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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O ACUSADOR
Segundo deputado, PSDB recebeu doações não declaradas em 94; FHC não comenta
PSDB também opera com caixa dois, acusa Jefferson
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ) reafirmou ontem que o
PSDB opera com caixa dois. Antes de deixar São Paulo, Jefferson
confirmou o que dissera na véspera, durante entrevista no programa "Roda Viva", da TV Cultura:
em 1994, uma contribuição do então banqueiro José Eduardo Andrade Vieira à campanha de Fernando Henrique Cardoso à Presidência foi apenas parcialmente
registrada. "Teve uma parte declarada. Outras não são declaradas", disse.
Após a entrevista, na madrugada de ontem, Jefferson ratificou:
"É uma questão geral. O PSDB
também trabalha com caixa dois
nas eleições", disse. "Ou não?",
perguntou, em tom irônico.
Em 1994, o PSDB declarou uma
doação de R$ 276 mil do banco
Bamerindus, à época de Andrade
Vieira, além do empréstimo do jatinho do banco. Em 2002, FHC
negou, em nota enviada ao Senado, a acusação de que teria recebido R$ 5 milhões do banqueiro na
pré-campanha de 1994. Ontem,
FHC não se manifestou.
Na entrevista, Jefferson disse
que é generalizada a utilização,
pelos partidos, de verbas não registradas pela Justiça Eleitoral.
"Caixa dois existe desde os tempos de d. Pedro. Discutir isso é
voltar ao passado. Vamos olhar
para a frente", disse ele ontem.
Jefferson confessou um crime
eleitoral durante a entrevista ao
afirmar que seu amigo Henrique
Brandão, dono da corretora de seguros Assurê, fez doações ao PTB
"por dentro, de forma legal, e por
fora, como caixa dois".
Ontem, ele acusou o governo de
tentar asfixiá-lo com as operações
da Polícia Federal nas casas de petebistas e com a convocação de
Brandão e de seu genro para deporem ao Ministério Público.
"Tudo em cima do PTB", queixou-se. Segundo ele, o governo
trabalha para municiar o discurso
que José Dirceu (PT-SP) deve fazer hoje na Câmara.
Jefferson responsabilizou ainda
o Planalto pelo corte de cinco dias
em seu ponto na Câmara. "Depois das denúncias de corrupção
que fiz, o Palácio do Planalto quer
me pressionar de qualquer jeito.
Agora, cortaram o meu ponto 14
dias [na realidade, foram cinco
até ontem]", disse o deputado, ao
desembarcar em Brasília.
Jefferson também voltou a acusar o deputado João Pizzolatti
(PP-SC) de operar uma estrutura
paralela de distribuição de mesada a deputados. Segundo ele, Pizzolatti entrou em cena depois da
superexposição do atual líder do
PP, José Janene (PR), supostamente responsável pelo "mensalão" até então. Ainda segundo Jefferson, "até o mês passado, o esquema funcionava no gabinete de
Pizzolatti".
Segundo Jefferson, Pizzolatti ele
era anfitrião de cafés-da-manhã
na Comissão de Minas e Energia
da Câmara, nos quais era feita a
partilha de recursos. "Era feito café da manhã. O deputado subia [a
escada que dá acesso a sala do
presidente da comissão] e descia
com um pacotinho", afirmou.
No aeroporto de Brasília, Jefferson voltou a criticar Dirceu. "O
deputado José Dirceu está em silêncio preparando sua defesa
contra as graves acusações que fiz.
Tenho certeza de que ele está recebendo informações da Abin
[Agência Brasileira de Inteligência] para se defender."
Roberto Jefferson disse que está
tranquilo com a possibilidade de
encontrar o ex-ministro a partir
de hoje na Câmara -em suas denúncias, o deputado petebista
classificou Dirceu como o "chefe"
do esquema de corrupção do governo. "Não existe nada de grave,
não existe a possibilidade de risco
pessoal no encontro. O que vai ter
é um debate entre nós."
Ele voltou a comparar o governo do ex-presidente Fernando
Collor com o de Luiz Inácio Lula
da Silva. "No governo Collor, havia muita acusação, principalmente de caixa dois. No governo
Lula, os fatos são mais graves e a
corrupção é muito maior."
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