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ECOS DO REGIME
Arquivos indicam que imagens são de um padre canadense
Fotos divulgadas não são de Herzog, afirma o governo
IURI DANTAS
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo informou ontem que
as fotos divulgadas pela imprensa
nesta semana de um homem nu
não são do jornalista Vladimir
Herzog, morto em outubro de
1975. A Folha apurou que arquivos em posse do governo identificam o homem como sendo o padre canadense Leopoldo d'Astous, que viveu no Brasil até 1997.
Ontem, no fim da tarde, o ministro Nilmário Miranda (Direitos Humanos) divulgou nota à
imprensa confirmando que não é
Herzog quem aparece nas fotos.
"A direção da Agência Brasileira
de Inteligência me comunicou
hoje (21/10) que as fotos publicadas na imprensa durante esta semana não correspondem ao jornalista Vladimir Herzog."
Segundo a nota, "por ser uma
investigação ilegal" conduzida
pelo antigo SNI (Serviço Nacional
de Informações), o ministro negou-se a revelar os nomes das pessoas nas fotos. Procurada ontem,
a Abin recusou-se a comentar a
nota de Nilmário Miranda.
Além das três fotos, o arquivo à
disposição do presidente, ao qual
a Folha teve acesso, possui outras
seqüências anteriores e posteriores às três publicadas. Ao todo,
são mais de 30 fotos mostrando o
padre com uma mulher, que seria
Terezinha de Sales, de Brasília.
O padre começou a ser seguido
por espiões do regime militar no
início dos anos 70 por conta de
seus sermões, considerados "de
esquerda". Ele seria ligado ao
PCB, segundo informes da época.
Até 1997, d'Astous cuidava da paróquia São José Operário, na Asa
Norte, em Brasília. Na avaliação
dos militares, a espionagem era
uma forma de pressioná-lo a deixar suas idéias "subversivas".
Segundo os documentos arquivados, as três imagens divulgadas
foram registradas em 1973, em
uma chácara em Caldas Novas
(GO), onde o padre supostamente
passava o final de semana com a
mulher. Há fotos que mostram
cenas da chegada deles, dos dois
nus em uma cachoeira, passeios
na floresta e eles em um quarto. O
padre diz que eles foram forçados
a tirar as roupas e fotografados
(leia texto na página A5).
Após o incidente, o padre continuou sua vida normalmente em
Brasília. Reside no Canadá, mas
possui um apartamento na Asa
Norte, onde fica quando visita o
Brasil. Segundo pessoas próximas, ele esteve no primeiro semestre no país e foi a um churrasco na paróquia São José Operário.
Além da igreja, d'Astous também dava aulas na Universidade
Católica de Brasília. Ele lecionou
por dez anos -1º de abril de 1974
a 10 de agosto de 1984- e hoje
não mantém vínculo com a instituição. A UCB informou que não
poderia fornecer fotos do padre.
As três fotos foram publicadas
no domingo pelo jornal "Correio
Braziliense". Elas estavam na Comissão de Direitos Humanos da
Câmara dos Deputados desde
1997 e foram entregues pelo cabo
reformado José Alves Firmino.
Desde domingo, o Exército evitava negar a veracidade das fotos.
Setores de Inteligência da Força
possuem cópias do relatório que
investigou o padre Leopoldo
d'Astous. O problema é que, se o
Exército disser que as fotos não
mostram o jornalista, e sim o padre, estará admitindo que ainda
hoje guarda arquivos sobre a repressão política no regime militar.
Colaborou RANIER BRAGON, da Sucursal de Brasília
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