Planejamento diz desconhecer a atuação de
Ernani Soares -cedido à Câmara há vários anos- em suas
dependências e afirma que cabe a cada ministério a condução e fiscalização das obras.
O advogado José Eduardo
Alckmin, um dos que defendem
Roberto Guimarães, afirmou
ontem que as suspeitas relativas ao caso estão tomando um
contorno histérico.
"É só dizer que é Gautama
que é ilícito? É entranhável
uma acusação ser feita dessa
forma, sem se apontar o funcionário público que liberou o recurso, se ele está sendo acusado
de irregularidade", disse o advogado. "Acompanhar liberação de recurso em órgão público é algo perfeitamente lícito",
concluiu ele.
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