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Caixa-preta foi criada por Aécio Neves em 2001
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A verba indenizatória é
criação de Aécio Neves, tucano que hoje ocupa o cargo de
governador de Minas Gerais.
Quando era presidente da
Câmara, há quase uma década, encontrou uma forma engenhosa de dar aumento de
salário aos deputados sem ficar com o desgaste por conta
desse ato: inventou um benefício quase secreto e indireto.
Em 5 de abril de 2001, Aécio assinou ato criando uma
verba indenizatória mensal
de até R$ 7.000 por mês. O
uso desse dinheiro era flexível, bastando apresentar
uma nota fiscal e alegar que a
despesa era relacionada "ao
exercício do mandato".
O sucesso da ideia de Aécio
foi tamanho que o artifício
foi seguido pelo Senado, em
30 de janeiro de 2003, sob a
presidência do senador Ramez Tebet (PMDB).
A Folha tentou em várias
oportunidades ter acesso às
notas fiscais de deputados e
de senadores, mas só teve sucesso agora. Em dezembro
de 2003, o Supremo Tribunal Federal chegou a tomar
uma decisão a favor do jornal, mas o então presidente
da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), recorreu e conseguiu manter os documentos em sigilo. O episódio serviu para que ao menos os valores gerais dos gastos de cada deputado passassem a ser
apresentados na internet.
Em janeiro de 2004 já foi
possível saber que a Câmara
havia reembolsado R$ 3 milhões de verba indenizatória
aos deputados. Desse total,
R$ 1,38 milhão foi por conta
de despesas com combustível e lubrificantes. Nunca se
soube em quais postos de gasolina cada congressista
abastecia, pois as notas eram
mantidas em segredo.
No início deste ano, o deputado Edmar Moreira, hoje
no PR, mas à época no DEM,
foi acusado de usar parte da
sua verba indenizatória para
pagar serviços de segurança
contratados de empresas nas
quais ele aparecia como proprietário. Um processo foi
aberto. Constatou-se a veracidade da acusação, mas Moreira foi absolvido sob o argumento de que não havia
regras claras impedindo
congressistas de usarem as
verbas para contratar serviços nas próprias empresas.
Apesar da absolvição, houve um aumento da transparência: Câmara e Senado
passaram, desde abril, a divulgar o valor detalhado das
despesas de cada deputado
-com os números das notas
fiscais apresentadas, CNPJ,
nome do beneficiário e valor.
Apareceu então mais um
argumento a favor da liberação de tudo: se as notas novas estão na internet, por
analogia, as antigas também
devem ser públicas. Os dados usados na reportagem de
hoje na Folha, porém, representam só uma fração do total ainda em segredo. No Senado, nada foi divulgado.
(FERNANDO RODRIGUES)
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