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Novo relatório da PF tira foco de grampos
Delegado sustenta que o banqueiro Daniel Dantas lesou os fundos de pensão dos quais era sócio por meio de fraudes contábeis
Opportunity é acusado de gestão fraudulenta, desvio de verbas, pagamentos ilegais a Marcos Valério, evasão e lavagem de divisas
FLÁVIO FERREIRA
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O novo relatório parcial da
Polícia Federal contra o banqueiro Daniel Dantas -investigado por supostos crimes financeiros- tira o foco da escuta telefônica e se concentra em
documentos e testemunhos.
O material, de 242 páginas,
acusa o Banco Opportunity, de
Dantas, de ter cometido os seguintes crimes: gestão fraudulenta de um consórcio com fundo de pensões, desvio de verba
da Brasil Telecom, pagamentos
ilegais a Marcos Valério (apontado como o operador do mensalão), além da prática de evasão e lavagem de divisas.
A validade das escutas foi
questionada pela defesa de
Dantas, que aponta uso ilegal
de agentes da Abin (Agência
Brasileira de Inteligência) no
caso e defende a anulação do
inquérito. O Ministério Público
Federal discorda e diz que a investigação teve ciência judicial.
O relatório entregue pela PF
há uma semana foi assinado pelo delegado Ricardo Saadi, que
substituiu Protógenes Queiroz,
afastado pela cúpula da polícia
por suposta insubordinação.
No início do documento, Saadi diz: "Com o somatório do já
realizado, pudemos constatar
que Daniel Dantas lidera uma
organização criminosa".
O policial sustenta que, nos
anos 90, durante a privatização
de empresas de telefonia, Dantas se aliou aos fundos de pensão Previ, Petros e Funcef e
comprou várias teles, incluindo
a Brasil Telecom (BrT), que
passaram a ser usadas em benefício do Opportunity, lesando os cotistas dos fundos.
Segundo o relatório, os prejuízos foram causados por fraudes contábeis, que fizeram
"com que os fundos de pensão
pagassem ao Opportunity uma
taxa de administração maior do
que a devida" e pelo desvio de
recurso das teles.
As supostas fraudes apontadas incluem o uso de recursos
da BrT para pagar altos salários
e bônus para funcionários do
Opportunity, para locar e reformar escritório utilizado pelo
banco (foram gastos cerca de
R$ 2 milhões) e para adquirir
aeronaves a serviço de Dantas.
Em relação aos funcionários,
o policial destaca o caso da diretora jurídica do Opportunity,
Danielle Silbergleid Ninio, que
recebeu da BrT, "por um serviço não prestado", cerca de R$ 2
milhões em dois anos e meio.
No relatório, foram citados
documentos do Banco Central
e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), auditoria da
atual direção da BrT e relatório
da CPI dos Correios.
Do documento da CPI, a PF
destacou a relação do banqueiro com Marcos Valério, suposto operador do mensalão e que
está preso por conta de outro
inquérito -a tele repassou ao
publicitário cerca de R$ 4,7 milhões em contratos considerados inflados.
Segundo Saadi, "a fim de conseguir seus objetivos, a organização criminosa liderada por
Dantas usa pessoas influentes,
os chamados lobistas, bem como procura manipular notícias
e opiniões da imprensa".
Entre os "possíveis lobistas
utilizados pelos criminosos", o
policial cita o ex-deputado federal e advogado Luiz Eduardo
Greenhalgh, que negou ter praticado qualquer ato ilegal.
Sobre a imprensa, Saadi afirma que se aprofundará nessa
questão no relatório final.
A PF informou que o ministro Roberto Mangabeira Unger
(Assuntos Estratégicos) trabalhou como consultor da BrT a
partir de 2003, mas que uma
auditoria da atual direção não
conseguiu localizar nenhum
trabalho produzido por ele.
O ministro classificou como
"ridículo" o fato de ele ter sido
incluído no relatório. "No nosso país todo mundo diz o que
quer e não acontece nada", diz.
A PF ouviu doleiros, funcionários do Banco Opportunity e
presidentes dos fundos.
O documento descreve, com
complexas operações, esquemas de envio ilegal de verba para o exterior e lavagem de dinheiro por meio de fazendas e
de gados e da exploração de minérios e de terrenos.
O Ministério Público Federal
irá devolver o relatório parcial à
Polícia Federal, para que aprofunde a investigação.
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