São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999
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Calote rural engole lucro do BB


ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília

O Banco do Brasil teria lucrado R$ 2,262 bilhões no primeiro semestre, cifra recorde na história bancária do país, não fosse uma provisão gigantesca feita pela instituição para cobrir o calote de grandes produtores rurais.
O banco fez uma provisão (dinheiro que fica separado no balanço para absorver prejuízos) de R$ 1,688 bilhão para fazer frente à inadimplência de créditos que remontam ao Plano Real e foram considerados saudáveis durante anos, graças a autorizações do Conselho Monetário Nacional.
O calote agrícola reduziu o lucro do BB para R$ 574 milhões e impediu que o banco superasse, em apenas um semestre, o lucro histórico anual de R$ 2,037 bilhões registrado pelo Banespa em 1997.
As dívidas dos grandes produtores só foram provisionadas porque neste ano a desvalorização do real gerou uma receita extraordinária de R$ 2,7 bilhões ao banco.
Se os ganhos cambiais não tivessem reforçado a receita do BB, o provisionamento poderia ter sido adiado para o final do ano, graças à prorrogação do prazo para a renegociação das dívidas rurais acima de R$ 200 mil.
O prazo terminou no dia 2. O governo já anunciou sua extensão até dezembro. Até agora, foram renegociados R$ 2,109 bilhões.
O balanço do BB também deverá ser resguardado com o adiamento do pagamento de R$ 1,150 bilhão de pequenas dívidas de agricultores (abaixo de R$ 200 mil), que vence em 31 de outubro. A parcela se refere às dívidas renegociadas em 1995 na chamada securitização, com prazo de dez anos e juros de 3% anuais.
O arranjo foi colocado em prática nos dois últimos anos.
Na securitização, o Tesouro emitiu títulos no valor da dívida, R$ 7 bilhões, e os entregou ao BB. Esse papéis permitiram ao banco conceder prazo de até dez anos aos agricultores. O combinado na securitização era que o BB devolvesse os títulos ao Tesouro assim que vencesse cada uma das parcelas, tendo ou não recebido dos agricultores.
Mas essa regra não foi aplicada nas duas primeiras parcelas da securitização. Em 1997, os agricultores pagaram apenas R$ 350 milhões dos R$ 700 milhões que tiveram vencimento, e o resto foi adiado para um ano após a última parcela do contrato.
Pelo arranjo inicial da securitização, o BB deveria ter repassado R$ 700 milhões em títulos ao Tesouro e ter absorvido a perda de R$ 350 milhões. Mas o Tesouro permitiu que o banco continuasse com os títulos em carteira até o vencimento. Em 1998, quando os agricultores pagaram apenas R$ 290 milhões da parcela de R$ 1,1 bilhão que teve vencimento, ocorreu um arranjo semelhante.


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