São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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JANIO DE FREITAS

Os tiros perdidos

A resposta intermediada pelo Datafolha veio clara e forte, com muito mais eloquência e firmeza do que a esperada, por todos os lados, diante da interrogação que dominou a semana: qual será o efeito dos pesados ataques, até abertamente antiéticos e fraudulentos, do programa de José Serra contra Luiz Inácio Lula da Silva?
Os quatro pontos ganhos por Lula, correspondentes a crescimento de mais 10% de uma semana para outra, e a queda de dois pontos de Serra respondem ainda a outra pergunta: as altas do dólar -a que não faltou a evidência de colaboração do Banco Central- e os faniquitos dos especuladores da Bolsa chegam a prejudicar Lula? A opinião generalizada tem sido afirmativa. A dos números, não.
A lógica mais simples apóia os números. Se três quartos do eleitorado declaram-se desejosos de um governo que mude as atuais políticas, o que também se evidencia pelos 75% que consideram o atual governo entre regular e péssimo, não tende a favorecer o candidato governista a perda de controle sobre o samba de uma nota só do governo Fernando Henrique, que é a aparência de estabilidade do real. Pelo mesmo motivo, a tese de "colagem" de Serra em Fernando Henrique e no governo, como tática eleitoral, não deveria ter esquecido que o grude é também para o negativo.
A ineficácia dos ataques baixos a Lula, até agora, mostra que José Serra poderia ter-se poupado de aceitar o recurso, em seu programa no horário eleitoral, a métodos identificados com Collor e sua turma. Ciro Gomes aliou-se a Serra, em ataques pesados a Lula, sem, no entanto, alcançar o objetivo aparente de dificultar a solução no primeiro turno, nem conseguir defender a si próprio. Como os dois pontos perdidos por Serra (21 para 19) e o ponto ganho por Anthony Garotinho (14 para 15), os dois perdidos por Ciro (15 para 13) estão na oscilação admitida pela margem de erro da pesquisa, mas confirmaram a tendência esperada e o situaram em último entre os quatro principais.
Ciro Gomes ganhou, judicialmente, o direito de examinar a pesquisa do Ibope publicada na última terça-feira. Isso vem coincidir com a preocupante diferença entre o Ibope, encomendado pela Confederação Nacional da Indústria, e o Datafolha. As datas das sondagens não explicam tanta diferença. O Ibope pesquisou na quarta e quinta, e o Datafolha, na sexta, o primeiro divulgando perda de dois pontos por Lula, ao que o segundo contrapôs a subida de 40% para 44%. Ciro ganha no Ibope dois pontos que perde no Datafolha. O único elemento de coincidência são os 19% de Serra, que aparecem pela terceira vez consecutiva no Ibope e, no Datafolha, pela queda de dois pontos.
Em disputa eleitoral com papel tão relevante atribuído às pesquisas, as divergências demasiadas e inexplicadas tornam-se perturbadoras para o eleitorado. (Como Ciro Gomes falou em influência de interesses comerciais nas pesquisas, é útil reiterar que o Datafolha não faz pesquisas eleitorais para candidatos, empresas ou entidades, senão apenas para uso jornalístico).
Até por falta de alternativa, o esperável é que Serra continue na tentativa de "descontruir" ao menos um pedaço de Lula, para haver segundo turno. Como, porém, o método não lhe melhora o índice de aceitação no eleitorado, passa a correr o risco de agir por um segundo turno a que chegue anêmico demais. Ou, se não atentar para os inexpressivos quatro pontos que o distanciam de Garotinho, nem chegue lá.

Uma voz
A ministra da Justiça alemã, Herta Daeubler-Gmelin, pode perder o cargo por ter dito que Bush quer guerra "para desviar a atenção de suas dificuldades internas, um método usado por Hitler".
Falou por meio mundo.


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