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JANIO DE FREITAS
O aeroporto de Lula
Lula está confuso, porque se dedicou à conquista do 2º mandato sem se dedicar ao que deveria ser sua execução
A AGÊNCIA Nacional de Aviação
Civil, que nos poupa com seu
apelido de Anac, é que está
preparando as relações políticas e a
montagem ministerial do segundo
mandato de Lula, assessorada por
algumas figuras de comando da Aeronáutica.
Se algo aí lhe soa estranho, tenha
paciência, mas é a única explicação
adequada que encontrei para a confusão de atos estapafúrdios e palavras desatinadas que se sucedem, a
começar do adiamento sugestivo do
novo ministério para as vizinhanças
do Carnaval.
Conforme as circunstâncias, Lula
encobre a razão do adiamento com
duas explicações, cujo maior mérito
é a perfeita igualdade da improcedência. A primeira é de que será
mais conveniente, na distribuição
de cargos às forças partidárias, escolher ministros depois da eleição para a presidência da Câmara. É um raciocínio novo, caso seja raciocínio.
Lula acha importante a permanência de Aldo Rebelo, sejam quais forem os candidatos que PMDB e PT
apresentem, como prometem.
Ministros com um pé já na calçada
nada valem nem nos seus gabinetes,
quanto mais no Congresso, sede nacional da esperteza. Mas desde sempre se viu o quanto ministros recentes, ou com boa caixa, podem influir
em eleições no Congresso, pela expectativa de retribuições suas no decorrer do governo.
Para manter Aldo Rebelo, e prevenir-se contra uma surpresa que nem
precisaria ser outro Severino Cavalcanti, o que convém a Lula é a nomeação do ministério no prazo normal, enquanto a protelação só estende as disputas e desentendimentos
que o perturbam tanto.
Na outra explicação, Lula diz que
aguarda a nova dose de propostas
para o crescimento econômico (a
primeira foi "insuficiente"), para então escolher os mais indicados a
aplicá-las. Se os ministros escolhidos tiverem qualidade para dar contribuições ao plano, terão chegado
tarde. Ou se limitam a cumprir a receita recebida ou os planos voltam a
ser elaborados, e trabalho e tempo
anteriores deram em desperdício
por conta do país.
O sensato tem sido, não só em planos e implementações governamentais, partir de objetivos claros e
montar equipes capazes de planejar
e executar o caminho até eles.
Assim podemos sair das explicações marotas para o que faz mais
sentido, na motivação do adiamento. É a soma de dois fatores que se
tornaram óbvios. Lula está confuso,
parece mesmo absolutamente confuso, porque se dedicou à conquista
do segundo mandato sem dedicar
sequer um minuto ao que deveria
ser a sua desejada execução. Não foi
só um programa, propriamente, que
faltou. Faltou tudo. Lula não tem
idéia do que fazer, apenas sente que
seu governo foi e é economicamente
vergonhoso. Desse sentimento dá
prova todos os dias, com o incansável palavrório agora voltado para "o
diferente" que será o segundo mandato, em relação ao primeiro.
Em tal situação, prevalece a dificuldade de Lula de tomar decisão. A
reforma ministerial que fez, de meio
de mandato, levou quase dez meses
para consumar-se. O novo ministério já está protelado de novembro
para fevereiro, sem previsão de que
lá fique completo. Nenhum ministro atual, talvez com duas exceções,
sabe se fica ou se vai. Parado até hoje, parado continuará o governo pelo
novo ano a dentro. Parado, mas em
plena balbúrdia, como os aeroportos.
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