São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2004

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CAMPO MINADO

Fazendeiro é suspeito do crime que deixou cinco mortos e 13 feridos em Felisburgo, no nordeste de Minas

PM prende suspeitos de matar sem-terra

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

A Polícia Militar prendeu, por volta das 19h de anteontem, três suspeitos de participação no ataque a um acampamento do MST em Felisburgo (a 715 km de Belo Horizonte), que deixou cinco sem-terra mortos e 13 feridos.
Dos suspeitos, dois são ex-membros do acampamento dos sem-terra -chamado Terra Prometida e localizado na fazenda Nova Alegria, invadida em maio de 2002 pelo MST- e um é suposto pistoleiro da Bahia. Segundo a PM de Almenara, dois presos teriam sido infiltrados no movimento pelos responsáveis pela chacina para obter informações.
O ataque ocorreu entre o final da manhã e o início da tarde de anteontem. Integrantes do acampamento relataram que cerca de 15 homens -alguns deles encapuzados- chegaram atirando e ateando fogo, que destruiu 31 das 65 barracas.
Segundo o Incra, parte da fazenda, que já foi vistoriada, seria composta por terras devolutas. O governo de Minas disse que já iniciou o processo de legitimação da propriedade, de cerca de 2.000 hectares.
Quatro sem-terra morreram dentro do acampamento, que abrigava 200 pessoas, e 13 foram levados para hospitais. Quatro pessoas, entre elas uma criança de 12 anos que está com uma bala alojada no rosto, continuam internadas em observação.
Os suspeitos detidos foram identificados pela PM como Francisco de Assis Rodrigues Oliveira, o "Chicão", Admilson Rodrigues Lima, o "Bila", e Milton Francisco de Souza, o "Milton Pé de Foice". Eles foram presos em Felisburgo e, segundo o ministro Nilmário Miranda (Secretaria Especial dos Direitos Humanos), reconhecidos pelos sem-terra.
Nilmário, que esteve ontem na área, disse que há suspeita do envolvimento do fazendeiro Adriano Chafik Lued nos crimes. "Parece que ele [Lued] não teve muito cuidado em ocultar sua suposta participação."
O ministro enumerou cinco indícios de envolvimento de Lued, que ainda não foi localizado pela polícia: em julho, o sem-terra Miguel José dos Santos, morto no ataque, havia feito representação na polícia dizendo-se ameaçado por Lued; alguns sem-terra identificaram o fazendeiro durante o ataque; uma camionete Toyota, semelhante a de Lued, teria sido usada para transportar os pistoleiros; ele teria sido visto, na sexta-feira, comprando colchões em Felisburgo, supostamente para acomodar os pistoleiros; segundo os sem-terra, um primo de Lued chamado Calixto, que seria ex-policial civil de Itajuípe (BA), teria comandado o ataque.
O fazendeiro, que é advogado e mora em Itabuna (BA), não foi localizado ontem pela reportagem. A mulher dele, que não quis se identificar, disse à Folha que ele viajou para a fazenda há uma semana e que ela acreditava que ainda estava lá.
Segundo Nilmário Miranda, o Ministério Público do Estado informou que há um inquérito policial em curso, aberto há dois anos, que investiga supostas ameaças aos sem-terra do acampamento.
Os corpos, que haviam sido levados ao IML de Teófilo Otoni, devem ser enterrados hoje.


Colaboraram IURI DANTAS e SILVANA DE FREITAS, da Sucursal de Brasília, e ELVIRA LOBATO, da Sucursal do Rio

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