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Walfrido anotou caixa dois de Azeredo na eleição de 98
Valerioduto financiou aliado de Azeredo uma semana após registro do hoje ministro
Polícia Federal identificou transferência de R$ 200 mil do caixa dois do governador tucano para a candidata ao Senado Júnia Marise (PDT)
LEONARDO SOUZA
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na eleição de 1998, o hoje ministro Walfrido dos Mares Guia
(Relações Institucionais) registrou em dois manuscritos repasses a aliados de dinheiro da
campanha de Eduardo Azeredo
(PSDB-MG) que não foram declarados à Justiça Eleitoral. Ou
seja, caixa dois.
Em um dos casos citados pelo ministro, o da candidata ao
Senado Júnia Marise (PDT), a
Polícia Federal identificou a
entrada de R$ 200 mil do caixa
dois de Azeredo, operado pelo
empresário Marcos Valério de
Souza, nas contas pessoais de
dois assessores da política.
As transferências ocorreram
uma semana após a anotação
de Walfrido, a partir de uma
conta da SMPB, agência usada
para lavar o dinheiro nos esquemas do valerioduto nacional e mineiro. Dois assessores
de Marise disseram à PF que o
dinheiro veio do valerioduto
em troca de apoio a Azeredo.
Walfrido diz que não conhecia a origem do dinheiro e nega
que tenha participado oficialmente da campanha do então
governador, embora admita ter
integrado uma "força-tarefa"
no segundo turno na tentativa
reelegê-lo, o que não ocorreu.
Walfrido era vice de Azeredo.
No material apreendido pela
PF, há três manuscritos de
Walfrido, cuja autoria é reconhecida pelo ministro. Em um
deles, sem data, Walfrido fez
anotações de gastos. Segundo
ele, eram previsões de despesas
feitas na pré-campanha, entre
maio e junho de 1998. No papel,
Walfrido anotou R$ 500 mil
para JM e R$ 1 milhão para HG.
À PF, o ministro disse que eram
referências a Júnia Marise e ao
candidato ao Senado Hélio
Garcia (PTB). Além de ser do
mesmo partido de Walfrido, foi
pelo intermédio dele que o ministrou ingressou na política.
O segundo manuscrito é datado de 14 de outubro de 1998,
com a inscrição "fluxo de caixa". Nele, Walfrido voltou a
anotar JM e HG, sendo R$ 100
mil para a primeira e R$ 280
mil para o segundo. Uma semana depois, no dia 21 daquele
mês, dois assessores de Júnia
receberam, ao todo, R$ 200 mil
da SMPB. "Afirmou ter recebido o depósito da SMPB, no valor de R$ 175 mil, como contrapartida ao apoio da candidatura
de Eduardo Azeredo no segundo turno das eleições de 1998",
diz o relatório da PF sobre Maria Cristina Cardoso de Mello,
assessora de Marise. "Recebeu
R$ 25 mil em sua conta para
saldar empréstimo contraído
durante a campanha de 1998",
diz o texto sobre Antônio Marum, outro assessor de Júnia.
A assessoria de Azeredo, hoje
senador, informou que a campanha dele não declarou nenhuma doação aos dois candidatos. Tanto repasses de recursos como pagamento de despesas de outros políticos têm de
ser declarados. A Folha obteve
os documentos da prestação de
contas das campanhas de Júnia
Marise e de Hélio Garcia. Nenhum deles declarou doações
recebidas de Azeredo.
A PF não conseguiu rastrear,
no entanto, repasses da campanha de Azeredo para Garcia.
A polícia constatou que a
campanha de 98 de Azeredo
empregou um esquema de desvio e lavagem de dinheiro de
estatais mineiras para custear
despesas do candidato tucano e
de aliados. As "transações ilícitas" eram operadas por Valério.
Em seu relatório, a PF concluiu que o dinheiro que foi parar nas mãos dos assessores de
Júnia Marise foi desviado da
Cemig. Segundo o Ministério
Público, a fraude na companhia para alimentar a campanha de Azeredo, por meio de
patrocínios fictícios, foi de R$
1,5 milhão. Foi dessa conta, no
antigo BCN, que a SMPB repassou o dinheiro para os assessores da ex-senadora. Segundo a PF, Valério transferiu
R$ 28,515 milhões para a campanha do tucano, que só declarou R$ 8,55 milhões.
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