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ELEIÇÕES 2006 / CÂMARA
Dupla detém um terço dos bens; três dizem nada ter
Milionários têm até avião, pobres alegam que nem com carro próprio contam
Dono da Itapemirim lidera lista dos milionários eleitos com patrimônio de R$ 259 milhões; delegada diz ter um "salário de miséria"
DA AGÊNCIA FOLHA
Os deputados Camilo Cola
(PMDB-ES) e Odílio Balbinotti
(PMDB-PR) têm, juntos, um
terço do patrimônio total da
nova Câmara -R$ 382 milhões. Com fortunas de R$ 259
milhões e R$ 123 milhões, respectivamente, eles lideram a
lista de milionários entre os futuros parlamentares.
Cola vai cumprir seu primeiro cargo eletivo. Ele é dono do
Grupo Itapemirim, formado
por 17 empresas que atuam nas
áreas de transporte rodoviário,
agropecuária, mineração, turismo e informática.
Na declaração de Cola entregue à Justiça Eleitoral, existem
também propriedades agrícolas, terrenos, quatro automóveis, quatro casas e três apartamentos. Ele declara ter R$
32.600 de dinheiro em espécie.
Já Balbinotti, que começa em
2007 seu quarto mandato, é dono da Sementes Adriana, empresa produtora de soja em
Mato Grosso. Em sua declaração constam quatro aeronaves
e nove caminhões.
A reportagem tentou falar
com os dois deputados eleitos.
Cola, que segundo assessores
passava por procedimento médico na semana passada, não
quis dar entrevista à Folha.
Balbinotti também não foi localizado, pois participava, na
última sexta, de uma carreata
no Paraná.
O terceiro deputado mais rico da nova Câmara é Alfredo
Kaefer (PSDB-PR), que declarou ter R$ 72,1 milhões.
Sandro Mabel (PL-GO), deputado que foi acusado e absolvido de envolvimento com o
esquema do mensalão, é o
quarto, com R$ 69,8 milhões. O
quinto é o ex-prefeito de São
Paulo Paulo Maluf (PP-SP),
que afirmou ter bens avaliados
em R$ 38,9 milhões.
Em uma Câmara repleta de
milionários, três deputados
eleitos destoam do perfil. Eles
dizem que nada têm.
"Eu já tive, mas já me levaram tudo. Na política, quem
trabalha com seriedade perde
tudo o que tem. Quando me
candidatei pela primeira vez,
20 anos atrás, tinha fazenda,
gado. Hoje, infelizmente, não
tenho mais nada", afirma Jeronimo Reis (SE), 51.
Reis mora hoje na casa da sogra e diz que só conseguiu fazer
campanha com "dinheiro doado por amigos".
O vereador de Ilhéus (BA)
Raymundo Veloso (PPS), 78,
eleito neste ano para a Câmara,
afirma que nunca teve dinheiro. "Eu sou de uma família de
pessoas humildes. Meu pai era
mestre de obras, e minha mãe,
doméstica. Comecei a trabalhar como contínuo."
Mesmo depois de se formar
em direito, diz que trabalhou
praticamente de graça para as
pessoas carentes.
Ele afirma, no entanto, que
vai tentar ganhar dinheiro como deputado federal. "Tenho
que fazer um pé de meia durante esses quatro anos, dentro da
legalidade. Porque eu não sei
quando eu vou morrer."
Já a inspetora da Polícia Civil
Marina Maggessi (PPS-RJ), 47,
diz que só tem "um telefone celular". Conhecida por investigar facções criminosas como o
CV (Comando Vermelho), ela
afirma que "mora de aluguel no
Rio de Janeiro" e que "nem
carro" tem.
Segundo ela diz, a carreira
policial não lhe permitiu comprar nenhum bem. "Com esse
salário de miséria?", pergunta.
Questionada se, como deputada, a vida irá melhorar, ela não
titubeia: "Bastante. Pode ter
certeza".
(THIAGO REIS E JOÃO CARLOS MAGALHÃES)
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