São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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Ao sair, Dirceu saúda "camarada de armas"

Sérgio Lima/Folha Imagem
José Dirceu durante a transmissão do cargo para Dilma Rousseff


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em seu discurso de despedida do governo federal e da chefia da Casa Civil, em cerimônia realizada ontem no Palácio do Planalto, José Dirceu (PT-SP) admitiu estar "triste" ao deixar o cargo de ministro da gestão Luiz Inácio Lula da Silva. Ele volta à Câmara dos Deputados para cumprir seu mandato como deputado federal.
Ao saudar os cerca de 500 convidados para a transmissão de cargo, Dirceu tratou sua substituta, Dilma Rousseff, de "camarada de armas": "É uma mulher mineira, gaúcha, brasileira, uma camarada de armas, uma companheira de lutas, que assume a Casa Civil. Isso para mim é uma honra".
Mineiros, ambos iniciaram suas carreiras políticas no movimento estudantil e, durante parte da ditadura militar (1964-1985), foram presos e atuaram na clandestinidade. Líder estudantil preso no congresso da UNE em Ibiúna, em 1968, foi solto no ano seguinte, em troca da libertação do embaixador americano, e se exilou em Cuba. Lá recebeu treinamento de guerrilha e voltou ao país para militar no Molipo (Movimento de Libertação Popular). Já Dilma participou da Polop (Política Operária), Colina (Comando de Libertação Nacional) e VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares).
Dirceu falou ontem no principal salão de eventos do Palácio do Planalto, com a presença de Lula e repleto de assessores, ministros, funcionários do governo, parlamentares, militares e representantes do Judiciário.
A fala de despedida foi antecipada por uma longa salva de palmas, com todos os cerca de 500 presentes em pé, enquanto Dirceu batia com a mão no peito, num estilo parecido a um jogador de futebol quando comemora um gol batendo no distintivo do clube.
De improviso e com a voz embargada, Dirceu basicamente repetiu o que já havia dito na última quinta-feira, quando anunciou sua saída do governo. Por exemplo: que sai de "mãos limpas" e com a "cabeça erguida".

"Saio triste"
Ontem, porém, admitiu sua tristeza. "Saio evidentemente triste, porque a minha paixão, todos sabem, era eleger o presidente Lula e governar o Brasil."
Após o evento, Dirceu foi cercado pela imprensa e questionado sobre os motivos que o deixam "triste". Ele justificou: "É como deixar o Brasil, deixar a família, deixar os filhos. É um coisa que faz parte de mim. Mas, ao mesmo tempo, eu estou alegre porque vou voltar a ser deputado. Vou poder trabalhar e servir o Brasil na Câmara dos Deputados".
Em sua fala, de cerca de cinco minutos, Dirceu pediu licença aos convidados para "prestar contas" dos 30 meses que ficou na Casa Civil -de janeiro de 2003 até ontem. No resumo da gestão, citou sua participação na aprovação das reformas previdenciária, tributária e do Judiciário e no "apoio" e "sustentação" ao governo com sua base parlamentar.
Até janeiro de 2004, quando Lula criou a Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais (hoje sob o comando de Aldo Rebelo), a Casa Civil tinha oficialmente sob sua guarda a subchefia de Articulação Política.
Na semana passada, acuado diante de uma série de denúncias contra o governo que o atingiram diretamente, Dirceu decidiu deixar o governo, numa decisão que teve o crivo do presidente Lula. Seu principal acusador, o presidente licenciado do PTB, Roberto Jefferson, chegou a dizer que o petista, caso permanecesse no cargo, poderia transformar o presidente da República em réu.
Ontem, em rápida entrevista após o evento, Dirceu disse que sai do governo sem nenhuma acusação contra si. "Eu estou saindo do governo para voltar a ser deputado. Foi uma decisão política minha e do presidente. Mas eu não sou réu e não há provas nem testemunhais nem documentais, nada", declarou. Dirceu negou que sua permanência pudesse prejudicar o presidente. "Evidentemente que a razão não é essa. É uma razão política."
Hoje, Dirceu reassume sua vaga na Câmara. Lá, promete fazer um discurso de deputado recém-chegado, e não de um ministro que queira usar tal palanque como oportunidade para contra-atacar Jefferson. "Não vou responder, porque não há nenhuma denuncia contra a minha pessoa."
Sua resposta a Jefferson será via Justiça, como afirmou ontem. Na semana passada, Dirceu anunciou que entrará com uma queixa-crime no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o petebista. "Pra fazer uma acusação no Brasil é preciso ter provas, testemunhais e documentais. Ele [Roberto Jefferson] afirma que não tem. Então não existe acusação, é simples. Contra esse tipo de acusação só tem um caminho, a Justiça."
(JULIA DUAILIBI E EDUARDO SCOLESE)


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