São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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Confronto entre sem-terra e segurança mata 2 no PR

Embate aconteceu ontem, em fazenda invadida por MST e Via Campesina

Propriedade da Syngenta, multinacional suíça, já havia sido invadida em 2006 e desocupada em julho; PMs e sem-terra seguem na área

Alexandre Espindola/ "Gazeta do Paraná"
Corpo de uma vítima do confronto entre sem-terra e seguranças em fazenda no interior do PR


LUIZ CARLOS DA CRUZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CASCAVEL

Duas pessoas morreram e oito ficaram feridas durante confronto entre trabalhadores rurais sem-terra e seguranças na fazenda experimental da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste (540 km de Curitiba-PR).
A fazenda -que faz experiências com material geneticamente modificado- foi invadida na manhã de ontem por aproximadamente 200 integrantes da Via Campesina e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
Entre os mortos está Valmir Mota de Oliveira, 32, conhecido como Keno, um dos principais líderes do MST na região oeste do Paraná. O segurança Fábio Ferreira, 25, também morreu. Segundo a PM, as duas mortes foram provocadas por disparos de arma de fogo.
Celso Ribeiro, um dos líderes da invasão, disse que os sem-terra chegaram à fazenda às 6h para "ocupar" a área de 127 hectares. O grupo estava acampado próximo à fazenda, que já havia sido invadida em março de 2006 e desocupada em julho deste ano.
No momento da invasão, oito seguranças foram expulsos pelo grupo. Por volta das 13h30, um microônibus com aproximadamente 35 seguranças chegaram à propriedade, segundo os sem-terra. Eles relatam que os seguranças estavam armados e chegaram atirando. O tiroteio durou cerca de 30 minutos. Em seguida, a maioria dos seguranças deixou a área.
Keno, que estava na entrada da fazenda, foi alvejado na perna e no tórax. Ele chegou a ser socorrido com vida, mas morreu a caminho do hospital. O segurança morreu no local.

"Questão de honra"
No final da tarde, lideranças dos sem-terra entregaram à Polícia Militar um revólver calibre 38 e três cassetetes, armas que dizem ter tomado dos seguranças durante o confronto.
O grupo que invadiu a área não pretende deixar o local. Sem citar nomes, Ribeiro acusa ruralistas da região que teriam apoio da multinacional pelo confronto. O governo do Estado determinou que a polícia fique de prontidão nas imediações da fazenda para evitar novos confrontos.
"Eles vieram dispostos a matar eu e o Keno", diz o líder sem-terra. "Agora é uma questão de honra manter a área ocupada", complementa.
Em nota, a Syngenta disse que "lamenta profundamente o incidente ocorrido (...) durante nova invasão".
"A empresa está colaborando com as autoridades locais na apuração do que, de fato, ocorreu na unidade. Portanto, ainda é prematuro para uma avaliação definitiva sobre o ocorrido", afirma a nota. " A Syngenta reforça que a política global da companhia determina que não se use força ou armas para proteger suas unidades."
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública do Estado, sete seguranças foram presos e autuados por formação de quadrilha, homicídio e exercício arbitrário das próprias razões, na delegacia de Cascavel.
Segundo seguranças presos, eles foram contratados por produtores rurais para expulsar os sem-terra da fazenda.

Histórico
A fazenda da Syngenta, em Santa Tereza do Oeste, já havia sido invadida em março de 2006 por trabalhadores rurais sem-terra ligados à Via Campesina. Desde então, é alvo de disputa judicial e política.
O governador Roberto Requião (PMDB) chegou a desapropriar a área para transformá-la numa unidade de pesquisas em agricultura.
Para justificar o decreto, o governo alegou que a fazenda está em área proibida para o plantio de sementes geneticamente modificadas. A empresa alegou que detinha autorização para realizar pesquisas na região, e a desapropriação foi anulada.
A fazenda da multinacional só foi totalmente desocupada em julho deste ano, após uma decisão da Justiça. O site da Syngenta diz que ela é "uma das líderes mundiais na área de agribusiness". O texto informa que suas vendas em 2006 foram de cerca de US$ 8,1 bilhões.


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