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ELIO GASPARI
Lula dedica-se ao vídeo-governo
O lero-lero das reformas é um meio seguro para se subir na vida sem
fazer força, fazendo nada
O PROFESSOR Leôncio Martins
Rodrigues foi na mosca: "Político, quando não tem o que
fazer, defende a reforma política".
Político não tem o que fazer quando
seu mandato está no fim. Não conta
o que está fazendo quando tenta influir na formação de um novo governo. Em Brasília, quando o ano vai para o seu final, também não há o que
fazer. Juntaram-se as três condições: a legislatura agoniza, Nosso
Guia diverte-se armando uma equipe e o Natal vem aí. Diante disso, reforma política para a patuléia.
É fácil encontrar quem a defenda,
mas é difícil achar duas pessoas com
a mesma opinião. (Ou mesmo com
qualquer opinião que faça sentido e
que possa ser exposta ao público.)
Lula pensou em organizar uma cavalgada de governadores pela praça
dos Três Poderes, mas como já fez isso em 2003 e deu em nada, desistiu.
Quer unir o PMDB, como quiseram
FFHH, Itamar, Collor e Sarney. Todos conseguiram algo que lhes pareceu união, mas a conta ficou para a
Viúva. Por falta do que fazer, anunciou que vai conversar com os quatro ex-presidentes. Primeiro falou-se que ouviria conselhos, depois torturaram-se as palavras e apareceu a
idéia de reunir um conselho. Seria o
cenáculo dos malditos, pois a maioria deles já disse do outro coisas que
não se repete em casa de família.
(Sobretudo Lula.) A idéia de buscar
as opiniões de pessoas respeitadas
pelo presidente é velha e boa. Ele pode chamar quem quiser, e cada um
dos seus antecessores tem a obrigação de ir, mas reuni-los como se fossem princesas da Festa da Uva é levar longe demais a opção preferencial pelo vídeo-governo. Desse jeito,
acabarão patinando no Faustão.
No entardecer da ditadura o general Golbery do Couto e Silva costumava brincar: "Você pode ir para a
rodoviária e correr os guichês pedindo um desconto na passagem. É difícil, mas é possível ser atendido. Mesmo assim, de uma coisa você não se
livra: tem que dizer para onde quer
ir".
Para que se tenha uma idéia da
persistência do lero-lero reformista,
vale lembrar que a manifestação de
apoio ao presidente João Goulart,
realizada no dia 13 de março de 1964
(uma sexta-feira), chamava-se Comício das Reformas. A embromatina
reformista é um pretexto dos governantes, partidos e coligações interessadas em evitar o duro serviço de
governar. É como o chefe de seção
que evita o expediente e planeja a reforma do serviço. Em geral, trata-se
do velho e bom enrolador.
Governar, por exemplo, seria algo
próximo de pedir aos doutores do
ministério e da Infraero que, por caridade, parassem de dizer tolices. Ou
avisá-los de que há 2006 anos as festas de Natal estão marcadas para o
dia 24 de dezembro.
Desde a noite de sua reeleição, Lula não tem idéia do que deverá fazer
para cumprir o que prometeu: desenvolvimento econômico. Sabe
que, enquanto estiver amarrado ao
dólar barato e aos juros altos do comissariado da banca, tudo o que tem
a oferecer será um pouco mais da
mesma coisa. Nosso Guia diz que "as
condições estão dadas" para que haja progresso. A frase não quer dizer
nada e, ainda assim, vem sendo repetida desde 1995. Sua estagnação é
prima da ruína tucana.
Como o único avião que sai na hora (com deslumbrados convivas) é o
AeroLula, não pode haver outro tema relevante: a reforma política.
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