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Para Lula, país tem de omitir fato negativo
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Num discurso para agentes de
viagens, o presidente Luiz Inácio
da Silva afirmou ontem que os
brasileiros têm de exaltar as coisas
boas do país e saber "tratar" e
"mostrar" os fatos negativos, com
o objetivo de não macular a imagem do país nem afastar turistas.
"Nós temos problemas no Brasil? Nós temos de mostrar. Mas é
preciso que a gente discuta como
mostrar sem que isso afete a essência do nosso país, que é muito
maior do que esses problemas",
disse o presidente, que insistiu no
tema em boa parte de sua fala.
Apesar de reconhecer que há
violência no país, ele afirmou que
"ninguém vai num lugar se disserem que ali morrem 70 por dia" e
que a sociedade precisa discutir
como mostrar a criminalidade.
"Esses fatos existem? Existem.
Têm de ser tratados com seriedade? Têm. Mas eles não podem e
não servem para ajudar o turismo. Não quero que ninguém diga
que estou pedindo para não dizer
as coisas que acontecem, mas é
preciso saber como tratá-las", declarou Lula na abertura da 32ª feira da Abav (Associação Brasileira
de Agentes de Viagem), no Rio.
Ao explicar a forma de tratar os
assuntos, usou mais uma metáfora. Dessa vez, familiar: "Se o cidadão toma um cascudo da mulher
à noite porque chegou tarde, ele
não vai dizer: a minha mulher me
deu um cascudo. Ele vai dizer: a
minha mulher ficou brava, nervosa, mas a cabeça está doendo".
Lula comparou a situação à de
uma família que não revela suas
brigas. "Vocês não ficam contando as brigas de vocês dentro de
casa? É porque a gente quer preservar nossa família e nossa imagem", afirmou, conclamando as
pessoas a fazerem o mesmo com
o país, os Estados e as cidades.
Ao falar especificamente sobre
o Rio e dirigindo-se à governadora Rosinha Matheus (PMDB), o
presidente disse: "Precisamos
vender o Rio com o que ele tem de
bom. E tem muita coisa". Na visão
dele, há violência no Rio, mas é
necessário "relativizar" o tema.
Provocado pelo presidente da
Abav, Tasso Gadizanis, para
quem a exigência de visto para a
entrada de americanos afugenta
turistas, Lula afirmou que a situação reflete "a reciprocidade" no
tratamento destinado aos brasileiros. "Na política, tem uma coisa
chamada lei de reciprocidade. E
não é por causa de US$ 100 ou
US$ 50 que o americano não vem
aqui. Não é por isso. Precisamos
descobrir o porquê. O brasileiro é
obrigado a tirar o sapato e vai lá,
além de pagar US$ 100", disse.
O presidente também falou do
papel das embaixadas do país na
promoção do turismo, que, antes,
não teriam uma "orientação política". Aproveitou para contar
uma piada sobre o tema envolvendo um porteiro português.
Na posse de Eduardo Eugênio
Gouvêa Vieira para o quarto
mandato de presidente da Firjan
(Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Lula também pediu otimismo diante dos
problemas. "Se quiserem xingar o
presidente, podem xingar. Se quiserem ir ao banheiro desabafar
contra a Caixa, pode. Mas, na hora em que saírem do banheiro,
olhem para frente e falem: "Sou
brasileiro e não desisto nunca'".
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