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Lula afirma que projeto para taxar poupanças sai neste ano
Para presidente, não havia nada anormal com pagamento de restituições do IR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que
"vai mandar" a proposta de cobrança de Imposto de Renda
para quem tem saldo elevado
na caderneta de poupança ainda neste ano. Ele negou que o
projeto tenha sido engavetado.
A ideia original era taxar as
cadernetas com saldo acima de
R$ 50 mil, mas o presidente
afirmou que o governo pode
"discutir outras bases" para
efetuar a cobrança.
Lula declarou também que
"não havia nada de anormal"
no atraso do pagamento das
restituições do Imposto de
Renda. "No Brasil, já tivemos
momentos em que a devolução
atrasou. No nosso governo, tivemos momento em que adiantou". Mas reafirmou que deu
ordem para agilizar o pagamento: "Precisamos de consumo. Precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. Falei com o Guido: nós precisamos que o povo tenha dinheiro
para comprar. O povo tem de
ter o dinheiro em dezembro."
FOLHA - O sr. recuou no envio de
um projeto para cobrar Imposto de
Renda de poupanças acima de R$ 50
mil e mandou normalizar a devolução da restituição do IR. A lógica eleitoral, com temor de desgaste, autoriza a conclusão de que o sr. não pretende tomar medidas impopulares
até o final do governo?
LULA - [Risos]. Não faça injustiça. Não adiamos o envio do projeto de lei. Decidimos o que íamos fazer em março por unanimidade. A oposição, que imaginava pegar a poupança como
cavalo de batalha, ficou sem
discurso. Em vez de a Fazenda
mandar em março, como era algo que só valeria para 2010, esperou para mandar agora.
FOLHA - Vai enviar ao Congresso?
LULA - Vai mandar. Obviamente, poderemos discutir outras
bases. Vai mandar, vai mandar.
FOLHA - E sua ordem para normalizar o pagamento da restituição do
Imposto de Renda?
LULA - Não havia nada de anormal. No Brasil, já tivemos momentos em que a devolução
atrasou. No nosso governo, tivemos momento em que adiantou.
FOLHA - O ministro da Fazenda disse que estava atrasado, e o sr. deu a
ordem para acelerar.
LULA - Lógico, porque tem que
pagar. Nós precisamos de consumo. Precisamos que o povo
tenha dinheiro para comprar.
Falei com o Guido [Mantega]:
nós precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. O
povo tem de ter o dinheiro em
dezembro.
FOLHA - Popularidade demais faz
mal para um presidente?
LULA - Aprendi, ao longo da minha vida, a cair e levantar. Pesquisa de opinião pública é como medir a pressão.
FOLHA - O sr. acha legítimo o governo interferir na gestão de uma
empresa privada, como o sr. faz em
relação à Vale?
LULA - Não interferi na Vale.
FOLHA - Houve uma interferência
pública.
LULA - É preciso parar com essa mania de entender que só o
presidente da República tem
responsabilidade com o Brasil.
Os 190 milhões têm. E, mais
ainda, os empresários têm. E
aqueles que receberam benefício do governo têm mais ainda.
O que eu disse ao companheiro
Roger [Agnelli, presidente da
Vale] foi pedir para a empresa
colocar todo o seu poder de investimento em investimentos
internos. Não só na exploração
de minério, mas também na
transformação desses minérios
em aço. Tenho feito esforço em
vários países do mundo, ajudando a cavar espaço para que a
Vale seja empresa multinacional. Agora, não pode acontecer,
quando deu um sinal de crise,
mandar tanta gente embora como mandou. O Roger já sabe
que houve equívoco nisso.
FOLHA - Na fusão da Oi com a Brasil
Telecom, o sr. mudou a regra para
viabilizar um negócio de um empresário que é seu amigo e contribui para suas campanhas. Foi um benefício do Estado a um grupo privado. Isso não ultrapassa o limite ético?
LULA - Vocês são engraçadíssimos. Temos uma agência reguladora.
FOLHA - Mas o sr. assinou um decreto mudando a regra.
LULA - A legislação brasileira
permite que a agência faça a regulação que melhor atenda ao
mercado brasileiro. Estou convencido de que foi correta a decisão do governo.
FOLHA - O sr. cobrou um esclarecimento da ex-secretária da Receita
Lina Vieira. Ela diz ter achado a
agenda e a data, 9 de outubro, em
que teria se encontrado com Dilma e
ouvido o pedido para agilizar as investigações sobre Sarney. A ministra e o governo não devem esclarecimentos que o sr. mesmo cobrou?
LULA - É fantástico. O engraçado é que quando se levanta uma
tese, essa tese fica sendo martelada todo santo dia para ver se
ela vinga. Ora, o governo mesmo disse que a Lina tinha vindo
aqui em outubro. Isso foi nós
que dissemos. Acho estranho
tirar tantos dias de férias para
depois encontrar sua agenda.
FOLHA - Não é preciso mais explicações da Dilma?
LULA - Não tenho dúvida nenhuma. Também não tenho
dúvida de que a Lina também
deve ser uma grande funcionária pública. Muitas vezes as
pessoas são vítimas de uma palavra a mais ou a menos. Quando as pessoas viram vítimas de
utilização política, quando fulano procura alguém, e ninguém
fala diretamente, sempre alguém fala por eles, aprendi a
não levar muito a sério.
FOLHA - O sr. acha que Lina está
sendo usada?
LULA - A dona Lina é dona da
sua consciência. A dona Dilma
é dona da sua consciência.
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