São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2005

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CASO DA CUECA

Cresce indício de que dinheiro era propina

DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O ex-dirigente petista José Adalberto Vieira da Silva, flagrado em julho com R$ 200 mil numa mala e US$ 100 mil na cueca ao tentar embarcar de São Paulo para Fortaleza, já havia estado outras duas vezes na capital paulista neste ano. Nas duas ocasiões, em 23 de maio e em 3 de junho, trocou telefonemas com suspeitos de um esquema de propina.
Esses suspeitos são Kennedy Moura, então assessor especial do BNB (Banco do Nordeste do Brasil), e algum funcionário da empresa Cavan. A Cavan pertence à Alusa, integrante do consórcio STN (Sistema de Transmissão Nordeste), que no ano passado conseguiu uma concessão para construir e explorar rede de transmissão elétrica, com financiamento de R$ 300 milhões do BNB.
Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público indicam que o dinheiro encontrado com Adalberto pode ser de propina pelo favorecimento do consórcio.
O procurador da República Márcio Torres já identificou algumas "anormalidades":
1) O BNB deixou de respeitar uma norma interna, que limita os empréstimos em 5% do valor do patrimônio líquido do banco. O crédito ao STN representa 25% do patrimônio da instituição.
2) Pela primeira vez, o valor cedido pelo banco supera 70% do valor total do empreendimento, o que desrespeita norma do próprio Ministério da Integração Nacional, já que os recursos são do FNE (Fundo Constitucional do Nordeste). Para liberar os R$ 300 milhões, que representam 73,4% do empreendimento, foi necessária autorização especial, assinada pelo ministro Ciro Gomes.
3) Ao contrário de outras operações, foram dispensadas garantias hipotecárias, já que o STN não tem imóveis suficientes para cobrir o valor a ser emprestado. Para isso ser possível, foi até criado, no banco, um termo especial sobre "operações estruturadas".
Em depoimento, a ex-secretária de Moura, Maria Desirée Diniz Miranda, disse que em um sábado, 22 de maio, Moura convocou reunião extraordinária, da qual participaram representantes do STN e diretores do banco. A reunião tratou das garantias da STN para a liberação do crédito.
Outra estranheza apontada pela secretária é que parte da agenda de Moura, em um computador, foi apagada no final do ano passado, na véspera de depoimento à auditoria interna do banco.
A assessoria de imprensa do BNB nega ter havido qualquer irregularidade. "A operação obedeceu a todos os trâmites internos de análise e contratação, assim como, de forma rigorosa, às práticas bancárias e de controle do mercado. As garantias que respaldam essa operação são típicas das usadas pelo mercado financeiro, público ou privado."
O advogado de Moura, Paulo Quezado, reafirmou que seu cliente não tem envolvimento no caso e que as investigações provarão isso. Adalberto não foi encontrado. A Cavan e o STN negam qualquer irregularidade no processo de concessão de crédito.


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