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Calote rural engole lucro do BB
ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
O Banco do Brasil teria lucrado
R$ 2,262 bilhões no primeiro semestre, cifra recorde na história
bancária do país, não fosse uma
provisão gigantesca feita pela instituição para cobrir o calote de
grandes produtores rurais.
O banco fez uma provisão (dinheiro que fica separado no balanço para absorver prejuízos) de
R$ 1,688 bilhão para fazer frente à
inadimplência de créditos que remontam ao Plano Real e foram
considerados saudáveis durante
anos, graças a autorizações do
Conselho Monetário Nacional.
O calote agrícola reduziu o lucro
do BB para R$ 574 milhões e impediu que o banco superasse, em
apenas um semestre, o lucro histórico anual de R$ 2,037 bilhões
registrado pelo Banespa em 1997.
As dívidas dos grandes produtores só foram provisionadas porque neste ano a desvalorização do
real gerou uma receita extraordinária de R$ 2,7 bilhões ao banco.
Se os ganhos cambiais não tivessem reforçado a receita do BB,
o provisionamento poderia ter sido adiado para o final do ano, graças à prorrogação do prazo para a
renegociação das dívidas rurais
acima de R$ 200 mil.
O prazo terminou no dia 2. O
governo já anunciou sua extensão
até dezembro. Até agora, foram
renegociados R$ 2,109 bilhões.
O balanço do BB também deverá ser resguardado com o adiamento do pagamento de R$ 1,150
bilhão de pequenas dívidas de
agricultores (abaixo de R$ 200
mil), que vence em 31 de outubro.
A parcela se refere às dívidas renegociadas em 1995 na chamada
securitização, com prazo de dez
anos e juros de 3% anuais.
O arranjo foi colocado em prática nos dois últimos anos.
Na securitização, o Tesouro
emitiu títulos no valor da dívida,
R$ 7 bilhões, e os entregou ao BB.
Esse papéis permitiram ao banco
conceder prazo de até dez anos
aos agricultores. O combinado na
securitização era que o BB devolvesse os títulos ao Tesouro assim
que vencesse cada uma das parcelas, tendo ou não recebido dos
agricultores.
Mas essa regra não foi aplicada
nas duas primeiras parcelas da securitização. Em 1997, os agricultores pagaram apenas R$ 350 milhões dos R$ 700 milhões que tiveram vencimento, e o resto foi
adiado para um ano após a última
parcela do contrato.
Pelo arranjo inicial da securitização, o BB deveria ter repassado
R$ 700 milhões em títulos ao Tesouro e ter absorvido a perda de
R$ 350 milhões. Mas o Tesouro
permitiu que o banco continuasse
com os títulos em carteira até o
vencimento. Em 1998, quando os
agricultores pagaram apenas R$
290 milhões da parcela de R$ 1,1
bilhão que teve vencimento, ocorreu um arranjo semelhante.
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