São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Lula, país tem de omitir fato negativo

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Num discurso para agentes de viagens, o presidente Luiz Inácio da Silva afirmou ontem que os brasileiros têm de exaltar as coisas boas do país e saber "tratar" e "mostrar" os fatos negativos, com o objetivo de não macular a imagem do país nem afastar turistas.
"Nós temos problemas no Brasil? Nós temos de mostrar. Mas é preciso que a gente discuta como mostrar sem que isso afete a essência do nosso país, que é muito maior do que esses problemas", disse o presidente, que insistiu no tema em boa parte de sua fala.
Apesar de reconhecer que há violência no país, ele afirmou que "ninguém vai num lugar se disserem que ali morrem 70 por dia" e que a sociedade precisa discutir como mostrar a criminalidade.
"Esses fatos existem? Existem. Têm de ser tratados com seriedade? Têm. Mas eles não podem e não servem para ajudar o turismo. Não quero que ninguém diga que estou pedindo para não dizer as coisas que acontecem, mas é preciso saber como tratá-las", declarou Lula na abertura da 32ª feira da Abav (Associação Brasileira de Agentes de Viagem), no Rio.
Ao explicar a forma de tratar os assuntos, usou mais uma metáfora. Dessa vez, familiar: "Se o cidadão toma um cascudo da mulher à noite porque chegou tarde, ele não vai dizer: a minha mulher me deu um cascudo. Ele vai dizer: a minha mulher ficou brava, nervosa, mas a cabeça está doendo".
Lula comparou a situação à de uma família que não revela suas brigas. "Vocês não ficam contando as brigas de vocês dentro de casa? É porque a gente quer preservar nossa família e nossa imagem", afirmou, conclamando as pessoas a fazerem o mesmo com o país, os Estados e as cidades.
Ao falar especificamente sobre o Rio e dirigindo-se à governadora Rosinha Matheus (PMDB), o presidente disse: "Precisamos vender o Rio com o que ele tem de bom. E tem muita coisa". Na visão dele, há violência no Rio, mas é necessário "relativizar" o tema.
Provocado pelo presidente da Abav, Tasso Gadizanis, para quem a exigência de visto para a entrada de americanos afugenta turistas, Lula afirmou que a situação reflete "a reciprocidade" no tratamento destinado aos brasileiros. "Na política, tem uma coisa chamada lei de reciprocidade. E não é por causa de US$ 100 ou US$ 50 que o americano não vem aqui. Não é por isso. Precisamos descobrir o porquê. O brasileiro é obrigado a tirar o sapato e vai lá, além de pagar US$ 100", disse.
O presidente também falou do papel das embaixadas do país na promoção do turismo, que, antes, não teriam uma "orientação política". Aproveitou para contar uma piada sobre o tema envolvendo um porteiro português.
Na posse de Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira para o quarto mandato de presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Lula também pediu otimismo diante dos problemas. "Se quiserem xingar o presidente, podem xingar. Se quiserem ir ao banheiro desabafar contra a Caixa, pode. Mas, na hora em que saírem do banheiro, olhem para frente e falem: "Sou brasileiro e não desisto nunca'".


Texto Anterior: Presidente faz anedota sobre deputado que só pensava em reeleição
Próximo Texto: Votação de medidas fracassa na Câmara
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.