São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2008

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JANIO DE FREITAS

A recriação da bomba


O inquérito de Protógenes criou uma bomba e deixou-a caindo de pára-quedas; onde cairá não se sabe

O RELATÓRIO DE FATO conclusivo do caso Dantas/Nahas/ Pitta será muito diferente daquele já apresentado pelo delegado Protógenes Queiroz, mas não só em razão do vasto material apreendido e ainda não examinado. A opinião consolidada na alta hierarquia da Polícia Federal é que o chefe do inquérito, além de afrontar várias normas da PF, minou o trabalho policial com erros técnicos e o relatório com deduções precárias e mais emocionalismo do que lógica. Diante dessa constatação, a tarefa do novo e numeroso grupo incumbido do inquérito é, para proceder às correções, o mesmo que recomeçá-lo do início, enquanto esmiuça o material ainda intocado.
Daí sobressai uma conclusão imediata: numerosos dados objetivos contrapõem-se aos questionamentos à saída, seja forçada ou não, de Protógenes Queiroz da Operação Satiagraha, em que não só o batismo foi presunçoso e ruim. Sua saída é muito positiva. Abre a possibilidade, adiante das indispensáveis correções, de esclarecimentos há muito tempo necessários a respeito das tantas polêmicas e interrogações suscitadas por Daniel Dantas, pessoais inclusive. Por certo ele é diferenciado dos seus congêneres por uma espécie de má vontade a priori dos jornais&cia., mas não é menos certo, até por isso, que a clareza sobre suas incógnitas pode trazer à claridade figuras e negócios, em sua área de ação, ainda mais encobertos. Não só brasileiros.
A apreciação feita na PF do relatório de Protógenes Queiroz combina com as observações possíveis de sua conduta nas últimas semanas. A par da impressão de competência duvidosa, sob vários aspectos, mostrou-se carente de equilíbrio e bom senso. Ao acusar boicote ao seu inquérito, por negação de recursos humanos e materiais, o delegado desmoraliza a Polícia Federal, mas atinge, em pessoa, os chefes imediatos. Deles, porém, dizia na reunião em que foi firmado o seu afastamento:
"Devo praticamente 100% da execução dessa operação a dois homens de bem dessa Polícia Federal. Primeiramente, eu destaco dr. Roberto Troncon [diretor de Combate ao Crime Organizado]. Em segundo, dr. Leandro [superintendente da PF-SP]. Em terceiro, como coadjuvante dos dois, eu não poderia me esquecer aqui também do dr. Luiz Fernando Corrêa [diretor da PF], eu o prezo e tenho uma admiração muito grande". Se, apesar dessa opinião sobre os chefes, foi por eles boicotado, por que não apresentou queixa alguma no decorrer do longo inquérito?
Na mesma reunião, tanto disse que "precisaria de mais 30 dias" para concluir o inquérito, como disse que poderia tomar "rapidamente" o depoimento de Humberto Braz, ex-diretor da Brasil Telecom, e apresentar o relatório do inquérito quatro dias depois (sexta-feira passada). Como fez, com o acréscimo de nove indiciamentos. Ainda a propósito de prazos e afastamento, já em maio Protógenes Queiroz definira sua ida agora para o curso na Academia de Polícia, o que é visto como o motivo (ou um dos) para a data, dia 8 passado, em que apressou a "fase final" do inquérito, com as prisões.
O inquérito do delegado Protógenes Queiroz criou uma bomba e deixou-a caindo de pára-quedas. Onde cairá e que estragos finais fará não se sabe. De quando cairá, sabe-se um pouco: sabe-se que vai demorar, e só.


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