São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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Contratados no CE têm elo com políticos

Parte dos comissionados na Assembléia Legislativa do Estado é da terra natal do presidente da Casa, Domingos Filho

Assembléia admite que contratou 921 sem concurso público, mas levantamento da reportagem mostra que o número chega a 1.575

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Entre as pessoas agraciadas com cargos públicos -sem concurso- na Assembléia Legislativa do Ceará neste ano, muitas são da terra natal do presidente da Casa, Domingos Filho (PMDB), ou de municípios vizinhos, oriundas de famílias aliadas politicamente ao grupo do deputado.
Essas pessoas são alocadas em diversos grupos e subgrupos de trabalho, criados só por atos da presidência, e com salários de até R$ 2.500, como revelou a Folha ontem. A Assembléia admite que 921 pessoas foram contratadas dessa forma neste ano, com custo de R$ 926 mil mensais, mas levantamento da reportagem indica que o número de contratados chega a 1.575, a R$ 2,2 milhões ao mês.
Entre os contemplados com cargos, de origem de Tauá (350 km de Fortaleza) -terra natal de Domingos Filho, e onde sua mulher, Patrícia Aguiar (PMDB), é prefeita- há pessoas das famílias Caracas, Cavalcante Mota, Feitosa, Castelo, Coutinho e Aguiar.
Há um caso em que a mãe, Deijanira Alves Caracas, e duas filhas, Myllena Maria Caracas e Antônia Ladymilla Caracas, estão empregadas. A mãe foi alocada no setor que promove "a pesquisa e a atualização da legislação do Estado do Ceará", enquanto uma das filhas está no setor de administração e finanças e a outra no de "análise de dados relativos às áreas em processo de desertificação do sertão central do Estado".
Deijanira, em seu perfil no Orkut (rede de relacionamentos virtuais), integra uma comunidade chamada "Dep. Domingos Filho", que o homenageia, com tópicos de discussão como "por que o Domingos é bom político".
Há outros contemplados com cargos na Assembléia que também participam da comunidade, como a estudante de medicina Ivna Mota, que ocupa um cargo de "assessoramento do conselho de estudos avançados da Assembléia", e o estudante de agronomia Cícero Glauberick Castelo, que está na área de "apoio à atividade legislativa". A reportagem tentou falar com todos eles, mas não conseguiu localizá-los.
Entre os Cavalcante Mota, dez pessoas da lista, há vínculos com o presidente da Câmara de Tauá, Agenor Mota, que é pré-candidato a prefeito, na sucessão de Patrícia, que está em seu segundo mandato.
A Folha tentou, desde segunda, conhecer os locais de trabalho de funcionários. Primeiro, não houve resposta da assessoria da presidência da Casa; depois, a resposta foi de que as pessoas, mesmo as que desempenham funções iguais, segundo os atos de nomeação, poderiam estar em locais diferentes do prédio, por não haver um espaço físico específico para cada grupo ou subgrupo.
Para o primeiro vice-presidente da Assembléia, Gony Arruda (PSDB), é "normal" a contratação sem concurso. Ele disse que todas são contratadas só por seu mérito, não pela família de origem ou apoio político. Segundo Arruda, todas as nomeações têm de passar pela mesa diretora da Assembléia e há limite. "São 21 grupos, cada um com até três subgrupos."


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