São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Receita do PT com "dízimo" de filiados sobe 545% em 4 anos

Sigla arrecadou R$ 2,9 mi em 2006 com o que foi pago por ocupantes de cargo de confiança

Oposição acusa governo de ter criado cargos para engordar a contribuição; para Marco Aurélio Garcia, as críticas são "ridículas"


FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O crescimento da máquina administrativa do governo, sua ocupação por petistas e a criação de novos cargos têm rendido bons frutos ao caixa do partido. Nos quatro primeiros anos do governo Lula, houve um salto de 545%, já descontada a inflação, na arrecadação do "dízimo" com filiados que ocupam cargos de confiança no Executivo e Legislativo.
O "dízimo" é um percentual do salário que cada um precisa recolher ao partido.
Só nesta semana, Lula anunciou duas medidas que aumentam novamente o gasto com servidores sem concurso: um reajuste salarial que chega a 140% em alguns casos e a criação de mais 600 cargos de confiança em vários ministérios. Já são mais de 2.000 cargos sem concurso criados pelo petista.
No ano passado, só com o "dízimo", o PT arrecadou R$ 2,88 milhões. Em 2002, último ano na oposição, foram R$ 446 mil, em valores atuais.
Nos últimos anos, o partido se expandiu rápido, ganhando a Presidência, governos estaduais e ampliando a bancada no Congresso. Houve um crescimento geral da receita petista, de 204%, em termos reais. Bem menor que o salto na arrecadação com o "dízimo", portanto.
Como proporção da receita total do PT, a contribuição dos filiados subiu de 1,7% em 2002 para 8,6% em 2005. Em 2006 ela foi de 3,7%, mas foi um ano atípico: por causa da eleição presidencial, a receita total do partido foi muito inflada por uma enxurrada de doações para a campanha.
A expectativa é que em 2007 a proporção volte a subir.

Finanças
O PT vive uma situação financeira dramática, com uma dívida na praça de R$ 45 milhões. O aumento salarial dos cargos de confiança anunciado nesta semana dará um refresco: a receita anual com o "dízimo" deve crescer R$ 500 mil.
Segundo uma estimativa do partido, há 5.000 petistas em cargos no Executivo federal. Mas menos de mil pagam em dia o "dízimo". Por isso, o partido decidiu endurecer. Está fazendo uma "blitz" no país, proibindo inadimplentes de participar de eventos partidários.
"Estamos tendo bons resultados na inclusão de inadimplentes no sistema de contribuição do partido", disse Paulo Ferreira, tesoureiro do PT.
O "dízimo" é uma marca registrada do PT, desde a fundação. O salário entra na conta do filiado e em seguida tem uma parcela, variando de 2% a 10%, "capturada" pelo partido, a partir de autorização bancária.
Partidos de oposição vêm acusando o governo de ter criado cargos para engordar a contribuição. O DEM ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal. Anteontem, o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia disse que as críticas eram "ridículas". "Eu dou o meu dinheiro para quem eu quiser."
Para Ferreira, a tentativa de fazer a relação "não se sustenta". "Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O governo deu aumento para servidores essenciais, que tinham salário congelado havia anos."
A arrecadação com a contribuição já foi até maior. Em 2004, era de R$ 3,65 milhões. Mas a queda desde então não significa recuo na presença de petistas. Deve-se meramente a uma questão contábil.
Na época, o percentual recolhido sobre o salário obedecia a uma tabela progressiva, com várias faixas atreladas ao valor do salário mínimo. Como o mínimo aumentava acima da inflação e os salários ficavam congelados, os servidores acabavam "caindo" de faixa, pagando menos "dízimo". Preocupado, o PT mudou o sistema em 2005.


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