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REFORMA SOB PRESSÃO
Governadores e Planalto discutem proposta tributária; Estados querem 25% da Cide e fim da cobrança do Pasep
Estados esperam obter R$ 5 bi em concessão
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os governadores esperam arrancar hoje do Planalto, em nova
rodada de negociações sobre a reforma tributária, duas concessões
que podem engordar o caixa dos
Estados em R$ 5 bilhões anuais
-que sairiam do cofre da União.
As duas medidas, que os governistas já admitem negociar, são a
divisão da receita da Cide (tributo
federal incidente sobre o preço
dos combustíveis) e o fim da cobrança do Pasep, outra contribuição federal, sobre os Estados.
Da pauta de reivindicações dos
governadores, há poucas chances
de obter do governo a divisão da
receita da CPMF e a permissão
para que os Estados gastem livremente 20% de suas receitas, a
exemplo do mecanismo hoje válido para o governo federal.
No encontro de hoje são esperados cinco governadores, cada um
representando uma região do
país: Germano Rigotto (PMDB-RS), Aécio Neves (PSDB-MG),
Marconi Perillo (PSDB-GO), Wilma Faria (PSB-RN) e Eduardo
Braga (PPS-AM).
Pelo lado do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci Filho (Fazenda) tentarão ceder o mínimo
possível, tarefa que ficou mais difícil depois do recuo no texto da
reforma da Previdência, na semana passada.
Justificativa
Tanto é assim que os governistas já tinham ontem argumentos
para justificar e relativizar eventuais mudanças na proposta para
a reforma tributária. "É viável
passar parte da Cide para os Estados, desde que os recursos sejam
vinculados a obras de infra-estrutura", disse o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder
de Lula na Câmara.
Os Estados, que pedem 25% da
arrecadação da Cide (estimada
em R$ 10,8 bilhões neste ano), podem concordar com essa condição, segundo Albérico Mascarenhas, da Bahia, secretário-executivo do Confaz (conselho que reúne os secretários estaduais da Fazenda).
Albuquerque também admitiu
negociar a isenção do Pasep para
os Estados, o que, nos cálculos do
Confaz, renderia algo como R$
2,5 bilhões -o dinheiro do Pasep
é destinado ao pagamento do seguro-desemprego e ao FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Os governadores desdenham da
contrapartida mencionada pelo
governo às concessões: o recuo na
proposta original da reforma de
tornar o ITR (tributo sobre propriedades rurais) um imposto estadual.
"O ITR é um presente de grego",
afirma Mascarenhas, em referência à baixa arrecadação do ITR, na
casa dos R$ 500 milhões anuais, se
tanto, e ainda com a obrigação de
repassar metade do valor aos municípios.
Orçamento
As eventuais concessões aos Estados podem parecer pequenas
diante dos números globais do
Orçamento da União, com receitas acima de R$ 350 bilhões.
No entanto, os R$ 5 bilhões não
são nada desprezíveis se comparados aos cerca de R$ 50 bilhões
que o governo pode efetivamente
decidir como gastar -excluídas
despesas como pessoal, aposentadorias, juros da dívida e repasses a
Estados e municípios.
O valor equivale ainda a praticamente toda a economia prevista
com a reforma da Previdência durante os próximos três anos do
mandato de Lula.
O governo minimiza a perda
potencial. No caso da Cide, os Estados assumiriam despesas hoje a
cargo da União -e, deve-se dizer,
também ficariam com os créditos
pelas obras realizadas.
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