São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2005

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"Chefe" é citado 5 vezes em conversas

Joel Silva 17.ago.2005/Folha Imagem
Rogério Buratti, quando foi detido pela polícia em Ribeirão Preto


DOS ENVIADOS A RIBEIRÃO

DA FOLHA RIBEIRÃO

Nas gravações em poder do Ministério Público de Ribeirão Preto (SP) relativas às investigações sobre a máfia do lixo em cidades de São Paulo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, é mencionado de forma direta ou indireta em pelo menos cinco conversas, num conjunto de 230 interceptações telefônicas feitas com autorização da Justiça entre maio e setembro de 2004.
O ministro é tratado como "chefe" pelos ex-assessores Rogério Buratti (seu ex-secretário de Governo na Prefeitura de Ribeirão, em 1994) e Wladimir Poleto (ex-chefe de Controle Interno da prefeitura entre 2000 e 2001). Buratti confirmou, à Polícia Civil na última sexta-feira, que Palocci era o "chefe" citado nas conversas.
Buratti descreveu conversa em que mencionou o ministro. Trata-se de uma gravação de três minutos, em 3 de julho de 2004, na qual Poleto e Buratti falam sobre outro assessor de Palocci, Ademirson Silva, que buscava um telefone do banqueiro Edson Menezes para supostamente agendar um encontro. "Numa conversa com Wladimir, o mesmo me relatava que o Ademirson tinha ligado para que ele marcasse uma audiência dele com Palocci, tratando-se de negócio de um grupo que ele trabalhava, Monteiro de Castro ou Carvalho; que, conforme já afirmei anteriormente, quando se fala em "chefe", neste caso trata-se do Palocci", disse Buratti.
O período coberto pelas interceptações é posterior ao escândalo Waldomiro Diniz, que expôs o nome de Rogério Buratti. A possibilidade de estar sendo monitorado pode ter levado Buratti a empregar apelidos e apenas letras para se referir a pessoas da alta cúpula do Ministério da Fazenda.
De acordo com executivos da multinacional de informática GTech, eles foram orientados a pagar R$ 6 milhões para Buratti, como forma de garantir a assinatura da renovação do contrato da empresa com a Caixa Econômica Federal em abril de 2003.
Buratti passou a ser alvo de investigações também por suposta participação em fraudes de licitações na área da limpeza urbana no interior de São Paulo.
Em nenhum momento da investigação as vozes do ministro Antonio Palocci ou de seu chefe-de-gabinete, Juscelino Dourado, foram captadas pelos grampos.

Receita
Em um dos telefonemas, Buratti também sugere ter trânsito na Receita Federal. Ele foi acionado em maio do ano passado por um ex-sócio e amigo, Luiz Antonio Prado -que também foi chefe da Comissão de Licitações da prefeitura em 2002, na segunda gestão de Palocci em Ribeirão-, que queria ajuda para resolver um problema no órgão. O chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, volta a ser citado. Prado pede ajuda a Buratti para conseguir certidão negativa de débito com a Receita para participar de uma licitação em Ribeirão Preto.
A certidão serviria para a Assessorarte, empresa que organiza concursos públicos, disputar um leilão da Prefeitura de Ribeirão Preto. O próprio Buratti foi sócio dessa empresa até 2001 e sua irmã, Rosângela, era uma de suas diretoras até o ano passado.
Prado confirmou à Folha que recorreu a Buratti para tentar obter a certidão. "A Promotoria da Receita fez uns apontamentos de dívidas da Assessorarte que não existiam. Provei que os débitos eram infundados, mas não consegui a certidão", disse Prado.
Buratti diz que não podia falar com Juscelino por telefone e pede ao empresário que recorra a sua irmã. Segundo Prado, ele não conseguiu a certidão e sua empresa foi desclassificada da licitação. (RUBENS VALENTE, MÁRIO CÉSAR CARVALHO e ROGÉRIO PAGNAN)

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