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REFORMA SOB PRESSÃO
Paralisação é decidida em assembléia e deve começar dia 5
Juízes aprovam para agosto greve contra reforma de Lula
Bruno Stuckert/Folha Imagem
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Juízes estaduais e trabalhistas na reunião de ontem, que decidiu pela greve por tempo determinado |
SILVANA DE FREITAS
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os juízes estaduais e do Trabalho decidiram ontem fazer greve
geral -inicialmente por tempo
determinado, de 5 a 12 de agosto-, para pressionar o governo a
fazer mudanças na reforma da
Previdência que preservem direitos dos quais não querem abrir
mão. Será a primeira vez, segundo
o comando de greve, que haverá
uma paralisação de juízes.
A paralisação foi aprovada pelo
Conselho de Representantes da
AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) ontem à tarde, em
Brasília. Houve 206 votos favoráveis e 74 contrários. No dia 13,
uma nova assembléia decidirá sobre a continuidade do movimento. A paralisação foi marcada para
agosto porque, no momento, a
Justiça está em recesso.
O movimento dividiu o Judiciário. A Ajufe (Associação dos Juízes Federais), que representa cerca de 1.100 magistrados, é contra a
paralisação neste momento, embora apóie o subteto de 90,25%.
A decisão de ontem atinge 8.800
juízes estaduais (o número de
magistrados na ativa), 2.600 juízes
do Trabalho na ativa e 60 juízes
militares. O presidente da AMB,
Cláudio Baldino Maciel, disse que
haverá recuo se o governo atender
às reivindicações.
"O Judiciário brasileiro não pode ser tratado como uma repartição pública qualquer", disse. "Um
poder Judiciário transformado
em repartição pública é incapaz
de conter os demais Poderes."
Promotores
Hoje os promotores de Justiça,
que têm remuneração equiparada
à dos juízes estaduais, também
irão se reunir para deliberar sobre
a greve. A tendência é aprová-la.
Os juízes se opõem principalmente ao subteto previsto na reforma, que limita a remuneração
do juiz estadual a 75% do que recebem os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), e ao fim
da aposentadoria integral para os
juízes que ingressarem na carreira
depois da promulgação da emenda constitucional.
Eles reivindicam o subteto equivalente a 90,25% do que ganham
ministros do STF e rejeitam a alternativa sugerida pelo governo, a
criação de fundos de pensão complementar para garantir aposentadoria acima do teto de R$ 2.400
do regime previdenciário público.
O texto da emenda constitucional da reforma da Previdência
prevê o subteto de R$ 12.879 (75%
do salário do STF). Os juízes querem que esse limite seja elevado
para R$ 15.496,65 (90,25%).
Assim, os desembargadores,
que estão no topo da carreira da
Justiça estadual e integram os tribunais de Justiça, teriam salário
equivalente ao de membros dos
tribunais regionais federais e do
Trabalho.
Os magistrados dizem que, com
o subteto menor, a carreira de juiz
deixa de atrair bons profissionais.
Os ministros do STF recebem
até R$ 17.172, se computada a gratificação de 35% em razão do tempo de serviço. Esse deverá ser o
valor do teto salarial do funcionalismo. A fixação do subteto do
funcionalismo estadual é reivindicada pelos governadores para
limitar os gastos com pessoal.
Pela versão original da reforma,
os atuais juízes e servidores também perderiam o direito à aposentadoria integral e à paridade
de reajuste entre ativos e inativos,
mas, em relação a esses pontos, os
magistrados conseguiram fazer o
governo recuar.
A greve entrou na agenda da
Justiça na última quinta, quando
o relator da reforma, deputado José Pimentel (PT-CE), apresentou
o seu relatório prevendo aos magistrados menos direitos do que
eles esperavam, particularmente
em relação ao subteto.
Em fevereiro de 2000, os juízes
federais e do Trabalho ameaçaram fazer greve nacional por aumento de salário, mas a mobilização foi desfeita na véspera por
uma liminar do ministro do STF
Nelson Jobim concedendo auxílio-moradia de até R$ 3.000.
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