São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2004

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PT NO DIVÃ

Em resolução, alto comando do partido diz que fracassos se devem a questões locais

PT nacional contradiz Marta e poupa Lula pelas derrotas

CHICO DE GOIS
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL

Resolução aprovada ontem por maioria do Diretório Nacional do PT (34 votos contra 22 das tendências de esquerda) poupa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva das derrotas sofridas pelo partido, sobretudo nos grandes centros, como São Paulo e Porto Alegre, e, ao mesmo tempo, avalia que o presidente sai fortalecido com o resultado das eleições municipais, nas quais o PT elegeu 411 prefeitos. É uma avaliação diferente da apresentada anteontem pela prefeita Marta Suplicy.
"O desempenho positivo da economia foi um fator que nós consideramos positivo para o desempenho do PT nessas eleições em todo o país", afirmou o presidente do partido, José Genoino.
Quando trata das derrotas, o Diretório Nacional as atribui ao fortalecimento dos adversários, a supostos preconceitos difundidos contra o partido e a problemas locais. "As derrotas, certamente, encontram explicações em causas municipais e em causas gerais, relacionadas com a atuação do PT", afirma o documento.
"A disputa teve um caráter essencialmente municipal, com a incidência de alguns temas nacionais, principalmente no segundo turno, momento em que a disputa ficou mais polarizada", avalia o texto divulgado ontem. "De modo geral, o governo Lula exerceu uma influência equilibrada e positiva sobre o eleitorado."
A resolução aprovada pelo Diretório Nacional discrepa, em vários sentidos, a um documento distribuído à imprensa e lido por Marta Suplicy na reunião de sábado. Nesse texto, a prefeita de São Paulo analisa as causas de sua derrota e, entre outros fatores, inclui a performance do governo Lula.
"A avaliação do governo Lula passou a influenciar o contexto da disputa municipal, numa situação marcada pela deterioração do poder aquisitivo dos setores populares, incluídos os setores médios, além da tradicional influência conservadora própria à cidade de São Paulo."
O documento do Diretório Nacional, que é quase uma cópia da tese apresentada pela corrente Campo Majoritário, tem uma visão oposta à defendida por Marta. "O crescimento do PT, do ponto de vista político, expressa também uma vitória e o fortalecimento do governo Lula. Acrescente-se a isso que, de modo geral, os partidos da base aliada saíram fortalecidos do processo eleitoral", diz o texto aprovado ontem.
Marta, que reassumiu a função de vice-presidente nacional do PT, integra o Campo Majoritário, mas não participou da reunião para a elaboração da tese. O encontro ocorreu na sexta, em São Paulo e teve a participação do ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Carlos Zarattini, um dos coordenadores da campanha da prefeita e é membro do Diretório Nacional, esteve nessa reunião. No sábado, vários coordenadores da campanha à reeleição de Marta foram ao encontro, apesar de não o integrarem oficialmente.

Diferenças
As diferenças entre Marta e o Diretório Nacional na análise das eleições municipais manifestam-se, ainda, no trato das alianças. Enquanto a resolução afirma que "a política de alianças definida pelo Diretório Nacional se mostrou necessária e eficaz", Marta diz que "foram intervenções externas ao âmbito municipal e alheias a meu governo que levaram o PMDB a romper o acordo com o PT e demais forças aliadas no âmbito municipal".
Sem referir-se especificamente à prefeita de São Paulo, o texto do Diretório Nacional observa que "há de se assinalar, no entanto, que, em algumas circunstâncias, o sentido político e as implicações nacionais das alianças e mesmo sua natureza não foram assimilados pelo conjunto do partido".
Para um dos coordenadores da campanha de Marta, o texto do Diretório Nacional não atinge a prefeita, que fez um amplo acordo para o primeiro turno, incluindo partidos como PTB, PL, PTN, PC do B, PRTB e PSL.
José Genoino voltou a se negar a analisar das declarações de Marta. "O discurso dela foi uma intervenção da Marta Suplicy como integrante do Diretório Nacional." Ele frisou que a resolução não trata de nenhuma cidade especificamente. "O Diretório Nacional apenas faz indicações." Para ele, "o governo Lula teve uma posição equilibrada e positiva nas eleições municipais em todas as cidades".
Em São Paulo, o presidente teve participação destacada na campanha à reeleição de Marta. O caso mais polêmico foi a presença dele na inauguração de um trecho da av. Radial Leste, em setembro. Em razão de ter pedido votos à prefeita na ocasião, Lula foi condenado pela Justiça Eleitoral de São Paulo a pagar multa de R$ 50 mil.


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