São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Kassabistas desistem, e PSDB deve referendar hoje Alckmin

Com medo de ser responsabilizado por derrota, Serra costura acordo de última hora

Grupo aliado a Kassab decidiu ontem à noite que não vai disputar chapa com Alckmin na convenção tucana

FERNANDO BARROS DE MELLO
CATIA SEABRA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG

DA REPORTAGEM LOCAL

Por conta de um acordo costurado ontem na última hora e patrocinado pelo governador José Serra, o PSDB paulistano deve referendar hoje, sem disputa, o nome do médico Geraldo Alckmin, 55, para disputar a Prefeitura de São Paulo.
Serra retornou ontem de uma viagem ao exterior e pôs fim a uma disputa que ameaçava a pré-candidatura natural de seu antecessor no Palácio dos Bandeirantes (2001-2006), já que havia uma chapa inscrita na convenção com o propósito de apoiar a reeleição de Gilberto Kassab (DEM).
Temendo ser responsabilizado pela derrota de Alckmin e até mesmo por um quebra-quebra na convenção de hoje, já que os ânimos estavam muito exaltados, Serra deu ordem a seu grupo para que as armas fossem temporariamente depostas. Ele teria dito, segundo a Folha apurou, que o embate se dará nas urnas e será referendado pela população.
Assim, por volta das 21h, o grupo tucano pró-Kassab, encabeçado pelo secretário de Esportes de São Paulo, Walter Feldman, e pelo líder tucano na Câmara dos Vereadores, Gilberto Natalini, procurou a Executiva do PSDB na capital e comunicou sua desistência.
Antes, eles haviam se reunido com o secretário da Casa Civil do Estado, Aloysio Nunes Ferreira, um dos principais adversários de Alckmin no PSDB. Ele pediu aos "kassabistas" que avaliassem o "impacto" de uma derrota do ex-governador nos planos de Serra para 2010.
"Diante dos apelos quanto às sequelas que uma disputa poderia causar, devemos retirar nossa chapa. Mas temos a convicção de que nossa tese estava correta desde o início. Duas candidaturas só jogam água no moinho do PT", afirmou Gilberto Natalini, líder dos vereadores tucanos.
Do lado do grupo de Alckmin, o deputado Silvio Torres disse: "Nós perseguimos a unidade até o último momento. Valeu a pena. Essa nova composição trará mais energia à campanha e sinaliza um caminho de paz para o futuro do PSDB".
Em entrevista publicada ontem pela Folha, Alckmin afirmou que uma eventual vitória sua na eleição deste ano irá favorecer Serra na disputa interna do paulista com o governador Aécio Neves (Minas) pelo direito de encabeçar a chapa tucana à sucessão do presidente Lula. A despeito da intervenção de Serra, o grupo pró-Kassab do PSDB vinha perdendo força nos últimos dias, principalmente após as acusações de que a máquina municipal havia patrocinado a maior parte das adesões de delegados tucanos à chapa. Até ontem, cerca de 60 assinaturas haviam sido retiradas de seu pedido de inscrição.
"A outra chapa [pró-Kassab] não tem mais o mínimo jurídico de 404 assinaturas. Portanto, hoje [ontem], ela tem menos de 370 assinaturas. Mas nós não queremos que haja impugnação porque esta é uma questão política, vamos ouvir o partido na convenção", afirmou no início da tarde Alckmin. A intenção do ex-governador de levar a disputa a adiante acabou pesando na decisão final do grupo ligado ao prefeito Gilberto Kassab, que era vice de Serra até março de 2006.
A convenção tucana será realizada a partir das 9h de hoje na Assembléia Legislativa. O processo de desconfiança mútua entre Alckmin e Serra foi definido dois anos antes, na disputa para a indicação do candidato tucano à Presidência, em 2006. Na última terça-feira, vereadores tucanos e o secretário Feldman protocolaram chapa pela aliança com Kassab na convenção tucana. Feldman e Natalini são historicamente ligados a Serra.
A Folha ouviu relatos de serristas e alckmistas sobre a relação nos últimos anos. Todos concordam que, desde 2002, os tucanos têm invertido papéis. Um em alta. Outro em baixa.
Em 2002, Alckmin estava a caminho da vitória para o governo e não aceitou fazer um comitê único com Serra, candidato à Presidência contra Lula.
No fim da campanha, na iminência da derrota, Serra não fez seu comício de encerramento em São Paulo. Diante da resistência de Alckmin, foi ao Rio, ao lado de Cesar Maia.
Em 2006, candidato favorito a governador, Serra concordou com um comitê único, mas Alckmin reclamou de falta de empenho na sua campanha.
A ruptura entre os dois se deu naquele ano. Defensores do lançamento de Alckmin à Presidência constrangeram Serra sob a alegação de que não poderia deixar a prefeitura para disputar o Planalto.
Após a definição de Alckmin como o candidato presidencial tucano, os mesmos aliados pediram que Serra disputasse o governo, oferecendo um palanque de peso para a campanha.
Durante o processo de escolha do adversário de Lula em 2006, Serra estava na frente de Alckmin nas pesquisas, mas o então governador considerava sua candidatura natural. Ele acreditava que Serra faria de tudo pela indicação ao Planalto. Hoje, as articulações políticas preocupam os dois grupos. Serristas avaliam que, se eleito, Alckmin poderá forçar Serra a concorrer ao governo em 2010, já que o partido não teria outro nome forte para a disputa. Desse modo, Alckmin já teria se aliado a outro tucano pré-candidato, Aécio Neves (MG).


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