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PF investiga quem armou índios do Pará
Polícia quer descobrir quem comprou os mais de cem facões entregues aos caiapós que agrediram engenheiro da Eletrobrás
Delegado responsável pelo inquérito diz ter provas de que ao menos sete facões foram adquiridos antes de encontro que reuniu ONGs
Gerson/Folha Imagem
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Ginásio de Altamira (Pará) que abriga os indígenas e integrantes de ONGs que participam do encontro "Xingu Vivo para Sempre"
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Federal em Altamira (PA) investiga os responsáveis pela compra de pelo menos
cem facões entregues aos índios caiapós que agrediram o
engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Rezende, coordenador do estudo do rio Xingu
-onde deve ser construída a hidrelétrica de Belo Monte.
Anteontem, Rezende sofreu
um corte profundo no braço direito e foi espancado pelos índios quando apresentava o projeto e defendia sua instalação.
"Hoje o inquérito está seguindo
outra linha, não para identificar exatamente quem desferiu
golpes com facão. Mas, como os
facões são novos e foram comprados recentemente dentro
da cidade [Altamira], estamos
investigando quem os forneceu
aos índios", disse o delegado
Jorge Eduardo Ferreira de Oliveira, coordenador do inquérito que apura crime de lesão corporal contra o engenheiro.
Ele disse ter provas de que
sete dos cerca de cem facões foram comprados em estabelecimentos comerciais de Altamira
antes do encontro "Xingu Vivo
para Sempre", que desde anteontem reúne 2.500 pessoas
-das quais de 600 a 800 indígenas- num ginásio da cidade.
O encontro terminará amanhã.
Segundo o delegado da PF, é
importante saber se houve participação da organização do
evento, da Arquidiocese de Altamira, do ISA (Instituto Socioambiental), da Fundação Viver, Produzir e Preservar, além
de dezenas de outras ONGs: "Se
houve, seria uma incitação à
violência. Colocar facões novos
nas mãos dos índios é extrapolar o caráter do movimento".
A organização do encontro
negou que tenha comprado os
facões ou incitado os índios à
agressão: "A organização não
patrocinou, não comprou nem
orientou os caiapós sobre o uso
dos facões ou outro artefato",
disse Ana Paula Souza, coordenadora-geral da Fundação Viver, Produzir e Preservar.
Segundo ela, não é novidade
o uso de facões pelos caiapós
nem o fato de eles comprarem
os artefatos no comércio local.
De acordo com ela, uma nota
condenando a agressão foi divulgada logo após o fato: "Foi
uma atitude abominável".
O delegado da PF disse que o
órgão está estudando as imagens das agressões contra Rezende -que foi ouvido em Altamira antes de ir para o Rio.
O procurador da República
Felício Pontes, que participou
do encontro, afirmou que Rezende foi inábil e provocador ao
se dirigir ao público: "Ele [Rezende] dizia: "Olha, eu moro no
Rio de Janeiro. Quem vai ficar
sem luz são vocês". Ele foi muito inábil", afirmou Pontes. A reportagem enviou e-mail a Rezende. Segundo a Eletrobrás,
ficaria a critério do engenheiro
responder ou não aos questionamentos, o que não ocorreu.
Uma das participantes do encontro foi a índia Tuíra, que repetiu com Rezende o mesmo
gesto de advertência que fez em
1989 com o hoje presidente da
Eletronorte.
O 16º Batalhão da Polícia Militar do Xingu, de Altamira, disse que dez PMs estavam no
evento na hora da agressão. Ontem passou a ter 30 policiais.
Cerca de cem índios, de várias etnias, fizerem uma manifestação ontem às 15h, no entorno da sede da Justiça Federal, em Altamira, contra a construção da usina. Alguns estavam armados com bordunas.
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