São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O ACUSADOR

Segundo deputado, PSDB recebeu doações não declaradas em 94; FHC não comenta

PSDB também opera com caixa dois, acusa Jefferson

DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) reafirmou ontem que o PSDB opera com caixa dois. Antes de deixar São Paulo, Jefferson confirmou o que dissera na véspera, durante entrevista no programa "Roda Viva", da TV Cultura: em 1994, uma contribuição do então banqueiro José Eduardo Andrade Vieira à campanha de Fernando Henrique Cardoso à Presidência foi apenas parcialmente registrada. "Teve uma parte declarada. Outras não são declaradas", disse.
Após a entrevista, na madrugada de ontem, Jefferson ratificou: "É uma questão geral. O PSDB também trabalha com caixa dois nas eleições", disse. "Ou não?", perguntou, em tom irônico.
Em 1994, o PSDB declarou uma doação de R$ 276 mil do banco Bamerindus, à época de Andrade Vieira, além do empréstimo do jatinho do banco. Em 2002, FHC negou, em nota enviada ao Senado, a acusação de que teria recebido R$ 5 milhões do banqueiro na pré-campanha de 1994. Ontem, FHC não se manifestou.
Na entrevista, Jefferson disse que é generalizada a utilização, pelos partidos, de verbas não registradas pela Justiça Eleitoral. "Caixa dois existe desde os tempos de d. Pedro. Discutir isso é voltar ao passado. Vamos olhar para a frente", disse ele ontem.
Jefferson confessou um crime eleitoral durante a entrevista ao afirmar que seu amigo Henrique Brandão, dono da corretora de seguros Assurê, fez doações ao PTB "por dentro, de forma legal, e por fora, como caixa dois".
Ontem, ele acusou o governo de tentar asfixiá-lo com as operações da Polícia Federal nas casas de petebistas e com a convocação de Brandão e de seu genro para deporem ao Ministério Público. "Tudo em cima do PTB", queixou-se. Segundo ele, o governo trabalha para municiar o discurso que José Dirceu (PT-SP) deve fazer hoje na Câmara.
Jefferson responsabilizou ainda o Planalto pelo corte de cinco dias em seu ponto na Câmara. "Depois das denúncias de corrupção que fiz, o Palácio do Planalto quer me pressionar de qualquer jeito. Agora, cortaram o meu ponto 14 dias [na realidade, foram cinco até ontem]", disse o deputado, ao desembarcar em Brasília.
Jefferson também voltou a acusar o deputado João Pizzolatti (PP-SC) de operar uma estrutura paralela de distribuição de mesada a deputados. Segundo ele, Pizzolatti entrou em cena depois da superexposição do atual líder do PP, José Janene (PR), supostamente responsável pelo "mensalão" até então. Ainda segundo Jefferson, "até o mês passado, o esquema funcionava no gabinete de Pizzolatti".
Segundo Jefferson, Pizzolatti ele era anfitrião de cafés-da-manhã na Comissão de Minas e Energia da Câmara, nos quais era feita a partilha de recursos. "Era feito café da manhã. O deputado subia [a escada que dá acesso a sala do presidente da comissão] e descia com um pacotinho", afirmou.
No aeroporto de Brasília, Jefferson voltou a criticar Dirceu. "O deputado José Dirceu está em silêncio preparando sua defesa contra as graves acusações que fiz. Tenho certeza de que ele está recebendo informações da Abin [Agência Brasileira de Inteligência] para se defender."
Roberto Jefferson disse que está tranquilo com a possibilidade de encontrar o ex-ministro a partir de hoje na Câmara -em suas denúncias, o deputado petebista classificou Dirceu como o "chefe" do esquema de corrupção do governo. "Não existe nada de grave, não existe a possibilidade de risco pessoal no encontro. O que vai ter é um debate entre nós."
Ele voltou a comparar o governo do ex-presidente Fernando Collor com o de Luiz Inácio Lula da Silva. "No governo Collor, havia muita acusação, principalmente de caixa dois. No governo Lula, os fatos são mais graves e a corrupção é muito maior."


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