São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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Empresários não tiveram paciência, diz presidente

Houve "parada brusca desnecessária" para superar crise no final de 2008, afirma Lula

Sobre críticas à taxa de juros, o petista defende que esta é a menor "de muitas décadas", mas admite que poderia ser ainda menor

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para Lula, o empresariado decepcionou na crise: "Minha inconformidade é que houve nos meses de novembro e dezembro uma parada brusca desnecessária de alguns setores". Rebate críticas à política econômica dos governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), potenciais candidatos ao Planalto em 2010. (KENNEDY ALENCAR)

 

FOLHA - Em outubro de 2007, o sr. disse que tinha aprendido que era importante governar também para a burguesia. Como presidente, precisava governar para todos, pobres e ricos. Na crise econômica internacional, o que o sr. achou do papel dos empresários brasileiros?
LULA -
Alguns setores empresariais resolveram pôr o pé no breque de forma muito rápida.

FOLHA - No auge da crise, os bancos privados secaram o crédito. A Vale e a Embraer demitiram. Foi comportamento à altura do país naquele momento?
LULA -
Não foi. Foi precipitação do setor empresarial, que deveria ter tido a tranquilidade que o governo teve. Deveriam ter ouvido o pronunciamento de 22 de dezembro em que fui à TV contraditar a tese de que as pessoas não iam comprar por medo de perder emprego. Disse que iam perder emprego exatamente se não comprassem.

FOLHA - O sr. comprou algo?
LULA -
Geladeira nova.

FOLHA - E a sua opinião hoje sobre a burguesia, pós-crise?
LULA -
Não uso mais a palavra burguesia. O que me deixou decepcionado é que as pessoas deveriam ter tido paciência para ver o tamanho do buraco. Estava convencido do potencial do Brasil e do mercado interno.

FOLHA - Prorrogará a isenção de IPI para a linha branca?
LULA -
Se disser que vou prorrogar, as pessoas que iam comprar agora deixam de comprar.

FOLHA - Com o dólar no patamar de R$ 1,70 e juros altos na comparação com outros países, o sr. não teme viver uma crise cambial em 2010 ou deixar uma bomba-relógio para o sucessor?
LULA -
Nunca trabalhei com juros altos tendo como parâmetro outros países.

FOLHA - Mas os juros no Brasil são altos, e o sr. reclama.
LULA -
É a menor taxa de juros de muitas décadas.

FOLHA - A taxa básica não poderia estar menor?
LULA -
Poderia. Mas, descontada a inflação, temos 4% de juro real. O problema é o "spread" [diferença entre a taxa de captação de recursos pelo banco e a repassada aos clientes], que ainda está alto e o governo tem trabalhado para reduzir.

FOLHA - O governador de São Paulo, Serra, tem uma crítica...
LULA -
Depois respondo à crítica do Serra, que é menos importante para mim, para você e para o povo brasileiro. O câmbio sempre foi uma preocupação nossa. Se um dia você for presidente, vai entrar na sua sala uma turma reclamando que o dólar está baixo, porque é exportador e está perdendo.
Quando sai, entra a turma dos importadores, que acha que o dólar está maravilhoso. Agora, antes que aconteça uma superentrada de dólares, reduzindo muito o valor do dólar em relação ao real, criando problema na balança comercial e com algumas empresas exportadoras, demos um sinal com o IOF [Imposto sobre Operações Financeiras, que passou a ser cobrado no ingresso de capitais].

FOLHA - Especialistas dizem que o IOF será inócuo.
LULA -
Se for, mudamos.

FOLHA - A crítica básica do Serra é a seguinte: o BC jogou fora na crise um bilhete premiado, que seria a oportunidade de baixar mais os juros sem custo. Agora, a crise acabou, a taxa está alta e pode aumentar. O sr. jogou fora o bilhete premiado?
LULA -
Vivi os dois lados. Quando se é oposição, você acha, pensa. Quando é governo, faz ou não. Toma decisão. O Serra participou de governo por oito anos. Tiveram condições de tomar decisões e não tomaram.

FOLHA - Qual sua previsão de crescimento do PIB deste ano?
LULA -
Positivo, entre 1% e 1% e pouco. Se não houvesse a brecada brusca entre dezembro e janeiro, poderíamos ter crescido 2,5%, 3%.

FOLHA - Aécio Neves ataca o inchaço da máquina e diz que o sr. faz um governo para a "companheirada". Como o sr. responde?
LULA -
Tem pessoas que governam o Brasil para o imaginário de uma pequena casta. E tem pessoas que governam pensando em envolver 190 milhões de brasileiros. Quebramos o preconceito de que primeiro tem que enxugar a máquina, fazer o país crescer e, então, dividir.


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