|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bancos que abasteceram o mensalão têm 1ª condenação
Decisão do Banco Central condena Rural e BMG e seus dirigentes; cabe recurso
Se punição for confirmada, instituições terão de pagar multas de até R$ 200 mil, e 17 diretores não poderão mais exercer suas funções
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os bancos Rural e BMG, instituições responsáveis pelo financiamento do esquema do
mensalão, sofreram as primeiras condenações administrativas por conta do caso.
A Folha teve acesso a um documento enviado no início do
mês pelo Banco Central ao ministro Joaquim Barbosa, relator da ação penal do mensalão
no STF (Supremo Tribunal Federal), informando que já foram proferidas decisões contra
as instituições em dois de três
processos administrativos punitivos relacionados ao esquema que tramitam no órgão.
O Banco Rural e seus administradores foram condenados,
em novembro de 2008, por
"conduzir operações de crédito
em desacordo com os princípios de seletividade, garantia e
liquidez", o que, segundo o BC,
caracteriza "infração grave na
condução dos interesses da
instituição financeira".
Já o BMG cometeu, segundo
o Banco Central, "infração de
natureza grave", também pela
concessão de crédito sem respeitar os mesmos princípios
não observados pelo Rural. A
decisão, tomada em novembro
de 2007, afirma que tais operações foram "direcionadas a
grupo específico de clientes".
Revelado em 2005 por entrevista do então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) à Folha,
o mensalão foi um esquema de
pagamento de propina a congressistas em troca de apoio ao
governo Lula. As investigações
mostraram que o dinheiro utilizado no caso foi proveniente
de empréstimos de fachada tomados no Rural e no BMG.
Os processos no BC ainda estão na fase de recursos, pendentes de julgamento no Conselho de Recursos do Sistema
Financeiro Nacional. Se a decisão for confirmada, 13 dirigentes do Rural e quatro do BMG
ficarão inabilitados, por períodos de um a oito anos, dependendo do caso, para o exercício
de cargos de direção na administração ou gerência em instituições sob fiscalização do BC.
A atual presidente do Conselho de Administração do Banco
Rural, Kátia Rabelo, por exemplo, se confirmada a condenação, não poderá exercer tais
funções por oito anos. Os bancos, por sua vez, deverão pagar
multa de R$ 200 mil e R$ 100
mil, respectivamente.
Procurado pela reportagem,
o BC informou que não se manifesta sobre processos ainda
não concluídos.
Existe ainda uma outra ação
administrativa contra o BMG
relacionada ao mensalão, mas
que ainda não foi julgada pelo
BC. O BMG responde por ter
deixado de informar o indício
de lavagem de dinheiro em
operações de créditos ocorridas na época. De acordo com o
documento, tudo leva a crer
que o crime tenha ocorrido,
"pelas características quanto às
partes envolvidas, pelos valores incompatíveis com a capacidade financeira dos tomadores, pela destinação dos recursos e pelo cadastro com informações incorretas".
O Rural e seus diretores foram denunciados pelo Ministério Público e hoje são réus na
ação que tramita no STF, por
empréstimos nunca pagos de
R$ 29 milhões a duas empresas
do publicitário Marcos Valério
em 2003, base para o processo
por gestão fraudulenta. Saques
em dinheiro em suas agências,
sem identificação precisa dos
sacadores, justificaram a abertura de ação por crime de lavagem de dinheiro.
O BMG não foi denunciado
pelo Ministério Público, mas
foi apontado no inquérito do
mensalão e pela CPI dos Correios como o outro banco que
abasteceu o valerioduto, com
mais três operações de crédito
também consideradas "de fachada" (R$ 26 milhões).
Entre 2003 e 2005, a direção
nacional do PT e o publicitário
Marcos Valério conseguiram
"rolar" 30 vezes os empréstimos que contraíram nos bancos Rural e BMG.
A Receita Federal já puniu
partidos políticos e pessoas físicas (com multas e, no caso
dos primeiros, com perda da
imunidade tributária) por irregularidades fiscais relativas ao
caso do mensalão, mas não se
sabe até aqui que tenha feito o
mesmo com os bancos envolvidos no esquema.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Outro lado: BMG afirma que cumpriu regras; Rural não comenta Índice
|