São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / CÂMARA

Dupla detém um terço dos bens; três dizem nada ter

Milionários têm até avião, pobres alegam que nem com carro próprio contam

Dono da Itapemirim lidera lista dos milionários eleitos com patrimônio de R$ 259 milhões; delegada diz ter um "salário de miséria"

DA AGÊNCIA FOLHA

Os deputados Camilo Cola (PMDB-ES) e Odílio Balbinotti (PMDB-PR) têm, juntos, um terço do patrimônio total da nova Câmara -R$ 382 milhões. Com fortunas de R$ 259 milhões e R$ 123 milhões, respectivamente, eles lideram a lista de milionários entre os futuros parlamentares.
Cola vai cumprir seu primeiro cargo eletivo. Ele é dono do Grupo Itapemirim, formado por 17 empresas que atuam nas áreas de transporte rodoviário, agropecuária, mineração, turismo e informática.
Na declaração de Cola entregue à Justiça Eleitoral, existem também propriedades agrícolas, terrenos, quatro automóveis, quatro casas e três apartamentos. Ele declara ter R$ 32.600 de dinheiro em espécie.
Já Balbinotti, que começa em 2007 seu quarto mandato, é dono da Sementes Adriana, empresa produtora de soja em Mato Grosso. Em sua declaração constam quatro aeronaves e nove caminhões.
A reportagem tentou falar com os dois deputados eleitos. Cola, que segundo assessores passava por procedimento médico na semana passada, não quis dar entrevista à Folha. Balbinotti também não foi localizado, pois participava, na última sexta, de uma carreata no Paraná.
O terceiro deputado mais rico da nova Câmara é Alfredo Kaefer (PSDB-PR), que declarou ter R$ 72,1 milhões.
Sandro Mabel (PL-GO), deputado que foi acusado e absolvido de envolvimento com o esquema do mensalão, é o quarto, com R$ 69,8 milhões. O quinto é o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf (PP-SP), que afirmou ter bens avaliados em R$ 38,9 milhões.
Em uma Câmara repleta de milionários, três deputados eleitos destoam do perfil. Eles dizem que nada têm.
"Eu já tive, mas já me levaram tudo. Na política, quem trabalha com seriedade perde tudo o que tem. Quando me candidatei pela primeira vez, 20 anos atrás, tinha fazenda, gado. Hoje, infelizmente, não tenho mais nada", afirma Jeronimo Reis (SE), 51.
Reis mora hoje na casa da sogra e diz que só conseguiu fazer campanha com "dinheiro doado por amigos".
O vereador de Ilhéus (BA) Raymundo Veloso (PPS), 78, eleito neste ano para a Câmara, afirma que nunca teve dinheiro. "Eu sou de uma família de pessoas humildes. Meu pai era mestre de obras, e minha mãe, doméstica. Comecei a trabalhar como contínuo."
Mesmo depois de se formar em direito, diz que trabalhou praticamente de graça para as pessoas carentes.
Ele afirma, no entanto, que vai tentar ganhar dinheiro como deputado federal. "Tenho que fazer um pé de meia durante esses quatro anos, dentro da legalidade. Porque eu não sei quando eu vou morrer."
Já a inspetora da Polícia Civil Marina Maggessi (PPS-RJ), 47, diz que só tem "um telefone celular". Conhecida por investigar facções criminosas como o CV (Comando Vermelho), ela afirma que "mora de aluguel no Rio de Janeiro" e que "nem carro" tem.
Segundo ela diz, a carreira policial não lhe permitiu comprar nenhum bem. "Com esse salário de miséria?", pergunta. Questionada se, como deputada, a vida irá melhorar, ela não titubeia: "Bastante. Pode ter certeza". (THIAGO REIS E JOÃO CARLOS MAGALHÃES)


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