São Paulo, segunda-feira, 22 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LIGAÇÕES PERIGOSAS

"Homem de máquina", Okamotto é especialista em resolver problemas; ele foi tesoureiro da primeira campanha do presidente e dirigiu o PT-SP

"Japonês" trabalha com Lula desde que ambos eram metalúrgicos

DA REPORTAGEM LOCAL

Paulo Okamotto, 49, falou pouco desde que seu nome foi envolvido na crise política. Assumiu a autoria do pagamento de uma dívida do presidente Lula com o PT, deu as explicações que considerou necessárias e se recolheu.
Amigos contam que se trata de uma característica sua quando tem de lidar com algo do qual não é íntimo, no caso, a exposição pública. Nos quase 30 anos de atividade política, sempre evitou a linha de frente, mesmo tendo como escola uma entidade de massas, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
Foi onde conheceu Lula, presidente do sindicato, nas greves do final dos anos 70. Desde então Okamotto, ou "japonês", como o presidente costuma chamá-lo nas horas de descontração, se especializou em resolver problemas.
Okamotto nasceu em Mauá e, aos 6 anos, já trabalhava. Fez de tudo um pouco até ingressar em um curso de metalurgia, arrumar um emprego na Brastemp e iniciar sua militância sindical.
"Na hora que tinha de resolver as coisas, era frio. Muitos diziam que negociar com ele era como tratar com uma pedra", afirma o ex-colega de sindicato e ex-deputado petista Expedito Soares.
Em 1981, com a cassação no ano anterior da diretoria de Lula, Okamotto integrou o novo comando do sindicato, assumindo a tesouraria, onde ficou até 1984. Foi eleito na chapa de Jair Meneguelli, hoje presidente do conselho do Sesi (Serviço Social da Indústria).

Pancadas
Na época, Meneguelli estava apreensivo. Militante obscuro, foi o escolhido de Lula para sucedê-lo na presidência do sindicato.
De Okamotto e de Osvaldo Bargas, atual secretário de Relações do Trabalho do governo e, à época, candidato a secretário-geral do sindicato, Meneguelli lembra-se de ter ouvido a seguinte frase: "Pode deixar que nós levamos as pancadas pra preservar você, que é o presidente. As coisas ruins nós fazemos, as boas você faz".
A fidelidade e o estilo a um só tempo centralizador e cumpridor aproximou Okamotto de Lula. Ele participou da montagem do PT -foi presidente do diretório estadual do partido- e da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Apesar da dureza do "japonês", que contrasta com perfil emotivo de Lula, ambos cultivam o mesmo bom humor em momentos informais, muitos deles vividos na pequena chácara do presidente, que fica em Riacho Grande.
Em 1986, Okamotto coordenou a campanha a deputado do líder petista. Sem dinheiro, preparava santinhos em folhas de sulfite.
A parceria eleitoral prosseguiu em 1989, quando foi tesoureiro de Lula -anos depois, foi acusado de receber ajuda de um sindicato na campanha, o que é proibido.
Em 1990, com a derrota nas eleições, o "japonês" deixou os cargos de direção entre os metalúrgicos para assumir a tarefa de tocar o Instituto Cidadania, organização não-governamental de Lula.
Paralelamente, administrou a casa noturna KVA, em São Paulo, de propriedade de Marília Andrade, outra amiga do presidente. Marília abrigou a jovem Lurian em Paris, após a mãe dela, Mirian Cordeiro, ex-namorada de Lula, ir ao programa eleitoral do então candidato Fernando Collor, em 1989, para acusar o petista de tentar forçá-la a abortar a filha.
A ajuda pessoal de Okamotto a Lula se intensificou em 1998, quando Sadal Igushi, administrador do Sindicato dos Metalúrgicos, morreu afogado. Igushi era o contador de Lula. Okamotto, então, assumiu essa tarefa.
"Ele sempre cuidou das coisas do Lula", afirma o ex-sindicalista Francisco Dias Barbosa, o Chicão, também amigo do presidente e hoje funcionário do Sesi. "A luta faz isso com a gente. Entre nós, o que mais existiu foi solidariedade", diz Chicão. Com a vitória de Lula, Okamotto assumiu uma diretoria do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). Neste ano, o presidente fez valer a "solidariedade" de amigo e o indicou para comandar a instituição. (CONRADO CORSALETTE E LAURA CAPRIGLIONE)

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