São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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AGENDA DA TRANSIÇÃO/JUROS, RENDA E CAPITAL

Com FHC, bancos lucram bem mais que investidores


Rentabilidade da carteira de títulos públicos dos bancos foi cerca de 54,8% superior à conseguida pelos fundos de renda fixa entre 1996 e 2001, ou seja, para cada R$ 1 que a classe média ganhou nesses seis anos, os bancos lucraram R$ 1,55


DA REPORTAGEM LOCAL

Mesmo entre os brasileiros que compraram papéis da dívida pública nos últimos seis anos, os ganhos distribuídos foram desiguais. A rentabilidade da carteira de títulos públicos dos bancos foi aproximadamente 54,8% superior à conseguida pelos fundos de renda fixa. Ou seja, para cada R$ 1 que a classe média ganhou no período, os bancos faturaram R$ 1,55.
As conclusões foram baseadas em levantamento feito pela consultoria ABM Consulting, a pedido da Folha, e em dados do site Fortuna, que faz um acompanhamento minucioso do mercado de fundos de investimento. O estudo da ABM Consulting mostra que a rentabilidade da carteira de títulos públicos dos bancos entre 1996 e 2001 chegou a 314%.
O cálculo foi feito com base nas receitas trimestrais e anuais dos bancos com títulos públicos em relação ao tamanho de suas carteiras com esses papéis.
No mesmo período, os fundos de renda fixa como um todo -cujas carteiras também são compostas principalmente por títulos públicos- tiveram rentabilidade de 202,8% (da qual está descontada a taxa de administração), segundo dados do Fortuna.
Enquanto a rentabilidade dos bancos superou a taxa do CDI (Certificados de Depósitos Interbancários) -usada como referência para as negociações de títulos no mercado- em cerca de 25,4% no período, a dos fundos de renda fixa ficou 19% abaixo.
"Essa diferença é explicada pelas altas taxas que os bancos cobram dos investidores para administrar seu dinheiro", diz o economista João Luís Máscolo, professor do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) e sócio da consultoria ForeSee.
Segundo o professor do Ibmec, o poder de barganha do investidor conta muito: "Os investidores que têm mais dinheiro para aplicar conseguem negociar taxas mais baixas", diz.

Diferença
Se não for considerada a taxa de administração cobrada dos fundos de renda fixa, a diferença de rentabilidade em relação às carteiras dos bancos tende a cair. Essa comparação, segundo especialistas consultados pela Folha, é, inclusive, mais justa.
Afinal, no caso da rentabilidade dos bancos, não estão descontados os gastos com a administração da carteira de títulos, embora todos admitam que essas despesas são bastante inferiores à taxa de administração cobrada nos fundos de renda fixa.
Como todos os dados disponíveis referentes à rentabilidade dos fundos já são líquidos de taxa de administração, especialistas sugeriram à Folha que levantasse a rentabilidade de fundos que não cobram taxa de administração ou nos quais esta é próxima de zero. A amostra também foi selecionada com base nos dados do site Fortuna.
Os resultados mostram que mesmo o grupo de fundos de renda fixa com taxa de administração próxima de zero teve rentabilidade acumulada de 241,5% entre 1996 e 2001, 30% inferior à conseguida pelos bancos. Ou seja, em todos os casos, a rentabilidade dos bancos tende a ser bem maior que a de outros investidores.
A diferença, segundo analistas, tem duas outras explicações, além da cobrança de taxas de gestão.
Os bancos têm a possibilidade de assumir mais riscos que os fundos de investimento:
"Os bancos podem se alavancar mais que os fundos nos negócios com títulos públicos. Assumem mais riscos, mas também têm chances de conseguir maiores ganhos", diz Máscolo.
Para Alberto Borges Matias, professor da USP (Universidade de São Paulo) e sócio da ABM Consulting, o patrimônio dos bancos tende a ser mais bem administrado do que a carteira dos fundos.
"Os títulos de maior rendimento acabam ficando nas carteiras dos bancos", diz Matias.
Segundo ele, os bancos geralmente também têm mais flexibilidade para se posicionar melhor do que os fundos.
"Na época da desvalorização cambial, por exemplo, quase todas as tesourarias dos bancos tiveram altos ganhos porque já haviam apostado contra o real", afirma Matias.


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