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PF não consegue abrir arquivos de Dantas
Criptografado, conteúdo de computadores apreendidos no apartamento do banqueiro no Rio não é acessado pela perícia
Envolvidos na investigação estudam pedir ajuda para a empresa americana que criou o código de segurança para proteger os arquivos
RUBENS VALENTE
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Dois meses e meio depois,
um dos principais materiais
apreendidos pela Polícia Federal no dia em que a Operação
Satiagraha foi deflagrada -cinco discos rígidos que estavam
no apartamento do banqueiro
Daniel Dantas, no Rio- permanece um enigma para os investigadores. Os HDs são protegidos por uma senha que a polícia
não havia conseguido, até a última sexta-feira, desvendar.
Numa análise inicial, peritos
da Polícia Federal disseram
que precisariam de um ano para quebrar os códigos. Um dos
peritos disse que nunca havia
visto um sistema de proteção
tão sofisticado no Brasil.
O delegado Protógenes Queiroz, que coordenou a Satiagraha, diz que os HDs "guardam
segredos da República".
Na época da operação, a PF
ventilou que 16 HDs haviam sido apreendidos numa "parede
falsa" na casa de Dantas, um
apartamento na avenida Vieira
Souto, em Ipanema, na zona sul
do Rio. Um investigador que
participou do cumprimento da
ordem judicial de busca e
apreensão no apartamento
confirmou que são cinco os
HDs. São unidades externas de
memória. Estavam dentro de
um armário com porta de correr, num corredor que dá acesso ao quarto da mulher de Dantas. Estavam guardados numa
sacola plástica.
Quando tentaram abrir os arquivos dos HDs, na superintendência da PF de São Paulo, os
peritos descobriram que o
acesso era criptografado. Isso
significa que quem criou os arquivos inseridos nos HDs usou
uma chave secreta para protegê-los. É como uma senha eletrônica. Sem ela, os arquivos,
quando abertos, aparecem embaralhados e incompreensíveis
na tela do computador.
O impasse levou os investigadores da PF a estudar uma alternativa jurídica para o rompimento do sigilo. Em conjunto
com o juiz federal Fausto De
Sanctis, informado há mais de
um mês sobre os problemas
nos HDs, os policiais discutem
a possibilidade de obrigar, por
ordem judicial, a empresa norte-americana que criou o software a fornecer as chaves eletrônicas que abrem os arquivos. É também aguardada a
chegada de um grupo de peritos
da PF de Brasília.
Não é a primeira vez que investigadores da Operação Satiagraha se vêem às voltas com
dados criptografados do banco
Opportunity, de Dantas. Em 28
de junho de 2006, os procuradores da República Rodrigo de
Grandis e Ana Carolina Alves
Araújo Roman informaram à 2ª
Vara Federal de São Paulo que
"muitos dos arquivos (mensagens de e-mail e anotações)"
que integravam o disco rígido
do banco estavam protegidos
por senhas sigilosas, "o que torna impossível o seu acesso".
Origem
Dados do HD do banco, que
fora apreendido em 2004 pela
Operação Chacal, da PF, foram
analisados e utilizados com ordem judicial na Satiagraha, que
nasceu com o objetivo de averiguar a possível participação das
empresas do grupo Opportunity no financiamento do mensalão. O HD foi copiado por ordem da Justiça Federal de São
Paulo. O ato da cópia, feita por
peritos da PF, foi acompanhado por representantes do Ministério Público Federal e um
advogado do Opportunity.
Em 2004, os procuradores
pediram à Justiça que oficiasse
a IBM, detentora do software
usado na criptografia, que
apresentasse dois técnicos "habilitados a trabalhar com o programa Lotus Notes e com sistema de criptografia".
A Folha apurou que a PF,
por meio de peritos do INC
(Instituto Nacional de Criminalística) de Brasília, conseguiu depois quebrar esses códigos. O INC informou aos procuradores que tinha condições
de romper o sigilo dos arquivos, que foram enviadas a Brasília. Foram desses discos que
saíram o que a PF julga serem
os principais indícios de que o
Opportunity cometeu uma série de fraudes financeiras.
Os discos não foram os únicos aparelhos que Dantas protegia com códigos. Ele usava
celulares criptografados, os
quais o banqueiro chamava de
"pretinhos". Quando precisava
ter conversa reservada, ele pedia ao interlocutor para falar
no "pretinho". Para gravar essas conversas, os investigadores tiveram de romper a codificação usada por executivos do
Opportunity em seus celulares.
No depoimento de seis horas
que prestou à CPI dos Grampos, em 13 de agosto, Dantas
não foi questionado sobre o
conteúdo dos HDs por nenhum parlamentar. Limitou-se
a responder uma pergunta genérica do presidente da comissão, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), se tinha ou não uma "parede falsa" no seu apartamento.
"Eu tenho um armário no meu
apartamento, com portas de
correr. São várias. Eu não tenho nenhuma parede falsa."
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