São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONSELHO DE ÉTICA

Ex-ministro depõe no Conselho de Ética, mas se recusa a revelar tudo o que ouviu de Jefferson

Miro confirma à Câmara ter sido informado sobre mesada

FÁBIO ZANINI
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Miro Teixeira (PT-RJ) confirmou ontem, em depoimento de mais de três horas ao Conselho de Ética da Câmara, ter sido informado em dezembro de 2003 do suposto esquema de "mensalão" por Roberto Jefferson (PTB-RJ), mas recusou-se a revelar tudo o que ouviu dele a respeito de corrupção no governo. "Ele [Jefferson] é o dono da história. Eu não quero ser seu porta-voz", justificou.
Ex-ministro das Comunicações, Miro também entrou em contradição com o depoimento do petebista em pelo menos dois pontos.
"Confirmo que Roberto Jefferson esteve comigo e fez menção a isso que se chama "mensalão'", afirmou o deputado ao iniciar o seu depoimento.
Miro, que depôs uma semana depois de Jefferson, disse não ter denunciado o suposto esquema -que consistiria no pagamento de mesada pelo PT a deputados do PP e do PL- porque Jefferson teria se recusado a ir a público.
"Uma coisa é ouvir falar, outra coisa é presenciar. (...) Não desqualifico o depoimento do Roberto Jefferson, o que acho é que é temerário atingir deputados assim dessa maneira [sem apresentação de provas]", afirmou, em depoimento de três horas.
Segundo ele, desde o final de 2003, quando ainda era ministro, buscou provas do esquema. "Vinha perseguindo essa prova, juntamente com outros deputados, até do PSDB. (...) Dediquei muitas horas de muitos dias nessa investigação até que saiu a entrevista do Jefferson à Folha", afirmou o petista, que disse não ter conseguido obter nenhuma prova.

Nova denúncia
Miro disse que Jefferson fez outra denúncia de corrupção no governo, mas se negou, entretanto, a revelar qual seria o outro esquema. A história contada teria ocorrido no Ministério dos Transportes e envolveria o então ministro Anderson Adauto, representantes de três partidos e um diretor de departamento. Adauto nega.
Em seu depoimento na semana passada, Jefferson negou ter contado a Miro algum outro episódio de corrupção no governo. Além dessa contradição, o petebista relatou ter apontado ao então ministro das Comunicações nome de pessoas que participavam do "mensalão". Miro negou ter ouvido esses nomes.
Miro disse aos mais de 30 deputados que participaram da sessão que apelou, em 2003, para que a história fosse contada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o líder do PTB na Câmara, José Múcio (PE), Jefferson teria dito que era só marcar a audiência que ele iria. Miro negou essa disposição. "Jefferson, isso é grave. Se o que você falou é verdade, vão fechar o Parlamento", teria dito ele, segundo seu relato.
O petista afirmou ainda que em 2004, após sair do governo e retornar à Câmara, chamou Jefferson para denunciar o esquema no plenário. Jefferson se recusou, versão que ambos sustentam.
Miro também refutou a afirmação de que recuou na denúncia que teria feito sobre o suposto "mensalão" em setembro de 2004 ao "Jornal do Brasil". O deputado diz nunca ter confirmado a história ao jornal.
O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) classificou o depoimento de Miro como importante. "Se reveste de importância porque é a primeira pessoa que confirma as informações de Jefferson [sobre ter contado a ministros o esquema do "mensalão"]."


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