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Contratados no CE têm elo com políticos
Parte dos comissionados na Assembléia Legislativa do Estado é da terra natal do presidente da Casa, Domingos Filho
Assembléia admite que
contratou 921 sem concurso
público, mas levantamento
da reportagem mostra que
o número chega a 1.575
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Entre as pessoas agraciadas
com cargos públicos -sem
concurso- na Assembléia Legislativa do Ceará neste ano,
muitas são da terra natal do
presidente da Casa, Domingos
Filho (PMDB), ou de municípios vizinhos, oriundas de famílias aliadas politicamente ao
grupo do deputado.
Essas pessoas são alocadas
em diversos grupos e subgrupos de trabalho, criados só por
atos da presidência, e com salários de até R$ 2.500, como revelou a Folha ontem. A Assembléia admite que 921 pessoas
foram contratadas dessa forma
neste ano, com custo de R$ 926
mil mensais, mas levantamento da reportagem indica que o
número de contratados chega a
1.575, a R$ 2,2 milhões ao mês.
Entre os contemplados com
cargos, de origem de Tauá (350
km de Fortaleza) -terra natal
de Domingos Filho, e onde sua
mulher, Patrícia Aguiar
(PMDB), é prefeita- há pessoas das famílias Caracas, Cavalcante Mota, Feitosa, Castelo, Coutinho e Aguiar.
Há um caso em que a mãe,
Deijanira Alves Caracas, e duas
filhas, Myllena Maria Caracas e
Antônia Ladymilla Caracas, estão empregadas. A mãe foi alocada no setor que promove "a
pesquisa e a atualização da legislação do Estado do Ceará",
enquanto uma das filhas está
no setor de administração e finanças e a outra no de "análise
de dados relativos às áreas em
processo de desertificação do
sertão central do Estado".
Deijanira, em seu perfil no
Orkut (rede de relacionamentos virtuais), integra uma comunidade chamada "Dep. Domingos Filho", que o homenageia, com tópicos de discussão
como "por que o Domingos é
bom político".
Há outros contemplados
com cargos na Assembléia que
também participam da comunidade, como a estudante de
medicina Ivna Mota, que ocupa
um cargo de "assessoramento
do conselho de estudos avançados da Assembléia", e o estudante de agronomia Cícero
Glauberick Castelo, que está na
área de "apoio à atividade legislativa". A reportagem tentou
falar com todos eles, mas não
conseguiu localizá-los.
Entre os Cavalcante Mota,
dez pessoas da lista, há vínculos com o presidente da Câmara de Tauá, Agenor Mota, que é
pré-candidato a prefeito, na sucessão de Patrícia, que está em
seu segundo mandato.
A Folha tentou, desde segunda, conhecer os locais de
trabalho de funcionários. Primeiro, não houve resposta da
assessoria da presidência da
Casa; depois, a resposta foi de
que as pessoas, mesmo as que
desempenham funções iguais,
segundo os atos de nomeação,
poderiam estar em locais diferentes do prédio, por não haver
um espaço físico específico para cada grupo ou subgrupo.
Para o primeiro vice-presidente da Assembléia, Gony Arruda (PSDB), é "normal" a contratação sem concurso. Ele disse que todas são contratadas só
por seu mérito, não pela família de origem ou apoio político.
Segundo Arruda, todas as nomeações têm de passar pela
mesa diretora da Assembléia e
há limite. "São 21 grupos, cada
um com até três subgrupos."
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