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OLHAR ESTRANGEIRO
Eleição consolida democracia
JUAN ARIAS
Nunca antes a Europa, e
mais concretamente a Espanha, um dos maiores investidores
estrangeiros no Brasil, tinha
acompanhado uma eleição presidencial brasileira com tamanho
interesse. E não é apenas pelo impacto econômico que uma mudança política poderá acarretar
para as empresas que investem
neste país. Existe algo mais: a opinião européia, de modo geral, hoje vê o Brasil como uma reserva
da Ibero-América, na medida em
que o Brasil é hoje um dos países
vistos como exemplares, devido à
mistura pacífica de raças e religiões que o compõem. É um Brasil, sem dúvida alguma, com vocação de liderança.
Na condição de observador estrangeiro, noto novidades importantes nestas eleições. A mais evidente delas é o comportamento
maduro dos grandes meios de comunicação, que, até o momento,
não ficam devendo em nada à
mídia européia em termos de imparcialidade e objetividade.
Outra surpresa é a maturidade
política da população. Se antes se
criticava o fato de as eleições no
Brasil serem decididas sobretudo
pela televisão, hoje isso já não
acontece.
Tenho ouvido pessoas sem instrução, trabalhadores do campo e
da construção civil, motoristas de
táxi e ambulantes fazer análises
da situação do país, suas preferências, suas dúvidas diante das
urnas, que não ficam nada a dever às de muitos analistas. O Brasil amadureceu de alto a baixo.
Existe, também, uma terceira
anomalia. Está acabando a chamada ""era Cardoso". Foram oito
anos cujas conquistas para o país
podem ser discutidas, mas não
negadas.
Nas convulsões econômicas
mundiais, todas as crises -a
asiática, a russa e a argentina-
acabaram parando neste país, cuja moeda já resistiu a três vendavais. Visto no exterior como um
dos grandes estadistas da América, Cardoso chega ao fim de sua
gestão com cerca de 30% de aprovação. Por que o candidato escolhido para defender sua gestão
não consegue sair do fim da fila?
Desejo de mudança
As sondagens dizem que 80%
dos brasileiros querem uma mudança. Mas mudança é um conceito ambíguo. Na Espanha, tivemos uma primeira "mudança enganosa" que nos tirou do túnel do
franquismo, levando-nos, com
Felipe González, para um socialismo moderado que foi capaz de
transformar a velha e atrasada
Espanha ditatorial num dos países mais modernos e prósperos da
Europa.
Mas chegou um momento em
que os espanhóis, que já tinham
se acomodado na democracia,
quiserem mudar de cara. A direita aproveitou para apresentar-se
como alternativa moderna, com o
jovem Aznar. Elegeram-no como
o candidato novo, quando, na
realidade, era o herdeiro do velho
partido franquista, apesar de ostentar nova roupagem. Neste momento, ainda não se enxerga com
clareza que tipo de mudança desejam os eleitores brasileiros.
Os europeus, em nível mais popular, não escondem uma certa
simpatia pelo indomável lutador
Lula, que arrisca a sorte pela
quarta vez, embora a preferência
dos empresários seja por Serra.
Mas o que os tranquiliza, apesar de tudo, é que o Brasil já tem
sua democracia consolidada; que
ficaram para trás, muito distantes, os velhos sabres militares, e
que nenhum dos candidatos está
propondo alternativas revolucionárias capazes de alterar o rumo
democrático do país. E isso não é
pouco.
Juan Arias, correspondente no Brasil do
jornal espanhol "El País", escreve mensalmente nesta seção, às quintas-feiras
Tradução de Clara Allain
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