|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAMPO MINADO
Fazendeiro é suspeito do crime que deixou cinco mortos e 13 feridos em Felisburgo, no nordeste de Minas
PM prende suspeitos de matar sem-terra
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
A Polícia Militar prendeu, por
volta das 19h de anteontem, três
suspeitos de participação no ataque a um acampamento do MST
em Felisburgo (a 715 km de Belo
Horizonte), que deixou cinco
sem-terra mortos e 13 feridos.
Dos suspeitos, dois são ex-membros do acampamento dos
sem-terra -chamado Terra Prometida e localizado na fazenda
Nova Alegria, invadida em maio
de 2002 pelo MST- e um é suposto pistoleiro da Bahia. Segundo a PM de Almenara, dois presos
teriam sido infiltrados no movimento pelos responsáveis pela
chacina para obter informações.
O ataque ocorreu entre o final
da manhã e o início da tarde de
anteontem. Integrantes do acampamento relataram que cerca de
15 homens -alguns deles encapuzados- chegaram atirando e
ateando fogo, que destruiu 31 das
65 barracas.
Segundo o Incra, parte da fazenda, que já foi vistoriada, seria
composta por terras devolutas. O
governo de Minas disse que já iniciou o processo de legitimação da
propriedade, de cerca de 2.000
hectares.
Quatro sem-terra morreram
dentro do acampamento, que
abrigava 200 pessoas, e 13 foram
levados para hospitais. Quatro
pessoas, entre elas uma criança de
12 anos que está com uma bala
alojada no rosto, continuam internadas em observação.
Os suspeitos detidos foram
identificados pela PM como Francisco de Assis Rodrigues Oliveira,
o "Chicão", Admilson Rodrigues
Lima, o "Bila", e Milton Francisco
de Souza, o "Milton Pé de Foice".
Eles foram presos em Felisburgo
e, segundo o ministro Nilmário
Miranda (Secretaria Especial dos
Direitos Humanos), reconhecidos pelos sem-terra.
Nilmário, que esteve ontem na
área, disse que há suspeita do envolvimento do fazendeiro Adriano Chafik Lued nos crimes. "Parece que ele [Lued] não teve muito cuidado em ocultar sua suposta
participação."
O ministro enumerou cinco indícios de envolvimento de Lued,
que ainda não foi localizado pela
polícia: em julho, o sem-terra Miguel José dos Santos, morto no
ataque, havia feito representação
na polícia dizendo-se ameaçado
por Lued; alguns sem-terra identificaram o fazendeiro durante o
ataque; uma camionete Toyota,
semelhante a de Lued, teria sido
usada para transportar os pistoleiros; ele teria sido visto, na sexta-feira, comprando colchões em Felisburgo, supostamente para acomodar os pistoleiros; segundo os
sem-terra, um primo de Lued
chamado Calixto, que seria ex-policial civil de Itajuípe (BA), teria
comandado o ataque.
O fazendeiro, que é advogado e
mora em Itabuna (BA), não foi localizado ontem pela reportagem.
A mulher dele, que não quis se
identificar, disse à Folha que ele
viajou para a fazenda há uma semana e que ela acreditava que
ainda estava lá.
Segundo Nilmário Miranda, o
Ministério Público do Estado informou que há um inquérito policial em curso, aberto há dois anos,
que investiga supostas ameaças
aos sem-terra do acampamento.
Os corpos, que haviam sido levados ao IML de Teófilo Otoni,
devem ser enterrados hoje.
Colaboraram IURI DANTAS e SILVANA
DE FREITAS, da Sucursal de Brasília, e
ELVIRA LOBATO, da Sucursal do Rio
Texto Anterior: "Mengele era um monstro", afirma Sobel Próximo Texto: Via Campesina e MST protestam em estradas de Minas Índice
|