São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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Tanga original não era lilás nem de crochê

DA SUCURSAL DO RIO

Todo mundo já ouviu falar da tanga de crochê lilás que Fernando Gabeira teria usado nas areias de Ipanema a partir do final de 1979. Há quem diga que até a viu. Mas a original não era bem uma tanga, não era de crochê e muito menos lilás. "Vinha da Europa, acostumado a praias em que havia pessoas nuas. Peguei a parte de baixo do biquíni da Leda Nagle [jornalista, prima de Gabeira] e fui para a praia. Não era de crochê nem lilás. Era amarela e azul, cores da Suécia, onde havia morado, e de uma certa maneira do Brasil também", recorda Gabeira.
No verão de 1980, a tanga já estava puída. "Aí sim, fui a uma loja da Fiorucci e comprei uma tanga lilás, mas que não era de crochê. Era um outro material", conta.
Ele havia se comprometido com integrantes do jornal "O Lampião", que lançava a bandeira do direito à variedade sexual, a defender o movimento. A tanga virou então símbolo de uma causa.
"Tanto o individualismo como o narcisismo, em determinado momento histórico, foram progressistas, quando era negada a individualidade e se estava subjugado a projetos coletivos que ignoravam uma série de fatores importantes", analisa hoje. "Colocado isso em cena, a absorção pelo capitalismo foi muito forte. A indústria da alimentação, do corpo, da beleza tomou forma colossal."
A "tanga de crochê lilás" foi a maior bandeira de marketing político-comportamental de 1980.


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