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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS
Documento, no valor de R$ 60 mil, foi achado no escritório de advocacia do deputado
CPI exibe cheque de Valério para Mentor, deputado do PT
FERNANDO RODRIGUES
MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O escritório de advocacia José
Mentor, Pereira Mello e Souza,
que tem como sócio principal o
deputado federal José Mentor
(PT-SP), foi beneficiário de um
cheque de R$ 60 mil emitido pela
2S Participações, do empresário
Marcos Valério de Souza -acusado de operar o "mensalão".
O cheque foi localizado pela CPI
dos Correios em meio ao material
recebido da quebra de sigilos bancários das empresas de Marcos
Valério. Trata-se de um documento do Banco do Brasil com
data de 27 de julho de 2004. Nessa
época Mentor ainda era relator da
CPI do Banestado, que investigava evasão de divisas e lavagem de
dinheiro. Um dos bancos investigados era o Rural, hoje citado como um dos depositários do dinheiro usado nos pagamentos
não-contabilizados a políticos.
A empresa que emite o cheque,
a 2S, é uma das muitas pessoas jurídicas de Marcos Valério, criada
em 2002. O próprio empresário
assina o documento.
Segundo relatório do Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras), a 2S movimentou R$ 26,4 milhões em cerca
de dois anos. A empresa foi montada em nome de funcionários de
Valério e seu capital é de R$ 1.000.
Em 2004, a movimentação de seu
caixa foi de R$ 20,2 milhões.
No seu depoimento à CPI dos
Correios, o empresário disse: "Essa 2S Participações fez as obras do
Cepel". O Cepel é uma hípica, em
Belo Horizonte, também pertencente a Marcos Valério.
José Mentor disse que seu escritório prestou serviços advocatícios para um outro advogado, Rogério Tolentino, ligado a Marcos
Valério. "Nem sabia que a 2S pertencia ao Valério", declarou Mentor -que afirma que o pagamento total foi de R$ 120 mil, e não
apenas de R$ 60 mil. Ele não se recorda a forma de recebimento.
Até agora, já há oito deputados
relacionados aos saques de empresas de Marcos Valério. José
Mentor é o terceiro congressista
que aparece como beneficiário direto. Os deputado Josias Gomes
(PT-BA) e Carlos Rodrigues (PL-RJ) aparecem como sacador dessas contas de Valério.
Há também o caso de João Paulo Cunha (PT-SP), cuja mulher fez
uma retirada de R$ 50 mil.
Outros cinco deputados tiveram assessores sacando dinheiro
de contas bancárias pertencentes
a empresas de Marcos Valério: José Janene (PP-PR), Paulo Rocha
(PT-PA), Paulo Delgado (PT-MG) e Roberto Brant (PFL-MG).
Mentor é um quadro importante do PT. Advogado, já foi deputado estadual (1989-91) e vereador
paulistano (93-2003). Na Câmara
de São Paulo, foi o líder da prefeita Marta Suplicy a partir de 2001.
Sua habilidade na articulação o
projetou dentro do partido. É elogiado pelo seu trânsito entre variados grupos políticos. "O José
Mentor é correto", diz Paulo Maluf (PP), ex-prefeito paulistano e
adversário político do PT.
Em 2002, Mentor elegeu-se deputado federal, com 182.955 votos
(15º mais votado no Estado). Sua
principal missão até hoje havia sido relatar a CPI do Banestado,
que investigou prática de evasão
de divisas e lavagem de dinheiro.
Em julho de 2004, quando recebeu o cheque de R$ 60 mil, a CPI
do Banestado já estava moribunda. Terminou em 27 de dezembro
passado, sem ter o seu relatório final votado. No curso dessa CPI,
José Mentor como relator fez pelo
menos sete requerimentos de
quebra de sigilos de operações do
Banco Rural, uma das instituições
hoje citadas como depositárias de
dinheiro do "mensalão".
No seu relatório sobre a CPI do
Banestado, Mentor não analisa os
dados sobre os sigilos quebrados
do Banco Rural nem menciona se
os recebeu. A única citação que
faz a essa instituição é anódina
-sobre um processo em curso
no Banco Central.
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