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CASO DA CUECA
Cresce indício de que dinheiro era propina
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
O ex-dirigente petista José
Adalberto Vieira da Silva, flagrado em julho com R$ 200 mil numa mala e US$ 100 mil na cueca
ao tentar embarcar de São Paulo
para Fortaleza, já havia estado outras duas vezes na capital paulista
neste ano. Nas duas ocasiões, em
23 de maio e em 3 de junho, trocou telefonemas com suspeitos de
um esquema de propina.
Esses suspeitos são Kennedy
Moura, então assessor especial do
BNB (Banco do Nordeste do Brasil), e algum funcionário da empresa Cavan. A Cavan pertence à
Alusa, integrante do consórcio
STN (Sistema de Transmissão
Nordeste), que no ano passado
conseguiu uma concessão para
construir e explorar rede de transmissão elétrica, com financiamento de R$ 300 milhões do BNB.
Investigações da Polícia Federal
e do Ministério Público indicam
que o dinheiro encontrado com
Adalberto pode ser de propina
pelo favorecimento do consórcio.
O procurador da República
Márcio Torres já identificou algumas "anormalidades":
1) O BNB deixou de respeitar
uma norma interna, que limita os
empréstimos em 5% do valor do
patrimônio líquido do banco. O
crédito ao STN representa 25% do
patrimônio da instituição.
2) Pela primeira vez, o valor cedido pelo banco supera 70% do
valor total do empreendimento, o
que desrespeita norma do próprio Ministério da Integração Nacional, já que os recursos são do
FNE (Fundo Constitucional do
Nordeste). Para liberar os R$ 300
milhões, que representam 73,4%
do empreendimento, foi necessária autorização especial, assinada
pelo ministro Ciro Gomes.
3) Ao contrário de outras operações, foram dispensadas garantias hipotecárias, já que o STN
não tem imóveis suficientes para
cobrir o valor a ser emprestado.
Para isso ser possível, foi até criado, no banco, um termo especial
sobre "operações estruturadas".
Em depoimento, a ex-secretária
de Moura, Maria Desirée Diniz
Miranda, disse que em um sábado, 22 de maio, Moura convocou
reunião extraordinária, da qual
participaram representantes do
STN e diretores do banco. A reunião tratou das garantias da STN
para a liberação do crédito.
Outra estranheza apontada pela
secretária é que parte da agenda
de Moura, em um computador,
foi apagada no final do ano passado, na véspera de depoimento à
auditoria interna do banco.
A assessoria de imprensa do
BNB nega ter havido qualquer irregularidade. "A operação obedeceu a todos os trâmites internos
de análise e contratação, assim
como, de forma rigorosa, às práticas bancárias e de controle do
mercado. As garantias que respaldam essa operação são típicas das
usadas pelo mercado financeiro,
público ou privado."
O advogado de Moura, Paulo
Quezado, reafirmou que seu
cliente não tem envolvimento no
caso e que as investigações provarão isso. Adalberto não foi encontrado. A Cavan e o STN negam
qualquer irregularidade no processo de concessão de crédito.
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