São Paulo, quinta-feira, 22 de outubro de 2009

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Lula afirma que projeto para taxar poupanças sai neste ano

Para presidente, não havia nada anormal com pagamento de restituições do IR

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que "vai mandar" a proposta de cobrança de Imposto de Renda para quem tem saldo elevado na caderneta de poupança ainda neste ano. Ele negou que o projeto tenha sido engavetado.
A ideia original era taxar as cadernetas com saldo acima de R$ 50 mil, mas o presidente afirmou que o governo pode "discutir outras bases" para efetuar a cobrança.
Lula declarou também que "não havia nada de anormal" no atraso do pagamento das restituições do Imposto de Renda. "No Brasil, já tivemos momentos em que a devolução atrasou. No nosso governo, tivemos momento em que adiantou". Mas reafirmou que deu ordem para agilizar o pagamento: "Precisamos de consumo. Precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. Falei com o Guido: nós precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. O povo tem de ter o dinheiro em dezembro."

 

FOLHA - O sr. recuou no envio de um projeto para cobrar Imposto de Renda de poupanças acima de R$ 50 mil e mandou normalizar a devolução da restituição do IR. A lógica eleitoral, com temor de desgaste, autoriza a conclusão de que o sr. não pretende tomar medidas impopulares até o final do governo?
LULA -
[Risos]. Não faça injustiça. Não adiamos o envio do projeto de lei. Decidimos o que íamos fazer em março por unanimidade. A oposição, que imaginava pegar a poupança como cavalo de batalha, ficou sem discurso. Em vez de a Fazenda mandar em março, como era algo que só valeria para 2010, esperou para mandar agora.

FOLHA - Vai enviar ao Congresso?
LULA -
Vai mandar. Obviamente, poderemos discutir outras bases. Vai mandar, vai mandar.

FOLHA - E sua ordem para normalizar o pagamento da restituição do Imposto de Renda?
LULA -
Não havia nada de anormal. No Brasil, já tivemos momentos em que a devolução atrasou. No nosso governo, tivemos momento em que adiantou.

FOLHA - O ministro da Fazenda disse que estava atrasado, e o sr. deu a ordem para acelerar.
LULA -
Lógico, porque tem que pagar. Nós precisamos de consumo. Precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. Falei com o Guido [Mantega]: nós precisamos que o povo tenha dinheiro para comprar. O povo tem de ter o dinheiro em dezembro.

FOLHA - Popularidade demais faz mal para um presidente?
LULA -
Aprendi, ao longo da minha vida, a cair e levantar. Pesquisa de opinião pública é como medir a pressão.

FOLHA - O sr. acha legítimo o governo interferir na gestão de uma empresa privada, como o sr. faz em relação à Vale?
LULA -
Não interferi na Vale.

FOLHA - Houve uma interferência pública.
LULA -
É preciso parar com essa mania de entender que só o presidente da República tem responsabilidade com o Brasil.
Os 190 milhões têm. E, mais ainda, os empresários têm. E aqueles que receberam benefício do governo têm mais ainda.
O que eu disse ao companheiro Roger [Agnelli, presidente da Vale] foi pedir para a empresa colocar todo o seu poder de investimento em investimentos internos. Não só na exploração de minério, mas também na transformação desses minérios em aço. Tenho feito esforço em vários países do mundo, ajudando a cavar espaço para que a Vale seja empresa multinacional. Agora, não pode acontecer, quando deu um sinal de crise, mandar tanta gente embora como mandou. O Roger já sabe que houve equívoco nisso.

FOLHA - Na fusão da Oi com a Brasil Telecom, o sr. mudou a regra para viabilizar um negócio de um empresário que é seu amigo e contribui para suas campanhas. Foi um benefício do Estado a um grupo privado. Isso não ultrapassa o limite ético?
LULA -
Vocês são engraçadíssimos. Temos uma agência reguladora.

FOLHA - Mas o sr. assinou um decreto mudando a regra.
LULA -
A legislação brasileira permite que a agência faça a regulação que melhor atenda ao mercado brasileiro. Estou convencido de que foi correta a decisão do governo.

FOLHA - O sr. cobrou um esclarecimento da ex-secretária da Receita Lina Vieira. Ela diz ter achado a agenda e a data, 9 de outubro, em que teria se encontrado com Dilma e ouvido o pedido para agilizar as investigações sobre Sarney. A ministra e o governo não devem esclarecimentos que o sr. mesmo cobrou?
LULA -
É fantástico. O engraçado é que quando se levanta uma tese, essa tese fica sendo martelada todo santo dia para ver se ela vinga. Ora, o governo mesmo disse que a Lina tinha vindo aqui em outubro. Isso foi nós que dissemos. Acho estranho tirar tantos dias de férias para depois encontrar sua agenda.

FOLHA - Não é preciso mais explicações da Dilma?
LULA -
Não tenho dúvida nenhuma. Também não tenho dúvida de que a Lina também deve ser uma grande funcionária pública. Muitas vezes as pessoas são vítimas de uma palavra a mais ou a menos. Quando as pessoas viram vítimas de utilização política, quando fulano procura alguém, e ninguém fala diretamente, sempre alguém fala por eles, aprendi a não levar muito a sério.

FOLHA - O sr. acha que Lina está sendo usada?
LULA -
A dona Lina é dona da sua consciência. A dona Dilma é dona da sua consciência.


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