São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REAÇÃO OFICIAL

Presidente afirmou que Planalto não pode correr atrás de denúncias "vazias"

Lula elogia sua "ética" e diz que estão com "medo da reeleição"

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A LUZIÂNIA (GO)

Depois de ouvir de líderes petistas discursos de ataques à oposição e de defesa de seu governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se descreveu ontem como a pessoa com mais "autoridade moral e ética" no país para promover mudanças que levem ao combate à corrupção, sugerindo ainda que seus opositores têm "medo" de sua reeleição à Presidência no ano que vem.
"Ninguém neste país tem mais autoridade moral e ética do que eu para fazer o que precisa ser feito neste país", declarou o presidente, que enfrenta a pior crise política de seu governo por causa da denúncia de que o PT pagaria uma mesada a deputados aliados do PP e do PL em troca de apoio.
Em fala dura e improvisada de 50 minutos ontem pela manhã, diante de 800 líderes de trabalhadores rurais, o presidente rotulou de "bobagens" o que tem ouvido nas últimas semanas acerca dos supostos casos de corrupção que envolvem o governo. Afirmou também que o Planalto não pode ficar correndo atrás de "denúncias vazias" ligadas ao Congresso.
"E vejam que tudo isso que nós estamos vivendo é por conta de um cidadão que diz que pegou R$ 3.000. Um cidadão de terceiro escalão", disse Lula, tentando diminuir o escândalo que começou nos Correios, assumiu outra dimensão com as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o suposto "mensalão" e levou à queda de José Dirceu.
A fala do presidente ocorreu na abertura de um congresso de cooperativas da agricultura familiar, em Luziânia (GO), município do entorno de Brasília. Cinco ministros o acompanharam.
Antes de sua fala, Lula ouviu discursos inflamados dos presidentes da Contag, Manoel José dos Santos, e da CUT, Luiz Marinho, e do ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário). Todos eles de ataque à oposição, de desqualificação das denúncias contra o governo e de elogios à figura do presidente Lula.

Resistência
A princípio, em seu discurso, Lula insinuou certa resistência para tratar das denúncias contra o governo. "Muitos são os assuntos que poderiam me motivar, aqui, num improviso, mas eu pretendo ler algumas palavras para vocês."
A seguir, depois de ler parte do texto, demonstrou sua vontade de aproveitar a deixa dos que antecederam a sua fala. "E como o peso da responsabilidade do presidente é maior do que o do cidadão comum, e eu não posso falar a quantidade de bobagens que se fala por aí; eu tenho que sempre esperar o momento certo para fazer as coisas que têm de ser feitas."
A primeira denúncia de corrupção contra o governo foi divulgada pela revista "Veja". A reportagem mostrou a gravação em que o ex-chefe do departamento dos Correios Maurício Marinho -indicado ao cargo pelo PTB- embolsa R$ 3.000. Depois disso, Jefferson denunciou à Folha o suposto esquema de mesada pago pelo PT na Câmara.
Ontem, na metade de seu longo discurso, Lula largou o texto preparado por sua assessoria e passou a responder às acusações.
O clima no auditório era de apoio exaltado ao presidente. A todo momento, seu nome era gritado pelos agricultores, e sua fala, interrompida por aplausos. Antes, havia recebido uma cesta de produtos das cooperativas e colocado um chapéu de palha. Foi ovacionado nesse momento.
Primeiro, como gancho, Lula disse que, "na história republicana, nenhum governo fez, contra a corrupção, 20% do que estamos fazendo". No discurso, ele procurou sempre comparar a eficiência investigativa e punitiva de seu governo com as gestões anteriores, em especial com a de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Nessa linha, a seguir, falou em denúncias "vazias" contra o governo. "E vamos investigar tantas quantas aparecerem. O que não pode é o governo ficar correndo atrás de denúncia vazia. Se tem denúncia contra a atuação do Congresso, é um problema do Congresso Nacional. (...) Que criem quantas CPIs quiserem criar. Agora, o que não pode é, por conta de insinuações ou ilações, você deixar de cumprir com o papel do próprio Congresso Nacional, que é o de votar as coisas que o Brasil tem interesse."
Ontem, Lula mais uma vez elogiou o "papel importante da imprensa". Disse que seu governo não prejulga ninguém nem costuma agir com "bravatas".
"Todas as denúncias que forem pertinentes ao governo federal serão investigadas, contra quem quer que seja, sem bravata. Porque neste país eu já vi bravata, neste país eu já vi alguém ser eleito em nome de ser um caçador de marajá. E todo mundo viu o que aconteceu neste país", afirmou, em alusão ao presidente Fernando Collor de Mello, que foi eleito em 1989 e que sofreu o impeachment em 1992.
Vestido num estilo esportivo, Lula disse que a sua presença, sem terno e gravata, sempre incomodou as pessoas. "Vocês pensam que eles não ficam incomodados porque eu estou aqui sem gravata? Porque tem um ritual, e eu sou a negação do ritual histórico que foi criado neste país, mas não pela minha roupa, porque eu até me visto melhor do que muita gente, mas pela minha origem, de onde eu vim. Isso é que faz a diferença."
Sobre isso, também citou o Bolsa-Família e os programas para famílias de baixa renda. "Porque os que torciam para que o governo fosse um desastre, já estão com medo hoje é da reeleição." Mais tarde, Lula afirmou: "Ainda não estou candidato".
Leia mais sobre o escândalo do "mensalão" na Folha Online
www.folha.com.br/051572


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Protesto a favor: Sindicalistas saem em defesa do governo Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.