São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 2006

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ELIO GASPARI

Lula dedica-se ao vídeo-governo

O lero-lero das reformas é um meio seguro para se subir na vida sem fazer força, fazendo nada

O PROFESSOR Leôncio Martins Rodrigues foi na mosca: "Político, quando não tem o que fazer, defende a reforma política". Político não tem o que fazer quando seu mandato está no fim. Não conta o que está fazendo quando tenta influir na formação de um novo governo. Em Brasília, quando o ano vai para o seu final, também não há o que fazer. Juntaram-se as três condições: a legislatura agoniza, Nosso Guia diverte-se armando uma equipe e o Natal vem aí. Diante disso, reforma política para a patuléia.
É fácil encontrar quem a defenda, mas é difícil achar duas pessoas com a mesma opinião. (Ou mesmo com qualquer opinião que faça sentido e que possa ser exposta ao público.) Lula pensou em organizar uma cavalgada de governadores pela praça dos Três Poderes, mas como já fez isso em 2003 e deu em nada, desistiu. Quer unir o PMDB, como quiseram FFHH, Itamar, Collor e Sarney. Todos conseguiram algo que lhes pareceu união, mas a conta ficou para a Viúva. Por falta do que fazer, anunciou que vai conversar com os quatro ex-presidentes. Primeiro falou-se que ouviria conselhos, depois torturaram-se as palavras e apareceu a idéia de reunir um conselho. Seria o cenáculo dos malditos, pois a maioria deles já disse do outro coisas que não se repete em casa de família. (Sobretudo Lula.) A idéia de buscar as opiniões de pessoas respeitadas pelo presidente é velha e boa. Ele pode chamar quem quiser, e cada um dos seus antecessores tem a obrigação de ir, mas reuni-los como se fossem princesas da Festa da Uva é levar longe demais a opção preferencial pelo vídeo-governo. Desse jeito, acabarão patinando no Faustão.
No entardecer da ditadura o general Golbery do Couto e Silva costumava brincar: "Você pode ir para a rodoviária e correr os guichês pedindo um desconto na passagem. É difícil, mas é possível ser atendido. Mesmo assim, de uma coisa você não se livra: tem que dizer para onde quer ir".
Para que se tenha uma idéia da persistência do lero-lero reformista, vale lembrar que a manifestação de apoio ao presidente João Goulart, realizada no dia 13 de março de 1964 (uma sexta-feira), chamava-se Comício das Reformas. A embromatina reformista é um pretexto dos governantes, partidos e coligações interessadas em evitar o duro serviço de governar. É como o chefe de seção que evita o expediente e planeja a reforma do serviço. Em geral, trata-se do velho e bom enrolador.
Governar, por exemplo, seria algo próximo de pedir aos doutores do ministério e da Infraero que, por caridade, parassem de dizer tolices. Ou avisá-los de que há 2006 anos as festas de Natal estão marcadas para o dia 24 de dezembro.
Desde a noite de sua reeleição, Lula não tem idéia do que deverá fazer para cumprir o que prometeu: desenvolvimento econômico. Sabe que, enquanto estiver amarrado ao dólar barato e aos juros altos do comissariado da banca, tudo o que tem a oferecer será um pouco mais da mesma coisa. Nosso Guia diz que "as condições estão dadas" para que haja progresso. A frase não quer dizer nada e, ainda assim, vem sendo repetida desde 1995. Sua estagnação é prima da ruína tucana.
Como o único avião que sai na hora (com deslumbrados convivas) é o AeroLula, não pode haver outro tema relevante: a reforma política.


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