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ELIO GASPARI
Ave Lula, Ave grevistas
O melhor programa social
do governo de Lula está em
curso neste magnífico ano de
2004, aquele em que os trabalhadores saíram da pasmaceira
em que foram atirados em 1995.
Trabalhador não quer cartão,
quer salário. Esse sentimento já
levou mais de 1 milhão de brasileiros a disputar com os patrões
os reajustes de seus contracheques. São bancários, metalúrgicos, petroleiros e dezenas de outras categorias organizadas cujos orçamentos a ekipekonômica mordeu e a banca comeu.
Buscam uma parte do que lhes
foi tungado.
Pedem reajustes salariais com
a inflação (cerca de 7%) somada a um aumento real (coisa de
3% a 5%). São brasileiros que
ganham, grosseiramente, entre
R$ 1.500 e R$ 3.000. Ao seu lado
não há economistas-de-consultoria nem plenipotenciários do
Banco Mundial ou do FMI. É
gente que descende da choldra
parisiense que se reunia na place de Grève durante a Idade Média. Uma escumalha que nada
tem a botar no pano verde senão o suor de seu rosto. Gente
como o baiano Gilson Menezes,
que às 7h do dia 12 de maio de
1978 entrou na oficina da Scania, em São Bernardo, e parou a
fábrica, mostrando ao Brasil
que os trabalhadores podiam.
Estarreceu os sábios, estonteou
a ditadura. Meses depois, em comandita com o Dops, a firma
infiltraria olheiros nas assembléias. Não adiantou nada. Os
metalúrgicos e Gilson Menezes
puderam tanto que o presidente
do Sindicato de São Bernardo é
o atual presidente da República.
As greves e as reivindicações
dos trabalhadores são o reverso
do Brasil que entra na fila para
ganhar o Bolsa-Caraminguá.
Não fazem parte do Brasil da
solidariedade com a miséria, no
qual o ministro de combate à fome, visconde Patrus Ananias
(Desenvolvimento Social), tem
um funcionário (DAS 3) encarregado de seu cerimonial. São o
Brasil que não vive dos juros do
doutor Henrique Meirelles, não
opera na CC5 nem está no
"mensalão", mas produz o superávit comercial de US$ 30 bilhões.
Os trabalhadores das montadoras do ABC, do Paraná e da
Bahia já buscaram o seu. Os
bancários mandaram ao lixo
uma proposta patronal aceita
pela confederação dos empregados, filiada à CUT. Como diria
Lula, o brasileiro não desiste
nunca. Iansã e Santa Bárbara
quiseram que isso acontecesse
num governo em que três ex-presidentes de sindicatos de
bancários são chamados de
Vossa Excelência em Brasília
(Luiz Gushiken, Ricardo Berzoini e Olívio Dutra).
A mobilização dos trabalhadores não é incentivada por Lula, mas é uma esplêndida conseqüência de sua presença no Planalto. Em quase dois anos de governo ele importou um avião de
potentado árabe e entrou no
Copacabana Palace pela porta
dos fundos, mas nunca deu ao
empresariado um só sinal de
que estaria ao seu lado contra a
patuléia. Faz quase dez anos
que os tucanos esmigalharam
uma greve de petroleiros que
obrigava o trabalhador a carregar nas costas os botijões de gás
de cozinha.
As filas dos caixas eletrônicos
e das casas lotéricas foram criação da banca que não pagou salários decentes aos seus empregados. Antes de praguejar contra o trabalhador da iniciativa
privada parado, vale a pena
pensar no empregador que adoraria transformar um desconforto momentâneo numa satanização do grevista. É preferível
gramar a fila do caixa do que
cevar um condomínio financeiro que mantém quase 3 milhões
de trabalhadores nas filas do desemprego.
Greve é um momento perigoso
e sublime na vida do trabalhador. Não é um jogo de ganha-ganha. Há categorias que têm
força para derrotar os patrões e
há categorias que não a têm.
Quem não a tem, como os petroleiros de 1995, arrosta o fracasso.
É o jogo jogado.
O que o governo de Lula oferece ao país é um clima de ordem,
progresso e decência no qual as
reivindicações dos trabalhadores e mesmo suas greves são parte da paisagem, como seu Ômega australiano. O Bolsa-Dissídio
é o melhor dos programas sociais, pois dá ao cidadão a capacidade de lutar pelo valor do seu
trabalho, em vez de remunerá-lo pelo tamanho de sua miséria.
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