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Renan não prova saldo para pensão, diz laudo
Perícia feita pela PF foi entregue ontem à noite ao Conselho de Ética e contesta defesa apresentada por presidente do Senado
Casa investiga suspeita de que ele teria usado recursos de empreiteira para pagar pensão a jornalista; senador não foi localizado pela Folha
Ueslei Marcelino/Folha Imagem
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Renan Calheiros preside reunião sobre Gim Argello, ontem |
SILVIO NAVARRO
FERNANDA KRAKOVICS
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Quase um mês após começar
a analisar os documentos do
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), a Polícia Federal entregou ontem um
laudo ao Conselho de Ética da
Casa no qual diz que os papéis
não comprovam que o dinheiro
que saiu da conta do senador foi
utilizado para pagar pensão à
jornalista Mônica Veloso.
Esse ponto, considerado crucial no processo que o senador
enfrenta, foi respondido nas
questões de número 24 e 25 entre as 30 formuladas pelos relatores do caso. Os peritos do Instituto Nacional de Criminalística alegam que faltaram comprovantes de saques e depósitos para mapear o caminho do
dinheiro até a conta de Mônica.
"Não foram identificados saques em espécie ou transferências bancárias na conta corrente enviada ao exame [...] Assim,
faltam parâmetros que permitam afirmar se o representado
possui ou não saldo para realizar os pagamentos", diz o laudo. Os peritos também afirmaram, em resposta à questão 14,
que os documentos apresentados por Renan não são suficientes para atestar sua capacidade
financeira para arcar com uma
pensão de R$ 12 mil mensais.
Outro ponto que complica a
situação de Renan trata da evolução de seu patrimônio. A lacuna, diz a PF, ocorreu no ano
de 2005, onde foi detectada falta "superior a R$ 24.500".
Em resposta ao quesito 11, relatou: "A variação patrimonial
apresentada por José Renan
Vasconcelos Calheiros não se
mostrou compatível com os
respectivos rendimentos declarados à Receita Federal, no
ano calendário de 2005".
Especificamente sobre o cruzamento das notas fiscais com
o patrimônio do senador, a PF
concluiu que, em 2004, a renda
declarada por Renan decorrente de venda de gado é "incompatível" com as notas fiscais
apresentadas. Em 2005 e 2006,
a situação está regular.
Apesar de atestar a autenticidade material das notas fiscais
apresentadas e das GTAs (guia
para transportar gado), a PF diz
que "ideologicamente" não se
comprovou efetivamente as
operações de venda de gado e o
trânsito de animais. Além disso, na questão 15, que pergunta
se pelos documentos apresentados é possível afirmar se a
quantidade de gado vendido
era mesmo de Renan, os peritos
disseram que não, devido a "inconsistências" nos documentos examinados.
Também foi percebida incongruência entre a quantidade de vacinas contra a febre aftosa adquiridas e o número de
bois declarados. Há um agravante: "para as vacinações
ocorridas em 25 de abril de
2004 e em 28 de outubro de
2005, as notas fiscais de aquisição das vacinas foram emitidas
após a vacinação", diz o laudo.
Um ponto favorável a Renan
é que os ganhos dele com venda
de gado são compatíveis com a
média dos valores de mercado.
O laudo tem 38 páginas, além
de anexos, e é assinado por quatro peritos. Pesa contra Renan
a acusação de que teria usado
recursos do lobista Cláudio
Gontijo, ligado à empreiteira
Mendes Júnior, para pagar, em
nome do senador, a pensão.
Procurada na noite de ontem, a assessoria de Renan não
foi localizada pela reportagem.
Com a perícia, líderes partidários e os próprios relatores
do processo no conselho começaram a definir suas posições
sobre o desfecho do caso.
Cassação
Dois relatores do processo,
Renato Casagrande (PSB-ES) e
Marisa Serrano (PSDB-MS), sinalizaram que pedirão a cassação do mandato. Em contrapartida, o terceiro relator, Almeida Lima (PMDB-SE), fala
abertamente em absolvê-lo.
Diante de um novo apelo do
líder do PSDB, Arthur Virgílio
(AM), para que se afastasse do
cargo, Renan disse que "não
sairá, porque a mera saída significaria compactuar com a
mentira". "Torço para que seja
uma perícia técnica", disse.
Em outra frente aberta contra Renan, o usineiro e ex-deputado federal João Lyra (PTB-AL) se ofereceu para uma acareação com o presidente do Senado. Ele acusa o presidente do
Senado de ter comprado rádios
e um jornal, por meio de "laranjas", com dinheiro de origem
desconhecida. Renan reagiu
com ironia à proposta.
Leia as 30 perguntas enviadas pelo Senado à PF
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