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FUNCIONALISMO
Pacote inclui aumento de 3,5% a funcionários dos três Poderes
Na véspera de greve, FHC
anuncia reajuste a servidor
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia antes da greve dos servidores públicos, o presidente Fernando Henrique Cardoso anunciou ontem um pacote salarial
que inclui um reajuste linear de
3,5% para os funcionários dos três
Poderes e reajustes diferenciados
para os servidores do Executivo,
que variam de 18% a 35%.
Somados a outras medidas salariais anunciadas ontem, os reajustes representam uma despesa adicional de R$ 3,139 bilhões no Orçamento de 2002. As medidas não
agradaram ao comando dos servidores, que decidiu manter a greve. Os reajustes constarão de projetos de lei a serem enviados ao
Congresso até o próximo dia 31,
junto com a proposta de Orçamento. Ou seja, valem para o salário do próximo ano. As propostas
do governo podem ser alteradas,
desde que o Congresso indique a
fonte de recursos, caso decida dar
reajuste maior.
O ministro do Planejamento,
Orçamento e Gestão, Martus Tavares, disse que parte da despesa
prevista volta ao Tesouro em forma de contribuições e impostos.
O gasto líquido é de R$ 1,8 bilhão,
que será custeado com a "compressão" ou realocação de outras
despesas do Orçamento, já que
não está previsto aumento da carga tributária.
Com esse pacote salarial, que
exclui apenas os militares, o governo federal espera esvaziar a
greve dos servidores federais prevista para começar hoje. Questionado a respeito da greve, FHC
afirmou que não era essa a preocupação do governo.
"Meu problema é seguir as instruções do Supremo [Tribunal
Federal" e fazer o máximo possível, dentro das condições existentes. Quanto à greve, a manifestação no Brasil é livre. Cada um tem
de olhar as condições do país e ver
se pode, se o que demanda é passível de ser atendido ou não. Se
acharem que o céu é o limite, podem pedir mais", afirmou.
Ao conceder o reajuste linear, o
governo federal cumpre decisão
tomada em abril pelo STF, que o
obriga a enviar projeto de lei ao
Congresso concedendo reajuste
no mesmo índice a todos os servidores. A decisão do Supremo, baseada em emenda constitucional
de 98 que determina a revisão geral dos salários, não cita índice
nem critério nem data.
O critério utilizado pelo governo para conceder o reajuste linear
(3,5%) foi a meta de inflação para
2002. O advogado-geral da União,
Gilmar Mendes, afirmou que esse
critério atende plenamente a decisão do Supremo.
Os servidores que terão maior
reajuste são os regidos pelo PCC
(Plano de Classificação de Cargos). Eles não têm uma carreira ligada a um órgão específico -como diplomatas, delegados da Polícia Federal, auditores da Receita,
entre outros- e foram excluídos
dos reajustes diferenciados que
vêm sendo concedidos desde 95.
Se por um lado o pacote salarial
pode ajudar a reverter os baixos
índices de popularidade de FHC,
por outro pode causar desgaste ao
governo, já que implica corte de
despesas em outras áreas, que não
foram definidas, segundo Martus.
FHC afirmou que o reajuste não
será do agrado de todos. "Nenhum de nós está satisfeito com o
que ganha. Nenhum servidor está
satisfeito com o que ganha e com
razão", disse, ressalvando os "casos escandalosos". Ele disse que ri
consigo mesmo quando ouve que
o maior salário do Executivo deve
ser o do presidente (R$ 8.500),
porque algumas pessoas recebem
"até dez vezes mais" do que isso.
As medidas
Os reajustes anunciados pelo
governo são os seguintes:
1) reajuste linear de 3,5% para
todos os servidores dos três Poderes, num total de 1,4 milhão, com
custo de R$ 1,422 bilhão;
2) reajuste de 3,17% para os 699
mil servidores federais ativos e
inativos, retroativo a 95, com custo de R$ 403 milhões. Esse índice é
reivindicado pelos servidores do
Executivo por conta de reajuste
no mesmo índice concedido pelos
outros Poderes no fim de 94. Os
dois índices (3,5% e 3,17%) representam reajuste de 6,78%. A parte
retroativa será dividida em parcelas, ainda não definidas;
3) gratificações de desempenho
para os 255 mil funcionários ativos (PCC) que, acumuladas com
os dois índices anteriores, representam um reajuste de 35% para
os servidores de nível superior,
20% para os de nível intermediário e 18% para os de nível auxiliar.
Está em discussão a extensão das
gratificações aos inativos.
Além dos reajustes, FHC anunciou que a proposta para o Orçamento vai destinar R$ 87 milhões
para a reestruturação salarial de
outros cargos e carreiras de Estado cujos salários estejam defasados e R$ 500 milhões para novas
contratações por concurso.
Disse também que serão pagas
de uma vez, neste ano, as nove últimas parcelas do reajuste de
28,86% para aposentados por invalidez e doentes graves. Por fim,
ainda neste ano, o governo vai devolver a 180 mil servidores ativos e
inativos cerca de R$ 70 milhões
cobrados a título de contribuição
previdenciária, considerada inconstitucional em 99 pelo STF.
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