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CELSO FURTADO - A DESPEDIDA
Cerca de cem pessoas foram à cerimônia em cemitério no Rio; Stedile e Suplicy pediram mudança na política econômica do governo federal
Sem Lula, Furtado tem enterro discreto
DA SUCURSAL DO RIO
DO ENVIADO AO RIO
O economista Celso Furtado foi
enterrado por volta do meio dia
de ontem no mausoléu da ABL
(Academia Brasileira de Letras)
no cemitério São João Batista numa cerimônia discreta, que reuniu cerca de cem pessoas, entre
amigos e políticos. O presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, cuja presença chegou a ser anunciada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), não compareceu nem mandou representante ao enterro.
A Secretaria de Imprensa da
Presidência da República afirmou
que Lula se pronunciou sobre a
morte por meio de nota oficial e
decretou três dias de luto. O ministro Jaques Wagner e senador
Aloizio Mercadante (SP) representaram o presidente no velório.
Em junho, Lula foi vaiado no velório do fundador do PDT, Leonel
Brizola. O presidente ficou menos
de cinco minutos na cerimônia.
Do governo federal, estavam
presentes o ministro Waldir Pires
(Controladoria Geral da União),
amigo de Furtado, e Bernardo
Appy, secretário-executivo do
Ministério da Fazenda, representando Antonio Palocci. A prefeita
Marta Suplicy representou o PT.
A jornalista Rosa Freire D'Aguiar, viúva de Furtado, disse que
a ausência de Lula não a magoou.
"Com sinceridade, não me importei com isso. Não fiquei [magoada] nem o Celso ficaria. Gostei
da declaração de Lula [em nota
oficial no sábado] e da do ministro José Dirceu [Casa Civil]."
Questionado sobre quem representava o governo no enterro,
Waldir Pires disse: "Todos nós".
Furtado, autor do clássico "Formação Econômica do Brasil",
morreu de infarto anteontem no
Rio, aos 84 anos.
Críticas ao governo
No velório, o coordenador nacional do MST João Pedro Stedile
e Suplicy pediram que suas idéias
sirvam como motivação para o
governo federal fazer mudanças
na política econômica. "Espero
que os economistas de plantão
honrem a memória de Furtado,
mudem a política para que ela
não seja só para beneficiar banqueiros e transnacionais, mas para revolver os problemas concretos do povo", disse Stedile.
Para Suplicy, era "extremamente saudável" a insatisfação de Furtado com a política econômica:
"Celso Furtado está aqui dizendo,
ainda com muita força, ao presidente Lula, ao ministro Palocci, a
todos os que o admiram: tratem
de promover o desenvolvimento,
tratem de combater a inflação,
mas com o crescimento da economia, com aumento de oportunidade de emprego, e fazendo o que
há anos ele vinha dizendo, que é
fazer a economia crescer e erradicar a pobreza simultaneamente".
O prefeito do Rio, Cesar Maia
(PFL), mencionou a dificuldade
de encontrar alternativas à política econômica. "[Nos anos 50 e 60]
tinha-se a certeza de que a América Latina tinha caminho próprio.
Esse ciclo se vai com Furtado num
momento difícil para as economias latino-americanas."
Também compareceram ao enterro os ex-presidentes do BNDES
Carlos Lessa e Antônio Barros de
Castro. Guido Mantega, atual presidente do banco, esteve no velório, mas não foi ao cemitério.
No velório, Lessa entregou à
viúva a bandeira nacional que recebera na sexta-feira em ato público de desagravo a sua demissão. O caixão foi coberto com ela e
deixou a sede da ABL às 11h10 em
carro aberto dos Bombeiros.
O padre e acadêmico Fernando
Ávila chorou ao fazer uma prece.
O presidente da Associação Nacional de Anistiados Políticos,
Aposentados e Pensionistas, Nilson Venâncio, cantou o Hino da
Independência e foi aplaudido. O
historiador José Murilo de Carvalho e o escritor João Ubaldo Ribeiro foram ao enterro. A economista Maria da Conceição Tavares,
que esteve no velório, não foi.
Ao final do velório, Marta irritou o presidente da ABL, Ivan
Junqueira, ao discursar em um
microfone, ao pé do caixão. Ele
pediu que as manifestações fossem deixadas para o momento do
sepultamento. A prefeita voltou
ao microfone e anunciou que a
partir de hoje a ponte do Morumbi, em São Paulo, vai se chamar
ponte Celso Furtado. Junqueira,
em seguida, disse baixo, a colegas,
que ali "não era lugar disso".
O registro de candidaturas para
a cadeira de Furtado na ABL começará a ser feito na quinta.
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