|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/REAÇÃO OFICIAL
Presidente afirmou que Planalto não pode correr atrás de denúncias "vazias"
Lula elogia sua "ética" e diz que estão com "medo da reeleição"
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A LUZIÂNIA (GO)
Depois de ouvir de líderes petistas discursos de ataques à oposição e de defesa de seu governo, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva se descreveu ontem como a
pessoa com mais "autoridade
moral e ética" no país para promover mudanças que levem ao
combate à corrupção, sugerindo
ainda que seus opositores têm
"medo" de sua reeleição à Presidência no ano que vem.
"Ninguém neste país tem mais
autoridade moral e ética do que
eu para fazer o que precisa ser feito neste país", declarou o presidente, que enfrenta a pior crise
política de seu governo por causa
da denúncia de que o PT pagaria
uma mesada a deputados aliados
do PP e do PL em troca de apoio.
Em fala dura e improvisada de
50 minutos ontem pela manhã,
diante de 800 líderes de trabalhadores rurais, o presidente rotulou
de "bobagens" o que tem ouvido
nas últimas semanas acerca dos
supostos casos de corrupção que
envolvem o governo. Afirmou
também que o Planalto não pode
ficar correndo atrás de "denúncias vazias" ligadas ao Congresso.
"E vejam que tudo isso que nós
estamos vivendo é por conta de
um cidadão que diz que pegou R$
3.000. Um cidadão de terceiro escalão", disse Lula, tentando diminuir o escândalo que começou
nos Correios, assumiu outra dimensão com as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o suposto "mensalão" e
levou à queda de José Dirceu.
A fala do presidente ocorreu na
abertura de um congresso de cooperativas da agricultura familiar,
em Luziânia (GO), município do
entorno de Brasília. Cinco ministros o acompanharam.
Antes de sua fala, Lula ouviu
discursos inflamados dos presidentes da Contag, Manoel José
dos Santos, e da CUT, Luiz Marinho, e do ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário).
Todos eles de ataque à oposição,
de desqualificação das denúncias
contra o governo e de elogios à figura do presidente Lula.
Resistência
A princípio, em seu discurso,
Lula insinuou certa resistência
para tratar das denúncias contra o
governo. "Muitos são os assuntos
que poderiam me motivar, aqui,
num improviso, mas eu pretendo
ler algumas palavras para vocês."
A seguir, depois de ler parte do
texto, demonstrou sua vontade de
aproveitar a deixa dos que antecederam a sua fala. "E como o peso
da responsabilidade do presidente é maior do que o do cidadão comum, e eu não posso falar a quantidade de bobagens que se fala por
aí; eu tenho que sempre esperar o
momento certo para fazer as coisas que têm de ser feitas."
A primeira denúncia de corrupção contra o governo foi divulgada pela revista "Veja". A reportagem mostrou a gravação em que o
ex-chefe do departamento dos
Correios Maurício Marinho -indicado ao cargo pelo PTB- embolsa R$ 3.000. Depois disso, Jefferson denunciou à Folha o suposto esquema de mesada pago
pelo PT na Câmara.
Ontem, na metade de seu longo
discurso, Lula largou o texto preparado por sua assessoria e passou a responder às acusações.
O clima no auditório era de
apoio exaltado ao presidente. A
todo momento, seu nome era gritado pelos agricultores, e sua fala,
interrompida por aplausos. Antes, havia recebido uma cesta de
produtos das cooperativas e colocado um chapéu de palha. Foi
ovacionado nesse momento.
Primeiro, como gancho, Lula
disse que, "na história republicana, nenhum governo fez, contra a
corrupção, 20% do que estamos
fazendo". No discurso, ele procurou sempre comparar a eficiência
investigativa e punitiva de seu governo com as gestões anteriores,
em especial com a de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
Nessa linha, a seguir, falou em
denúncias "vazias" contra o governo. "E vamos investigar tantas
quantas aparecerem. O que não
pode é o governo ficar correndo
atrás de denúncia vazia. Se tem
denúncia contra a atuação do
Congresso, é um problema do
Congresso Nacional. (...) Que
criem quantas CPIs quiserem
criar. Agora, o que não pode é,
por conta de insinuações ou ilações, você deixar de cumprir com
o papel do próprio Congresso Nacional, que é o de votar as coisas
que o Brasil tem interesse."
Ontem, Lula mais uma vez elogiou o "papel importante da imprensa". Disse que seu governo
não prejulga ninguém nem costuma agir com "bravatas".
"Todas as denúncias que forem
pertinentes ao governo federal serão investigadas, contra quem
quer que seja, sem bravata. Porque neste país eu já vi bravata,
neste país eu já vi alguém ser eleito em nome de ser um caçador de
marajá. E todo mundo viu o que
aconteceu neste país", afirmou,
em alusão ao presidente Fernando Collor de Mello, que foi eleito
em 1989 e que sofreu o impeachment em 1992.
Vestido num estilo esportivo,
Lula disse que a sua presença, sem
terno e gravata, sempre incomodou as pessoas. "Vocês pensam
que eles não ficam incomodados
porque eu estou aqui sem gravata? Porque tem um ritual, e eu sou
a negação do ritual histórico que
foi criado neste país, mas não pela
minha roupa, porque eu até me
visto melhor do que muita gente,
mas pela minha origem, de onde
eu vim. Isso é que faz a diferença."
Sobre isso, também citou o Bolsa-Família e os programas para
famílias de baixa renda. "Porque
os que torciam para que o governo fosse um desastre, já estão com
medo hoje é da reeleição." Mais
tarde, Lula afirmou: "Ainda não
estou candidato".
Leia mais sobre o escândalo do "mensalão" na
Folha Online
www.folha.com.br/051572
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Protesto a favor: Sindicalistas saem em defesa do governo Lula Índice
|